PJ prende em Lisboa alegado membro do Primeiro Comando da Capital (veja o vídeo)
"Os elementos de investigação recolhidos apontam nesse sentido", confirmou ao DN fonte oficial da Polícia Judiciária (PJ) quando questionada se o suspeito detido pertencia ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O alvo, cidadão brasileiro, de 38 anos, tinha na sua posse três armas automáticas: duas metralhadoras e uma pistola Glock alterada de forma a produzir rajada.
É a primeira vez que oficialmente a PJ admite acreditar ter detido um elemento desta organização criminosa - no caso um relevante operacional que tratava de toda a logística para recolher a droga.
O PCC é considerada a maior e mais violenta organização do narcotráfico da América Latina e a sua presença em Portugal já tinha sido sinalizada pelas autoridades brasileiras e em investigações jornalísticas, como a do Expresso, segundo a qual "os operacionais do PCC já controlam em Portugal um ‘polvo’ de empresas nas áreas do imobiliário, da construção civil, transferência de jogadores de futebol, aviação privada, importação de frutos exóticos, restauração e até barbearias".
Segundo o comunicado da PJ, a pessoa em causa era alvo de um mandado de captura internacional, emitido pelas autoridades brasileiras e foi presa esta terça-feira na sua casa na Grande Lisboa, mais precisamente na margem sul.
Não terá oferecido resistência, pois estava a dormir quando a equipa da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) arrombou a sua porta e o deteve A ação foi realizada em cooperação com a Polícia Federal e estava integrada numa investigação das autoridades brasileiras.
O detido é residente em Portugal. Ao que o DN conseguiu apurar terá obtido autorização de residência há menos de dois anos, apesar de ter cadastro e de ter estado preso no Brasil por tráfico de droga.
Recorde-se que, conforme o DN já noticiou, os registos criminais apresentados pelos requerentes brasileiros para a obtenção de residência, têm falhas de informação e é possível que foragidos à justiça, como cadastro, apresentem o documento sem qualquer registo. Este foi um assunto que não chegou a ser tratado na recente cimeira luso-brasileira.
No comunicado, a PJ diz que o homem é suspeito "de integrar uma organização criminosa constituída no Brasil, motivo que originou o mandado de captura".
A investigação apontou que o indivíduo "tinha como missão organizar toda a logística de retirada do produto estupefaciente dos navios, assim que estes amarassem nos portos nacionais e europeus".
A PJ também cumpriu um mandado de busca domiciliária. Nesta operação além das três referidas armas automáticas, foram apreendidos vários milhares de euros, viaturas de gama média/alta e equipamentos de mergulho.
De acordo com os investigadores, a partir das provas até agora recolhidas, "este grupo criminoso, agora desmantelado, dedicava-se à introdução de grandes quantidades de cocaína no continente europeu, por via marítima, por regra escondida em cascos de navios e nas caixas de leme". Daí a utilização do equipamento de mergulho.
Este trabalho de cooperação acontece no mesmo dia em que a Polícia Federal (PF) brasileira realizou a operação “Emergentes” no Brasil. Foram cumpridos 26 mandados de busca e seis mandados de detenção, no âmbito de um inquérito em que se investigam a prática de crimes de tráfico de droga, organização criminosa e branqueamento de capitais.
O esquema envolvia o uso de mergulhadores no porto de Santos, em São Paulo, que é o maior do Brasil.
Esta operação no território brasileiro é resultado de uma investigação iniciada após as prisões na Operação Sólis, em 2021, que prendeu pessoas acusadas de um esquema de lavagem de dinheiro do crime, no Paraná, região sul do Brasil.
amanda.lima@dn.pt