O Paquistão apelidou de “ato flagrante de guerra” o ataque indiano durante a noite de terça para quarta-feira que não se limitou a atingir alvos na Caxemira paquistanesa (como no último momento de tensão, em 2019), prometendo retaliar “no momento, local e forma que escolher”. Nova Deli alegou ter visado nove “infraestruturas terroristas”, em resposta ao ataque que matou turistas na Caxemira indiana a 22 de abril, mas Islamabad diz que pelo menos 31 civis morreram, incluindo crianças. O mundo apela à calma entre as duas potências nucleares. O ataque indiano, que durou menos de meia hora, era esperado desde que o primeiro-ministro, Narendra Modi, prometeu vingar a morte dos turistas em Pahalgam. E acusou os paquistaneses de apoiarem os grupos terroristas responsáveis. Islamabad negou sempre estas acusações, mas o povo indiano pedia uma resposta forte do governo.O nome da ação, Operação Sindoor, escolhido pelo próprio Modi, foi visto como uma mensagem para as famílias dessas 26 vítimas - 25 turistas indianos e o guia nepalês, todos homens, que foram separados das mulheres e executados pelos terroristas que continuam em fuga. Sindoor é o pó vermelho ou laranja que é usado pelas mulheres hindus casadas no risco do cabelo, podendo também ser usado como cosmético num ponto na testa (bindi). No ataque, que as autoridades indianas dizem ter sido “medido, responsável e desenhado para não escalar” o conflito, foram atingidos nove alvos com 24 mísseis lançados a partir do território indiano. Entre eles o reduto em Bhawalpur do grupo terrorista Jaish-e-Mohammad (cujo líder, Masood Azhar, reconheceu ter perdido dez familiares) e uma base em Muridke do Lashkar-e-Taiba. Os dois grupos estiveram envolvidos nos piores ataques contra a Índia. “Matámos só aqueles que mataram os nossos inocentes”, afirmou o ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh. Mas Bhawalpur e Muridke são duas localidades que ficam no Paquistão (mais precisamente na província do Punjab), fora da região da Caxemira controlada por Islamabad, onde no passado este tipo de ações militares estiveram confinadas. Para os analistas, Nova Deli está a subir a parada, deixando claro que leva a situação a sério, mas este gesto pode também ser lido como uma escalada do conflito. Em 2019, quando 40 militares indianos foram mortos num ataque suicida, a Índia respondeu atingido um único alvo na Caxemira paquistanesa. Então, tal como é esperado que aconteça agora, o Paquistão respondeu, tendo havido um combate aéreo entre os caças dos dois países e um piloto indiano sido capturado. No final, após duas dezenas de mortos civis de ambos os lados, o piloto foi libertado e a situação acalmou. A dúvida é saber o que acontecerá agora..Caxemira no centro da tensão entre Índia e Paquistão. O que está em jogo entre as duas potências nucleares? .Logo depois do ataque indiano, intensificaram-se as trocas de artilharia pesada junto da Linha de Controlo, a fronteira que divide a disputada Caxemira. As trocas de tiros têm sido quase diárias desde o atentado contra os turistas. Mas, desta vez, segundo as autoridades indianas, pelo menos 12 civis morreram, incluindo uma mulher e três filhos. Do lado paquistanês, pelo menos cinco pessoas também terão morrido. E esta ainda não é a resposta de Islamabad, que acusou a Índia de “acender o inferno”. Os paquistaneses alegam que os ataques “não provocados e injustificados” atingiram inocentes, negando a existência de campos terroristas nos locais atingidos por Nova Deli. O chefe do governo paquistanês, Shehbaz Sharif, falou do “falso pretexto da presença de campos terroristas imaginários” e deixou claro que a Índia “cometeu um erro”. O executivo deu luz verde aos militares para defenderem a soberania do Paquistão e atacarem “no momento, local e forma que escolherem”. O Paquistão alega que 80 caças indianos participaram no ataque, tendo “exercido contenção” ao abater apenas cinco. Nova Deli não confirma que tenha havido baixas entre os seus militares, mas os destroços de pelo menos três caças terão caído na Caxemira administrada pela Índia e no seu estado do Punjab. Entretan to os indianos preparam-se para a retaliação, tendo ontem realizado simulacros por todo o país que testaram sirenes de alerta, processos para a evacuação de edifícios e preparação de abrigos.Apelos internacionaisA comunidade internacional, que nas últimas semanas já tinha pedido calma, reiterou os apelos à contenção. O presidente dos EUA, Donald Trump, disse esperar que a tensão “acabe rapidamente”, e o secretário de Estado, Marco Rubio, falou com ambos os lados. Nova Deli é uma importante parceira para Washington, que quer travar a influência de Pequim, enquanto Islamabad continua a ser uma aliada.Os chineses, os principais fornecedores de armas do Paquistão, “lamentaram” o ataque indiano e expressaram “preocupação” pelo escalar da tensão. “A Índia e o Paquistão são vizinho que não podem mudar-se e são ambos vizinhos também da China”, indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros, reiterando que Pequim se opõe a todas as formas de terrorismo.