Ocidente apela à Rússia para retomar exportação de cereais

Turquia iniciou este domingo negociações com Moscovo para que o acordo seja restabelecido e garantiu que vai continuar a inspecionar os navios que já estão em Istambul.
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União Europeia, NATO e Nações Unidas apelaram este domingo para que a Rússia retome a exportação de cereais da Ucrânia, um dia depois de Moscovo ter anunciado a sua decisão na sequência de ataques de drones contra a sua frota do Mar Negro na Crimeia.

A NATO pediu à Rússia para renovar com urgência a sua participação no acordo de exportação de cereais, assinado em julho e mediado pela Turquia e pela ONU. "O presidente Putin deve parar de usar alimentos como arma e acabar com a sua guerra ilegal contra a Ucrânia", disse a porta-voz da NATO, Oana Lungescu. "Pedimos à Rússia que reconsidere a sua decisão e renove o acordo com urgência, permitindo que os alimentos cheguem aos que mais precisam".

Já o secretário-geral das Nações Unidas disse estar "profundamente preocupado" com a situação, indicou o seu porta-voz em comunicado. Segundo Stéphane Dujarric, António Guterres está empenhado em "consultas intensas" para que a Rússia reverta a decisão de suspender o acordo, que é vital para o aprovisionamento alimentar mundial, pelo que decidiu adiar, por um dia, a partida para participar numa reunião da Liga Árabe, em Argel.

De acordo com o comunicado, Guterres continua a trabalhar "na renovação do acordo e na sua plena implementação", para "facilitar a exportação de alimentos e fertilizantes da Ucrânia, bem como a eliminação dos obstáculos que ainda subsistem na exportação de produtos russos".

Este domingo, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, conversou com o secretário-geral da ONU, para "coordenar ações para garantir a exportação de cereais e fertilizantes da Ucrânia". No Twitter, Borrell pediu para que Moscovo regresse ao acordo que permite a exportação de cereais ucranianos. "A União Europeia fará a sua parte para conter a crise alimentar global", assegurou o chefe da diplomacia europeia.

Já o comissário europeu do Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevicius, considerou que a Rússia "encontra" a razão para bloquear o pacto, numa referência ao ataque contra Sebastopol que Moscovo apresentou como argumento para suspender o convénio. "Mais uma prova de quem é realmente responsável pela crise alimentar nos países em desenvolvimento. A Rússia pode e deve acabar com estes "jogos da fome" com as vidas de milhões de pessoas", acrescentou o comissário.

Kiev afirmou este domingo que a rota de exportação de cereais através do Mar Negro foi bloqueada, tendo o ministro ucraniano das Infraestruturas, Oleksandr Kubrakov, publicado no Twitter uma fotografia do cargueiro Ikaria Angel que, segundo ele, deveria ter zarpado hoje carregado com 40.000 toneladas de cereais. "Este alimento foi destinado à Etiópia, que está à beira da fome, mas, devido ao bloqueio da Rússia ao "corredor de cereais", a exportação é impossível", referiu.

Já o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, adiantou que a retirada da Rússia do acordo levou ao bloqueio de 176 navios que já tinham saído dos portos ucranianos no Mar Negro. Segundo Kuleba, a sua carga totaliza dois milhões de toneladas de cereais, o suficiente para alimentar sete milhões de pessoas. "A Rússia decidiu há muito tempo retomar os seus jogos da fome e está agora a tentar justificá-lo", disse o chefe da diplomacia ucraniana no Twitter.

O governo turco iniciou este domingo negociações com a Rússia para que o país retome o acordo de exportação de cereais e fertilizantes com a Ucrânia, que abandonou no sábado, após denunciar um ataque de Kiev contra os seus navios. Um responsável do executivo de Ancara, que pediu para não ser identificado, disse à Bloomberg que "há razões para otimismo", apesar de a Rússia ter assegurado que a sua retirada do acordo teria um alcance indefinido.

Num comunicado, o Ministério da Defesa turco garantiu hoje que as inspeções aos navios que transportam cereais no âmbito do acordo vão continuar a ser feitos. "Há planos para continuar a inspeção de navios carregados de cereais que estão à espera em Istambul", refere o mesmo documento.

A Rússia anunciou no sábado a suspensão da sua participação no acordo sobre as exportações de cereais dos portos ucranianos após um ataque de drones que visou a frota russa estacionada na baía de Sebastopol, na Crimeia anexada.

Já este domingo, Moscovo disse que recuperou restos dos drones que atacaram a sua frota, afirmando que os dispositivos usaram uma "zona segura" do corredor para o transporte de cereais e que um deles poderia ter sido lançado de um "navio civil".

"Os drones marinhos moveram-se numa área segura do "corredor de cereais"", disse o Ministério da Defesa russo, acrescentando que um dos dispositivos poderia ter sido lançado "de um navio civil fretado por Kiev ou seus mestres ocidentais para exportar produtos agrícolas dos portos da Ucrânia".

com agências

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