O que disse o promotor brasileiro que combate o PCC sobre a presença do grupo criminoso em Portugal?
A presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Portugal já é um facto conhecido. Na passada semana, o tema foi abordado em São Paulo no seminário internacional "Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: Construindo uma Agenda de Ação", onde o promotor Lincoln Gakyia falou sobre a implantação da maior facção criminosa da América Latina em Portugal, numa intervenção que este sábado é repercutida na imprensa portuguesa.
Qual foi o contexto destas declarações?
O encontro ocorreu na Universidade de São Paulo, com a presença de investigadores do Brasil e de outros países na última terça-feira e quarta-feira. Um dos participantes foi o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco).
O promotor, já entrevistado pelo DN, falou sobre a expansão internacional do PCC, a qual inclui Portugal, mas também os Países Baixos e a vizinha Espanha. As declarações neste encontro foram divulgadas pelo Estadão e Folha de São Paulo.
Segundo Lincoln Gakiya, um facto novo é que os integrantes do PCC já estão a recrutar cidadãos nacionais, não apenas brasileiros imigrantes que vivem em Portugal e noutros países em que estão instalados.
O dado de que estão 87 integrantes do PCC em Portugal foi mencionado pelo promotor no evento, com a ressalva de que o levantamento é do ano de 2023. Um ano antes, era cerca de metade.
Além do número de integrantes, Lincoln Gakiya disse que Portugal possui um dos chefes do PCC, que é o responsável pelo tráfico. Na cadeia de comando da organização, o cargo é chamado de "Sintonia do Progresso". Há também um responsável pelas armas e pelos membros que estão nas penitenciárias.
Na visão do investigador, esta diversificação de cargos - uma vez que o PCC possui uma estruturada hierarquia e planeamento - indica que a facção pode estar interessada em montar seu próprio esquema de tráfico em Portugal.
"Se eu fosse português, estaria preocupado"
Segundo o promotor, ao contrário do que acontece no Brasil, as penitenciárias portuguesas não têm serviços de inteligência para monitorizar as comunicações dos presos. Para Gakiya, ter este mecanismo é considerado fundamental para o combate ao crime organizado. "Se eu fosse português, estaria preocupado", disse o promotor.
Ao mesmo tempo, foi confirmada a troca de informações entre as autoridades brasileiras e portuguesas sobre o PCC e outras organizações. Em entrevista ao Diário de Notícias no ano passado, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Augusto Passos Rodrigues, confirmou que existem investigações conjuntas.
Em março, a Polícia Judiciária (PJ) prendeu um alegado membro da facção. Segundo o comunicado da PJ, a pessoa em causa era alvo de um mandado de captura internacional, emitido pelas autoridades brasileiras, e foi presa em sua casa na Grande Lisboa, mais precisamente na margem sul. Esta prisão, realizada em cooperação com a Polícia Federal e estava integrada numa investigação das autoridades brasileiras.
A investigação apontou que o indivíduo "tinha como missão organizar toda a logística de retirada do produto estupefaciente dos navios, assim que estes amarrassem nos portos nacionais e europeus". Nesta operação, além de três armas automáticas, foram apreendidos vários milhares de euros, viaturas de gama média/alta e equipamentos de mergulho.
De acordo com os investigadores, a partir das provas até agora recolhidas, "este grupo criminoso, agora desmantelado, dedicava-se à introdução de grandes quantidades de cocaína no continente europeu, por via marítima, por regra escondida em cascos de navios e nas caixas de leme". Daí a utilização do equipamento de mergulho.
amanda.lima@dn.pt