Mais de 150 líderes mundiais marcam presença e discursam na semana de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas que começa esta segunda-feira em Nova Iorque. São muitos os temas que se abrigam no chapéu escolhido pela presidente daquele órgão, Annalena Baerbock - “Melhores juntos: 80 anos e mais pela paz, desenvolvimento e direitos humanos” -, mas a questão da Palestina é aquela que mais atenção gera, até porque se realiza uma cimeira na altura em que vários países, onde Portugal se inclui, reconhecem o Estado da Palestina. .Começa Assembleia Geral da ONU num mundo com mais conflitos e longe dos objetivos para 2030.Na quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU cumpriu a sua 10 000.ª mil reunião e, de novo, os Estados Unidos vetaram um projeto de resolução para exigir três ações imediatas: um cessar-fogo na Faixa de Gaza, a libertação dos reféns cativos pelo Hamas e a retirada de todas as restrições por parte de Israel à entrada de ajuda humanitária no enclave. “Isto não é apenas um lapso processual, mas uma profunda falha moral”, disse o embaixador da Somália na ONU. “No momento em que medimos o valor da vida humana pela nacionalidade, etnia ou circunstâncias, perdemos a própria base sobre a qual esta instituição foi construída”, disse Abukar Osman. Já o observador permanente do Estado da Palestina mostrou alguma esperança com o voto favorável dos restantes 14 membros do Conselho de Segurança e com a reunião a realizar hoje. “Isto não é o fim”, disse Riyad Mansour. “A Palestina estará presente: será o maior elefante na cidade de Nova Iorque.” O diplomata fazia também referência ao facto de os Estados Unidos não terem emitido vistos à delegação da Autoridade Palestiniana, presidente Mahmoud Abbas incluído. A ONU autorizou a participação de Abbas em videoconferência. O Brasil também foi alvo da administração Trump: o visto a elementos da delegação do Brasil só foi concedido na quinta-feira - e o ministro da Saúde Alexandre Padilha, sob sanções por ter assinado um acordo de contratação de médicos cubanos, ficou circunscrito a deslocar-se do aeroporto para o hotel e para a sede da ONU, pelo que desistiu da viagem.O presidente francês Emmanuel Macron e o príncipe saudita Mohammed bin Salman presidem nesta segunda-feira à “Conferência internacional de alto nível para a solução pacífica da questão da Palestina e a aplicação da solução de dois estados”, cuja primeira parte se realizou no mesmo local, em julho. Então, 17 países, a União Europeia e a Liga Árabe fizeram um apelo para o Hamas pôr fim ao domínio em Gaza e se desarmar. “Pela primeira vez, os países árabes e aqueles do Médio Oriente condenam o Hamas, condenam o 7 de outubro, pedem o desarmamento do Hamas, pedem a sua exclusão da governação palestiniana e expressam claramente a sua intenção de normalizar relações com Israel no futuro”, resumiu o chefe da diplomacia francesa Jean-Noël Barrot. Portugal, Reino Unido, Canadá e Austrália avançaram no domingo com o reconhecimento do Estado da Palestina; França, Bélgica, Luxemburgo, Andorra, San Marino e Malta farão o mesmo nesta segunda-feira. .Esta iniciativa teve de permeio nova votação na Assembleia Geral da ONU. No dia 12, as conclusões da conferência de julho - a chamada Declaração de Nova Iorque - foi adotada com 142 votos favoráveis e 10 contra. Entre estes últimos, Israel, EUA e, na UE, a Hungria. O texto favorável aos dois Estados não só condena o Hamas à irrelevância e exige a libertação dos reféns, mas também prevê uma Palestina “desmilitarizada” e com uma missão internacional de estabilização. Mas o governo de Benjamin Netanyahu alega que o reconhecimento da Palestina é “um prémio” para o Hamas. “Quando os terroristas são aqueles que aplaudem, não se está a promover a paz, está a promover-se o terror", disse o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon. Indiferente às iniciativas diplomáticas, o governo de coligação de direita e extrema-direita israelita avançou com uma incursão na cidade de Gaza na terça-feira. A esse propósito, o secretário-geral da ONU disse que Israel “não está aberto a negociações sérias”. E, em entrevista à AFP, António Guterres disse que a comunidade internacional não deveria “sentir-se intimidada pelo risco de retaliações, porque com ou sem isso essas ações continuarão e, pelo menos, haverá uma oportunidade de mobilizar a comunidade internacional para pressioná-los a que isso não aconteça”. Há notícias de que Telavive prepara medidas retaliatórias como a anexação da Cisjordânia, ou tomar as propriedades francesas em Jerusalém Oriental..7Vetos dos EUA a propostas de resolução do Conselho de Segurança sobre Gaza desde a resposta de Israel ao ataque terrorista de 7 de outubro de 2023..Há muito mais a acontecer em Nova Iorque, com especial destaque para os encontros bilaterais. Para a Ucrânia — cuja guerra será motivo de debate no próximo Conselho de Segurança, na terça-feira —, é um palco privilegiado para multiplicar esforços diplomáticos. Além de uma esperada reunião entre os líderes Volodymyr Zelensky e Donald Trump, e outra entre as primeiras-damas, a delegação ucraniana irá presidir a encontros sobre a devolução das crianças levadas para a Rússia ou sobre a Crimeia, entre reuniões bilaterais. Outro país que aposta na semana de alto nível é a Síria. O seu líder, Ahmed al-Sharaa, um guerrilheiro islamista convertido em homem de Estado, estreia-se nestas andanças apesar de o seu grupo armado se encontrar sob sanções da ONU. Damasco procura apoios para um país destruído e que, desde a queda de Assad em dezembro, assistiu ao regresso de 1,2 milhões de refugiados e à deslocação interna de 1,7 milhões de pessoas. ."Hoje, oficialmente, Portugal reconhece o Estado palestiniano". Paulo Rangel fala em "em via para paz justa"