Segurança reforçada em Washington. Biden pede que ataque ao Capitólio não seja esquecido .A poucos dias de deixar a Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos fez na quarta-feira à noite o seu discurso de despedida a partir da Sala Oval. Mas em vez de se dedicar apenas a fazer um balanço do seu mandato, e também dos seus 50 anos de vida política, Joe Biden aproveitou para deixar uns recados sobre o futuro do país.“O nosso sistema de separação de poderes, freios e contrapesos, pode não ser perfeito, mas tem mantido a nossa democracia por quase 250 anos, mais do que qualquer outra nação na História que tentou uma experiência tão ousada”, começou por dizer Biden, de 82 anos, tendo pedido aos norte-americanos para se unirem.E depois vieram os avisos, começando por um “complexo industrial tecnológico” que está a trazer uma “avalanche de desinformação, permitindo o abuso de poder”, lembrando ainda que a imprensa livre se está a “desmoronar”.O democrata alertou também para a existência de uma “perigosa concentração de poder no punhado de pessoas ultrarricas” que pode ter “consequências perigosas” se não for controlado. “Hoje, uma oligarquia está a ganhar forma na América, de extrema riqueza, poder e influência, que ameaça literalmente toda a nossa democracia, os nossos direitos e liberdades básicas, e uma hipótese justa para todos progredirem”, declarou. Avisos que surgem num contexto em que o homem mais rico do mundo Elon Musk, é um dos mais próximos aliados de Donald Trump, usando a sua rede social X em proveito de ambos, mas também Mark Zuckerberg, o dono do Facebook, que anunciou que esta rede social iria deixar de fazer verificação de factos, ou Jeff Bezos, proprietário da Amazon e do The Washington Post, jornal que nestas últimas eleições, e pela primeira vez em 36 anos, não apoiou qualquer candidato presidencial, uma decisão polémica e que foi vista como uma forma de o milionário satisfazer o republicano.E anunciou ainda uma das suas propostas mais ambiciosas: uma emenda constitucional “para que fique claro que nenhum presidente está imune aos crimes que comete enquanto está em funções”, numa referência a Trump, que, no verão, viu os juízes do Supremo decidirem que os antigos presidentes têm ampla imunidade para atos oficiais enquanto estão na Casa Branca.Sobre o seu legado e as conquistas da sua Administração nos últimos quatro anos, Joe Biden - que desejou sorte à equipa do seu sucessor, Donald Trump - referiu que “levará tempo para se sentir o impacto total do que fizemos juntos. Mas as sementes estão plantadas e elas crescerão e florescerão por décadas”.O presidente norte-americano apelou para a reconstrução de uma “classe média mais alargada”, afirmando que foi exatamente isso que fez durante o seu mandato, chamando ainda a atenção para feitos que alcançou como investimentos recorde para o combate às alterações climáticas, a redução dos preços de medicamentos para idosos, a aprovação de leis de segurança de armas ou a ajuda direcionada a veteranos. Ao nível da política externa, Joe Biden salientou coisas como o “fortalecimento da NATO” ou o forte apoio à Ucrânia.Para o senador Chris Coons, um aliado de longa data do presidente cessante, para a História ficará o facto de Joe Biden ter enfrentado uma crise económica, uma crise de saúde pública com a pandemia de covid-19 e uma crise democrática na sequência do ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021. “O país estava no auge da crise. A recuperação daquela pandemia foi a sua maior conquista”, defendeu o legislador democrata.“A vocês, o povo americano, após 50 anos de serviço público, dou-vos a minha palavra. Ainda acredito na ideia que esta nação defende: uma nação onde a força das nossas instituições e o caráter de nosso povo importam e devem perdurar”, defendeu, acrescentando que “agora é a vez de vocês ficarem de guarda. Que todos vocês sejam os guardiões da chama. Que mantenham a fé”. “Obrigado por esta grande honra”, concluiu Biden, abraçando em seguida a mulher, Jill, e depois a vice-presidente, Kamala Harris.“Tudo o que Joe Biden queria era ser lembrado pelas grandes coisas que fez por este país e, pelo menos no curto prazo, elas foram eclipsadas pela sua má decisão de concorrer”, disse à Reuters David Axelrod, antigo conselheiro de Barack Obama. “Ele tornou-se num presidente histórico quando derrotou Trump. Então, obviamente, o facto de Trump estar a ressurgir e a regressar ao poder, mais poderoso do que era quando saiu, é uma conclusão infeliz para a História”.ana.meireles@dn.pt