À chegada ao Kremlin, a chanceler alemã Angela Merkel defendeu o diálogo com a Rússia, apesar das suas "diferenças profundas". Mas no final do encontro com o presidente Vladimir Putin, na sua última visita a Moscovo antes de deixar o poder nos próximos meses, Merkel disse aos jornalistas ter pedido ao chefe do Estado russo que liberte o opositor Alexei Navalny, no aniversário do seu envenenamento.."Uma vez mais, pedi ao presidente russo a libertação de Alexei Navalny [atualmente detido na Rússia] e deixei claro que vamos continuar a fazê-lo", afirmou Merkel numa conferência de imprensa conjunta..Um apelo que foi imediatamente rejeitado por Putin. Em resposta a Merkel, o líder russo afirmou que Alexei Navalny não foi detido "pelas suas atividades políticas", mas sim por "uma infração criminal com parceiros estrangeiros"..O caso de Alexei Navalny, cujo envenenamento, pelo qual o opositor e o Ocidente responsabilizam o poder russo, é um caso delicado nas relações germano-russas..Berlim recebeu Navalny quando ele estava em coma, há um ano, e foram os cientistas do exército alemão que identificaram o veneno utilizado, uma substância neurotóxica desenvolvida pelos militares da época soviética..Em janeiro, e após um período de convalescença na Alemanha, Navalny regressou à Rússia e seria imediatamente detido..Posteriormente, foi condenado a dois anos e meio de prisão no âmbito de um processo de fraude que, segundo denuncia o opositor russo, tem motivações políticas..As autoridades russas passaram os últimos meses a desmantelar a rede de Navalny antes das eleições legislativas de setembro. As organizações do opositor foram classificadas e enquadradas como "extremistas"; sites de internet ligados a ele, bloqueados; e os seus aliados, postos em liberdade condicional..Militante anticorrupção, Navalny é conhecido, especialmente, pelas suas investigações sobre o estilo de vida e a malversação financeira das elites económicas russas, incluindo Putin e os seus próximos..Ontem, Putin garantiu que "a luta contra a corrupção é muito importante" e que a Rússia fará "todo" o possível para erradicá-la. Enfatizou, porém, que "não pode ser usada para fins políticos"..Numa mensagem publicada nas suas redes sociais, a partir da prisão Navalny agradeceu a todos os que salvaram a sua vida e disse que continuará a sua luta. E num artigo publicado em três jornais europeus - o britânico The Guardian, o alemão Frankfürter Allgemeine Zeitung e o francês Le Monde -, Navalny repreendeu os líderes ocidentais por relegarem a luta contra a corrupção para um item de "agenda secundária" e disse que a corrupção desempenha um papel essencial nas falhas políticas, incluindo no Iraque e no Afeganistão. "Foi precisamente o facto de o Ocidente ter "ignorado" a corrupção total no Afeganistão que tornou este fator crucial na vitória dos talibãs", escreveu Navalny..Quanto a Merkel, depois de depositar flores no túmulo do soldado desconhecido em Moscovo, foi recebida no Kremlin pelo próprio Putin, que a esperava com um ramo de flores. "Embora tenhamos profundas divergências, conversamos. E deve continuar assim", disse Merkel, que nos 16 anos no poder teve uma relação complexa e ambígua com o presidente russo..Merkel, que fala russo e cresceu na Alemanha de Leste, e Putin, que fala alemão pelos seus anos de serviço no KGB na Alemanha de Leste, sempre reivindicaram ter estabelecido uma verdadeira relação de trabalho, apesar das suas diferenças..Nesta 20.ª viagem oficial à Rússia, Merkel encerra a relação com a constatação do fracasso num assunto que estabeleceu como prioridade: a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia, em ponto morto. A chanceler alemã viajará amanhã para Kiev, onde se reunirá com o presidente Volodimir Zelenski.