Os Estados Unidos ainda serão o país mais poderoso do mundo em 2050? O que explica preservação desse status, que remonta ao início do século XX?Sim, claro! Houve muitos fatores que contribuíram para o seu domínio atual. Isso inclui o potencial tecnológico, os recursos naturais (atualmente é o maior produtor de petróleo do mundo) e, apesar da queda nas taxas de natalidade, o crescimento populacional até 2050 e, ainda, o enorme tamanho. Mais importante ainda, continua a atrair talentos do mundo inteiro. Sempre que o país parece estar a ficar para trás, consegue recuperar (geralmente graças a imigrantes ambiciosos) tornando-se líder em mais uma nova tecnologia revolucionária. O exemplo mais recente disso é, claro, a Inteligência Artificial generativa, mas há muitos exemplos anteriores, incluindo computadores pessoais e o iPhone. Não consigo imaginar o fim dessa liderança americana.A China tornar-se-á a principal economia do mundo, e a Índia subirá para o terceiro lugar em termos de PIB. Existe alguma hipótese de a Índia ultrapassar a China, uma vez que a sua população já é maior?Essa é uma pergunta interessante, porque as perspetivas estão a mudar constantemente. Em grande parte devido ao colapso das taxas de natalidade (já antes baixas) após a pandemia de covid - agora não está claro se a China conseguirá ultrapassar os Estados Unidos e tornar-se a maior economia do mundo na década de 2030, embora isso parecesse provável há cinco anos. O decréscimo populacional da China significa também que as relações entre esta e a Índia mudarão. Não acredito que a economia da Índia se torne maior do que a da China até 2050, mas em algum momento, na década de 2030, será a terceira, depois dos EUA e da China, e até 2100 as economias da China e da Índia provavelmente terão aproximadamente o mesmo tamanho..Como vê a evolução da Rússia?Não há muita luz ao fim do túnel. A combinação de declínio populacional, isolamento tecnológico e relações difíceis não apenas com o Ocidente, mas também com a China, tornará a vida muito difícil. A Rússia também precisa manter o acesso à tecnologia ocidental e investir na sua economia, em vez de nas Forças Armadas. Espero que a liderança russa reconheça os desafios de longo prazo que o país enfrenta e responda com um espírito de cooperação em vez de destruição. Mas no momento, vejo, na melhor das hipóteses, apenas um declínio desordenado e, na pior, algum tipo de resultado caótico.Na previsão para 2050, diz que a UE não perderá mais membros após a saída do Reino Unido. Mas será capaz de manter a coesão e ser uma voz escutada no cenário internacional?A UE tornar-se-á uma organização mais flexível, com mais poder para os países-membros e menos controlo da burocracia em Bruxelas. Permanecerá calma e razoavelmente próspera, mas não terá uma voz importante nos assuntos globais. As economias combinadas dos países da UE cairão para cerca de 10% do PIB global até 2050, e isso será muito pouco para a Europa ter muita importância.África, o continente com a população mais jovem, finalmente desenvolver-se-á e aproveitará as imensas riquezas naturais?Espero muito que sim. Certamente África tornar-se-á mais importante e espero que, em geral, seja melhor governada. Mas o progresso será desigual e há enormes desafios, incluindo as mudanças climáticas. Haverá sinais de sucesso, mas também sérios passos atrás. Portanto, no geral, haverá progresso, mas alguns países infelizmente ficarão para trás..A globalização da economia resistirá aos nacionalismos?Sim, mas a natureza da globalização mudará. Em vez de enviar mercadorias, transferiremos dinheiro e know-how para os lugares onde podem obter os maiores retornos. O nacionalismo leva a maiores restrições ao comércio físico, mas o comércio de serviços crescerá.Há alguma hipótese de cooperação internacional para combater as mudanças climáticas?Espero que sim e, no final de contas, isso terá de acontecer. Mas preocupo-me por não haver cooperação séria e, assim, a tarefa será muito mais difícil.Imagina o espaço como um lugar para cooperação entre os grandes países ou apenas para competição?Será ambos. Mas a exploração espacial é tão extremamente cara que as forças económicas favorecerão a cooperação.O que um pequeno país europeu como Portugal pode esperar nos próximos 25 anos?Portugal tornar-se-á uma parte cada vez mais próspera da Europa por muitas razões. É um local atraente e continuará a ser um íman tanto para talentos globais, quanto para financiamento de investimentos globais. Tem uma longa história de olhar para o resto do mundo, e os vínculos com o Brasil aumentarão a sua importância. E é bem governado. Não sou só eu que digo isso, pois tem uma classificação alta nas pontuações internacionais. Então, vejo uma perspetiva positiva para Portugal e o seu povo. O país tem um fascinante naipe de cartas para jogar, que muitos outros países invejam.A última pergunta é sobre a avaliação do sucesso das previsões do seu livro anterior, O Mundo em 2020, publicado em 1994?Bem, espero ter aprendido com os meus erros! Acertei em três grandes coisas, de uma forma geral. Consegui prever que havia uma boa hipótese de o Reino Unido sair da UE até 2020. Avisei quanto à ascensão do populismo nos EUA, esperando um desafio ao domínio da elite liberal, e tive sorte no meu timing, pois esperava que isso acontecesse na segunda década do século - e Donald Trump foi eleito em 2016. E tinha meia página sobre os perigos de uma pandemia global. Mas errei em vários pontos. Por exemplo, pensei que se a China não afrouxasse o sistema político, não conseguiria prosperar em termos económicos. Isso pode agora estar certo, mas eu errei no timing. Também pensei que se a Zona Euro fosse, de facto, criada - o que não era certo no início dos anos 1990 -, não sobreviveria por muito tempo. Como se viu, ela quase se desfez, mas em 2012 Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, conseguiu fazer “o que fosse preciso” para a salvar. E o meu erro mais sério de todos, consegui escrever o capítulo sobre tecnologia sem mencionar a palavra “internet”. Podia ver que os computadores conectados seriam cruciais, mas não via como é que isso iria acontecer. A minha defesa é que os primeiros navegadores estavam apenas a ser introduzidos quando o livro foi publicado (e depois de ter terminado de escrever aquele capítulo), e não havia motores de busca eficazes, pois o AltaVista ainda estava a um ano de distância. A lição que tiro disso é que a tecnologia é a coisa mais difícil de prever - embora talvez tenha as perspetivas mais empolgantes para todos nós. Imagine um mundo sem smart- phones, pois o iPhone fez, como Steve Jobs disse que faria, “mudar tudo”. De facto, acho agora que o mais recente grande avanço técnico, a Inteligência Artificial generativa, é tão importante quanto o iPhone. Transformará a eficiência das indústrias de serviços e, assim, permitirá que os padrões de vida em todos os lugares aumentem substancialmente nos próximos anos. A minha maior lição, no entanto, é que precisamos de uma certa humildade. Qualquer um que escreva sobre o futuro, inevitavelmente errará, então digo aos meus leitores que devem usar o livro como uma estrutura para pensarem sobre o futuro de uma forma ordenada e comedida, em vez de esperarem que possa dizer exatamente o que vai acontecer. Vejo-me como um guia turístico numa viagem que todos nós temos de fazer, e é ótimo ter leitores portugueses juntando-se a mim no passeio.