Álvaro García Ortiz
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O namorado de Ayuso, o comunicado e a acusação inédita contra o procurador espanhol

Álvaro García Ortiz investigado por suspeita de revelação de segredos. PP quer a sua demissão, mas ele conta com o apoio do governo de Sánchez e diz que vai continuar no cargo.
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O Supremo Tribunal espanhol decidiu esta quarta-feira, de forma inédita, acusar o procurador-geral, Álvaro García Ortiz, de um crime de revelação de segredos. Este caso parte da acusação de fraude fiscal ao companheiro da presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, inclui a divulgação de uma troca de emails entre o seu advogado e o Ministério Público sobre um possível acordo de culpa, e culmina num comunicado de imprensa para acabar com as especulações e “mentiras”. García Ortiz já disse que não se demite e conta com o apoio do governo espanhol.

“Na convicção de que a continuidade no cargo é o menos oneroso e o mais prudente para a instituição a médio e longo prazo, e que no fundo reforça a independência do Ministério Público, anuncio a minha intenção de continuar a exercer as minhas responsabilidades enquanto procurador-geral do Estado”, disse, em comunicado, García Ortiz, no cargo desde julho de 2022.

“Entre criminosos confessos e procuradores que dizem a verdade, o Governo fica com procuradores que dizem a verdade”, indicou o ministro da Presidência, Justiça e Relações com as Cortes, Félix Bolaños, reiterando o “total respeito” ao Supremo Tribunal, mas também o “apoio total” a García Ortiz. “Tudo o que ele fez foi dizer a verdade e negar uma farsa”, acrescentou Bolaños. A oposição exigiu a demissão do responsável, alegando que ele não poderá continuar no cargo “a contaminar tudo o que a Procuradoria-Geral faz”.

O ponto de partida deste caso é o processo aberto contra Alberto González Amador, companheiro de Díaz Ayuso desde 2021. O consultor, que faturou milhões com um negócio para a venda de máscaras em plena pandemia de covid-19, é acusado de fraude fiscal com um esquema de faturas falsas, no valor de 350 mil euros.

Quando o caso veio a público, em março, a presidente da Comunidade de Madrid saiu em defesa do namorado, alegando que estava a ser vítima de perseguição política - ela, enquanto uma das principais vozes críticas do primeiro-ministro Pedro Sánchez, era o verdadeiro alvo dos ataques. A sua equipa passou então informação à imprensa de que o Ministério Público teria oferecido um acordo (entretanto retirado) a González Amador, alegando que havia uma tentativa de fazer chantagem política para desgastar Díaz Ayuso.

Um email do alegado acordo foi publicado pelo El Mundo, mas estava retirado do contexto. A verdade é que tinha sido o advogado do companheiro da líder madrilena a oferecer o acordo, no qual reconhecia a culpa e se oferecia para pagar a dívida de forma a evitar uma pena de prisão. Os emails verdadeiros trocados entre o advogado e o Ministério Público acabariam por ser revelados na imprensa espanhola.

No dia 14 de março, a Procuradoria de Madrid confirmava num comunicado de imprensa que a iniciativa de propor um acordo tinha partido de Amador, e dava a cronologia da troca de comunicações. García Ortiz assumiu a responsabilidade pela difusão do texto, que visava “desmentir a informação que estava a circular”. Esta quarta-feira, lembrou que a Procuradoria tem a função de “informar sobre os assuntos relevantes” e “garantir o direito dos cidadãos de receberem informação verdadeira”, ainda mais quando a imagem da instituição está em causa.

susana.f.salvador@dn.pt

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