“O primeiro-ministro Orbán não recebeu qualquer mandato do Conselho da União Europeia para visitar Tbilissi” e esta visita “tem lugar apenas no quadro das relações bilaterais entre a Hungria e a Geórgia”, deixou claro esta segunda-feira a porta-voz da UE para os Negócios Estrangeiros, Nabila Massrali, ao comentar a ida do primeiro-ministro húngaro à Geórgia dois dias depois das eleições legislativas do país, nas quais o partido pró-russo Sonho Georgiano foi declarado vencedor, resultado contestado pela oposição, Bruxelas e observadores internacionais. À chegada a Tbilissi , Orbán encontrou milhares de pessoas nas ruas, em protestos convocados pela oposição pró-Ocidente..Logo no sábado, mesmo antes dos primeiros resultados oficiais serem conhecidos, Orbán já tinha parabenizado o Sonho Georgiano “pela sua vitória esmagadora”, acrescentando que “o povo da Geórgia sabe o que é melhor para o seu país e fez com que a sua voz fosse ouvida hoje!”. Esta segunda-feira, à chegada a Tbilissi sublinhou que a “Geórgia é um Estado conservador, cristão e pró-Europa”, referindo, num recado à oposição e a Bruxelas, que “em vez de sermões inúteis, eles precisam do nosso apoio no seu caminho europeu”. Esta não é a primeira vez que o primeiro-ministro da Hungria, país que ocupa a presidência rotativa da União Europeia no segundo semestre deste ano, entra em rota de colisão com Bruxelas, depois de no verão ter feito “visitas de paz” à Ucrânia, Rússia e China..De acordo com os resultados quase definitivos divulgados esta segunda-feira, o Sonho Georgiano, no poder desde 2012, obteve 53,92% dos votos, contra 37,78% da coligação da oposição. O partido fundado e liderado pelo oligarca Bidzina Ivanishvili é acusado de aproximar a Geórgia da Rússia e de afastar o país de uma possível adesão à UE e à NATO, dois objetivos consagrados na Constituição do país. Esta segunda-feira, o primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, afirmou que a integração do país na União Europeia é uma “prioridade” de Tbilissi, acrescentando que “tudo será feito para garantir que a Geórgia esteja totalmente integrada na UE até 2030”. .A missão de observação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa destacou a boa organização das eleições, mas denunciou “muitos casos de coação” dos eleitores e “frequentes violações do sigilo do voto”, entre outras possíveis irregularidades. Também a presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili, pró-ocidental e contrária ao governo, denunciou a alegada existência de um “sistema sofisticado” de fraude ligado à Rússia que, segundo assegurou, permitiu ao partido no poder vencer as legislativas..A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou esta segunda-feira no X que os georgianos “estão a lutar pela democracia” e têm o direito de conhecer o que aconteceu nas legislativas de sábado, defendendo que “as irregularidades têm de ser investigadas rapidamente, de maneira transparente e independente”. No domingo, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que iria colocar este assunto na agenda da cimeira informal, que decorre a 8 de novembro em Budapeste..Esta segunda-feira, milhares de pessoas concentraram-se em frente ao edifício do parlamento, no centro da capital da Geórgia, apoiando as forças políticas de oposição que acusam o partido que suporta o governo de ter “roubado” as eleições.