Sempre que o presidente dos EUA determinar que existem condições especiais de natureza de emergência que exigem o uso da força policial metropolitana para fins federais, ele poderá instruir o mayor a fornecer-lhe, e este deverá fazê-lo, os serviços da força policial metropolitana que o presidente considerar necessários e apropriados.” É isto que estipula a secção 720 do Home Rule Act do Distrito de Columbia. E foi precisamente a esta secção que o presidente Donald Trump recorreu ontem para colocar a manutenção da ordem em Washington DC sob o controlo das autoridades federais, além de anunciar o envio de 800 militares da Guarda Nacional para as ruas da capital federal. E não excluiu enviar também as forças armadas.“Estou a anunciar uma ação histórica para resgatar a capital do nosso país do crime, do derramamento de sangue, do caos, da miséria e de coisas piores. Hoje é o Dia da Libertação em Washington, e vamos recuperar a nossa capital”, disse Trump aos jornalistas, numa conferência em que surgiu ladeado pelo secretário da Defesa, Pete Hegseth, e pela procuradora-geral, Pam Bondi. O presidente ordenou ainda o desmantelamento dos acampamentos de sem-abrigo. Afirmando que a capital está a ser tomada por “maníacos drogados e pessoas sem-abrigo”, Trump prometeu que “vamos ajudá-los tanto quanto pudermos, mas eles não terão permissão para transformar a nossa capital num terreno baldio para o mundo ver.”“A nossa capital foi tomada por gangues violentos e criminosos sanguinários”, garantiu Trump, cuja ordem executiva a decretar o envio da Guarda Nacional afirma que “o aumento da violência na capital coloca agora em perigo urgente os funcionários públicos, os cidadãos e os turistas, perturba a segurança dos transportes e o bom funcionamento do Governo Federal.” Ameaças com que justifica uma decisão que os críticos denunciam como mais uma tentativa do presidente para assumir o controlo de uma cidade fortemente democrata. Esta onda de violência que a Casa Branca promete agora combater é, no entanto, desmentida pelos números da polícia da cidade, segundo os quais a taxa de crime é a mais baixa dos últimos 30 anos. A mayor democrata, Muriel Bowser, afirmou aos media que a cidade está longe de viver “um pico de crimes”. Pelo contrário, o crime violento diminuiu 26% nos primeiros sete meses de 2025, após ter caído 35% em 2024, e os crimes em geral diminuíram 7%, segundo a polícia metropolitana. A redução da criminalidade na capital federal faz parte de uma queda nacional que, em 2024, levou as taxas de homicídio ao seu nível mais baixo em décadas. Este ano, os homicídios diminuíram mais de 30% nos dados que o The Washington Post recolheu em mais de 100 departamentos policiais em grandes cidades dos EUA. As denúncias de roubos e assaltos também diminuíram acima dos dois dígitos.Na última semana, Trump intensificou as mensagens nas quais sugeria a intenção de retirar a autonomia à capital e promover um controlo federal total. O Distrito de Columbia, onde fica Washington, criado em 1790, funciona ao abrigo do Home Rule Act, que confere ao Congresso a autoridade máxima, mas permite aos residentes elegerem um presidente da câmara e um conselho municipal. Trump garantiu há dias que os advogados estão a analisar como revogar a lei, uma medida que provavelmente exigiria aprovação do Congresso.Para já, e segundo a tal secção 720 do Home Rule Act, o presidente pode colocar a polícia metropolitana sob controlo federal durante 48 horas apenas, em situação de emergência. Qualquer prolongamento exige que notifique os presidentes e membros das comissões parlamentares que tratam dos assuntos legislativos relativos a DC. Qualquer pedido para controlar o departamento da polícia da cidade durante mais de 30 dias exige que o Congresso o transforme em lei. Trump ameaçou ainda alargar estas medidas a outras cidades dos EUA, como Nova Iorque ou Chicago, ambas governadas por democratas. Enquanto centenas de pessoas protestavam junto à Casa Branca contra o que dizem ser uma tentativa de Trump de impor o seu poder presidencial sobre a capital, as críticas não tardaram também nos círculos políticos, com o líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, a garantir que Trump não tem base para tomar esta medida e tem “zero credibilidade em questões de lei e ordem”. Já Glenn Ivey, congressista democrata do Maryland, estado vizinho de DC, considerou a decisão “chocante, mesmo vinda de Trump” e, em declarações ao site Axios, garantiu: “Mentes desconfiadas podem questionar-se se isto não será apenas um primeiro passo para uma ação sobre outras partes do governo em Washington.”.Trump coloca Washington sob controlo federal e ordena envio de militares da Guarda Nacional