Soldados israelitas invadiram na madrugada deste domingo a redação da Al Jazeera em Ramallah, na Cisjordânia, e emitiram uma ordem de encerramento por 45 dias, naquele que é o mais recente episódio tensão entre a televisão do Qatar e o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. E que se agravou desde o início da guerra em Gaza. “Os escritórios do canal foram selados e o seu equipamento foi confiscado”, afirmou um comunicado militar de Israel. A Al Jazeera, que transmitiu tudo em direto, classificou a ação israelita como “um ato criminoso” e um ataque à liberdade de imprensa. .Desde 7 de outubro, a Al Jazeera tem transmitido continuamente reportagens no terreno sobre os efeitos da campanha militar de Israel. Paralelamente, o exército israelita tem acusado repetidamente jornalistas da televisão do Qatar de ligações ao Hamas ou ao aliado Jihad Islâmica. A estação nega tudo e acusa Israel de visar sistematicamente os seus funcionários na Faixa de Gaza - quatro dos seus jornalistas foram mortos desde o início da guerra em Gaza e as suas instalações no enclave foram bombardeadas. .O Qatar, que financia parcialmente a Al Jazeera, também serviu de base para o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, morto em julho durante um ataque em Teerão (atribuído por Irão e Hamas a Israel). Ao mesmo tempo é um dos países - a par dos Estados Unidos e do Egito - que têm servido de mediadores entre Israel e o Hamas para a obtenção de um cessar-fogo..Esta domingo, o exército justificou a sua ação dizendo que o escritório de Ramallah foi fechado porque foi “usado para incitar o terror” e “apoiar atividades terroristas”, e porque as transmissões da Al Jazeera colocavam em perigo a segurança de Israel. .O canal disse em comunicado que “condena e denuncia veementemente este ato criminoso”, rejeitando o que chamou de “alegações infundadas apresentadas pelas autoridades israelitas para justificar esses ataques ilegais”. Ainda segundo a Al Jazeera, “a ordem veio da autoridade militar israelita, apesar de o escritório estar na Área A, uma área delineada como estando sob controlo palestiniano nos Acordos de Oslo”, sublinhando ainda que “esta não é a primeira vez que Israel empreende ações na Área A definida pelos Acordos de Oslo, onde fica Ramallah e onde a Autoridade Palestiniana tem a sua sede”..Em abril, o parlamento israelita aprovou uma lei que permite a proibição de emissões de meios de comunicação estrangeiros consideradas prejudiciais à segurança do Estado. Com base nesta lei, o governo de Netanyahu aprovou a 5 de maio a decisão de proibir a Al Jazeera de transmitir a partir de Israel e fechar os seus escritórios por um período inicial de 45 dias, que foi prorrogado pela quarta vez por um tribunal de Telavive na semana passada. A decisão é classificada pela televisão como “criminosa”, afirmando que “viola o direito humano de acesso à informação”..Ainda na semana passada, o executivo de Netanyahu anunciou que ia revogar as credenciais de imprensa dos jornalistas da Al Jazeera no país. Suspensão que não afetou as transmissões da Cisjordânia ou em Gaza, de onde a Al Jazeera ainda cobria a guerra..O Comité para a Proteção dos Jornalistas, sediado nos EUA, apelou às autoridades israelitas para “pararem de assediar” a Al Jazeera. “Os esforços de Israel para censurar a Al Jazeera minam gravemente o direito do público à informação sobre uma guerra que destruiu tantas vidas na região”, disse o diretor de programa do CPJ, Carlos Martínez de la Serna..ana.meireles@dn.pt