Foi necessário um debate de moção de censura para a presidente da Comissão Europeia ter dado pela primeira vez explicações públicas sobre a troca de mensagens que manteve com Albert Bourla, o CEO da Pfizer, relativas à negociação de vacinas contra a covid-19, em 2021. Este, aliás, foi um dos motivos que levou o eurodeputado romeno de extrema-direita Gheorghe Piperea a promover a moção de censura, que será votada na quinta-feira, e à qual o executivo comunitário deverá sobreviver.“Não é segredo que estive em contacto com os principais representantes das empresas produtoras das vacinas que nos iriam tirar da crise, tal como procurei aconselhamento junto dos melhores epidemiologistas ou virologistas do mundo, mas a insinuação de que estes contratos eram de alguma forma inapropriados contra os interesses europeus é, sob qualquer aspeto, simplesmente errada”, afirmou esta segunda-feira, 7 de julho, Ursula von der Leyen no Parlamento Europeu.E prosseguiu a sua defesa sobre o caso Pfizergate: “Todos os 27 Estados-membros decidiram comprar vacinas por vontade própria, pelo que qualquer alegação de que algum Estado-membro não sabia dos contratos, dos preços ou das quantidades é desonesta. Na verdade, vamos chamar-lhe pelo nome. É simplesmente mentira.”Esta polémica começou em 2022 quando o The New York Times pediu o acesso às comunicações entre a alemã e Bourla. Pedido que foi rejeitado pela Comissão, alegando que eram documentos do executivo, uma resposta que suscitou dúvidas sobre a transparência do executivo de Ursula von der Leyen. Em maio, o Tribunal Geral da União Europeia decretou que a recusa em facultar as mensagens violava o princípio da boa administração que está incorporado na legislação da UE.“A concentração da tomada de decisões nas mãos da presidente da Comissão Europeia, algo que me parece antidemocrático, [Ursula von der Leyen] é opaca”, considerou Gheorghe Piperea, o eurodeputado promotor da moção, que faz parte dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), grupo dominado pelos Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni.Como já era esperado este debate ficou ainda marcado pelas críticas de vários grupos parlamentares, incluindo socialistas e liberais, que fazem parte da coligação maioritária centrista do Parlamento Europeu - a par do PPE de Ursula von der Leyen -, apesar de já terem manifestado que, na quinta-feira, votarão contra a moção de censura.Valérie Hayer, líder do grupo liberal Renew, acusou a alemã de estar a aliar-se às forças de extrema-direita para prosseguir as suas políticas mais polémicas, deixando no ar a ameaça de que Ursula von der Leyen não deve “tomar nada como garantido”. “Quem são os seus verdadeiros aliados? Terá de escolher”, questionou a eurodeputada francesa.O recado relativo à aproximação à extrema-direita foi igualmente transmitido pela líder dos socialistas, Iratxe García. “Porque é que anunciou a sua intenção de retirar a Directiva das Reivindicações Verdes um dia depois de o Partido Popular e a extrema-direita a terem exigido por carta? (...) Onde está o compromisso que lhe deu a maioria pró-europeia para presidir à Comissão?”. A espanhola criticou também a decisão de von der Leyen de contornar o escrutínio do Parlamento Europeu para libertar 120 mil milhões de euros em despesas de defesa, pedindo-lhe para “respeitar a palavra dada”. . Ursula von der Leyen vai tremer, mas deve sobreviver a moção de censura