A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch disse esta segunda-feira que a execução pela junta militar de Myanmar (antiga Birmânia) de quatro prisioneiros, dois deles políticos da oposição, é "um ato da maior crueldade".."A União Europeia, os Estados Unidos e outros governos devem mostrar à junta que será responsabilizada pelos seus crimes", disse a diretora para a Ásia da ONG..A junta militar executou quatro prisioneiros, dois deles políticos da oposição, a primeira aplicação da pena de morte em mais de três décadas, informou esta segunda-feira a imprensa oficial..Numa breve nota publicada pela Agência Nacional de Myanmar, controlada pelos militares, as autoridades militares confirmam que "a punição foi executada" por enforcamento, sem especificar quando..Entre os executados incluem-se a antiga deputada Phyo Zeyar Thaw, da Liga Nacional para a Democracia, e o ativista Ko Jimmy, condenado em janeiro por acusações de terrorismo na sequência de atividades contra a junta..Os outros dois são Hla Myo Aung e Aung Thura Zaw, acusados de matar uma mulher por, alegadamente, ser uma informadora dos militares.."Extremamente chocado e triste ao ler a notícia da execução de quatro ativistas pró-democracia", escreveu na rede social Twitter o autodenominado Governo de Unidade Nacional, que se opõe aos militares, apelando às Nações Unidas, à União Europeia e ao bloco de países do sudeste asiático para "punir a junta militar pela sua crueldade e assassínios"..O regime militar, que assumiu o controlo do país num golpe de Estado a 01 de fevereiro de 2021, anunciou no início de junho que iria retomar a pena capital..A iniciativa foi condenada por vários países, incluindo França, Estados Unidos e Canadá, bem como as Nações Unidas e centenas de organizações não-governamentais locais e internacionais..A última execução na Birmânia teve lugar em 1988, sob a antiga junta militar que governou o país entre 1962 e 2011, de acordo com a Amnistia Internacional..Desde a revolta militar, 113 pessoas foram condenadas à morte num país que não tinha revogada a pena, mas onde os condenados viam as suas sentenças trocadas por tempo em prisão, na sequência dos perdões tradicionais concedidos pelas autoridades em datas especiais..O golpe mergulhou o país numa profunda crise política, social e económica, e desencadeou uma espiral de violência com novas milícias civis..Mais de dois mil civis foram mortos em resultado de uma repressão brutal por parte da polícia e dos soldados, que dispararam sobre manifestantes pacíficos e desarmados, de acordo com dados compilados pela Associação para a Assistência aos Prisioneiros Políticos, que não contabiliza os mortos durante confrontos armados ou fatalidades ligadas ao regime militar.