Zelensky apresentou o seu plano no Parlamento ucraniano.
Zelensky apresentou o seu plano no Parlamento ucraniano.EPA/UKRAINE PRESIDENTIAL PRESS SERVICE HANDOUT

NATO deixa cair primeiro ponto do Plano para a Vitória de Zelensky

Presidente ucraniano vai apresentar no Conselho Europeu desta semana os cinco pontos do seu plano. Kremlin já respondeu ao documento, dizendo que Kiev “precisa de acordar”.
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Bastaram algumas horas para Volodymyr Zelensky ver cair por terra o primeiro dos cinco pontos do Plano para a Vitória que apresentara esta quarta-feira de manhã no Parlamento ucraniano: um convite imediato para o país entrar na NATO, com Mark Rutte, o secretário-geral da Aliança, a considerar que ainda não é concretizável, mas reconhecendo que a Ucrânia “está mais próxima do que nunca”. 

“A determinação sobre a questão da NATO para a Ucrânia também significa a inevitabilidade da integração europeia para a Ucrânia e o facto de não haver alternativa à democracia na Ucrânia. É por isso que este é o ponto inicial do Plano para a Vitória. O primeiro e muito importante ponto. O sinal da determinação. Isto é o que é o convite. Um convite incondicional neste momento”, enfatizou o presidente ucraniano. A entrada na NATO significaria que a Ucrânia passaria a fazer parte do pacto de defesa mútua da Aliança, que determina que um ataque a um membro é considerado um ataque a todos.

Mark Rutte afastou para já essa possibilidade, lembrando, porém, que na última cimeira da NATO, realizada em julho, “os aliados concordaram que o caminho [rumo à adesão] é irreversível [...], o nosso trabalho conjunto está a fazer com a que a Ucrânia esteja mais forte hoje e todo esse trabalho é uma ponte para a adesão”. 

“A Ucrânia está mais próxima do que nunca”, sublinhou o novo secretário-geral da NATO, deixando claro que as ameaças feitas por Moscovo sobre esta adesão nada têm a ver com a ausência de um convite imediato a Kiev. “Putin e a Rússia não têm palavra ou poder de veto nisto, são os aliados que decidem quando é que vai acontecer”. Esta noite realiza-se uma reunião do Conselho NATO-Ucrânia para “discutir as necessidades prementes” do país, adiantou ainda o neerlandês. Um encontro que contará com a participação de Zelensky.

O presidente da Ucrânia vai estar em Bruxelas para participar também no Conselho Europeu, que se realiza hoje e amanhã, e no qual a situação na Ucrânia é um dos pontos da agenda. Zelensky irá apresentar aos líderes europeus os cinco pontos, e os três anexos classificados, do seu Plano para a Vitória. De recordar que o conteúdo deste plano já foi apresentado e discutido anteriormente com os líderes dos Estados Unidos, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. 

Um desses líderes, o chanceler alemão Olaf Scholz, apelou esta quarta-feira para se fazer “tudo o que for possível” para impedir a continuação da guerra na Ucrânia, incluindo conversações com o presidente russo, Vladimir Putin, em concertação com Kiev e seus aliados. Mas não comentou o Plano para a Vitória de Zelensky. “Chegou a altura de fazermos tudo, além de apoiarmos claramente a Ucrânia, para encontrar uma forma de impedir que esta guerra continue”, defendeu no Parlamento alemão.

“Se nos perguntarem: ‘Vamos falar sobre isto com o Presidente russo?’, nós dizemos ‘sim, vamos’”, prosseguiu o chanceler, esclarecendo que estas conversações devem respeitar “princípios claros”, como nunca serem tomadas decisões “à revelia da Ucrânia e nunca sem concertação com os nossos parceiros mais próximos”.

Já o Kremlin rejeitou o plano de Kiev, argumentando que a Ucrânia “precisa de acordar”. “O único plano de paz possível é que o regime de Kiev compreenda que a sua política não tem perspetivas e que precisa de acordar”, disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

Entretanto, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou, numa chamada telefónica com Zelensky, uma nova ajuda militar a Kiev avaliada em 425 milhões de dólares, que será fornecida nos próximos meses, e inclui “centenas de intercetores de defesa antiaérea, dezenas de sistemas táticos de defesa antiaérea [e] sistemas de artilharia adicionais”, indicou a Casa Branca. E ainda “munições, centenas de veículos blindados de transporte de tropas e veículos de combate de infantaria e milhares de veículos blindados adicionais”.

Substituir os EUA

Além da adesão à NATO, o plano de Zelensky inclui uma vertente militar, prevendo-se para isso ajuda e autorizações dos aliados para usar armas de longo alcance doadas para atacar alvos em solo russo. Ao mesmo tempo, prevê também que a Ucrânia continue a fazer avanços no terreno contra as forças russas, o que lhe daria argumentos para obrigar Moscovo a sentar-se à mesa das negociações. Fora de questão está a possibilidade de ceder território à Rússia ou aceitar um “congelamento” na linha da frente, com Zelensky a sublinhar que Moscovo “vai perder a guerra contra a Ucrânia”.

No seu discurso, Zelensky denunciou ainda o apoio da China, da Coreia do Norte e do Irão ao esforço de guerra da Rússia, classificando o grupo como “uma coligação de criminosos”, liderada por Vladimir Putin. “Todos veem a ajuda que o regime iraniano dá a Putin. O mesmo se aplica à cooperação da China com a Rússia”, referiu, acrescentando que a “ultima aquisição” foi a Coreia do Norte.

Volodymyr Zelensky propôs a instalação na Ucrânia de um conjunto completo de medidas estratégicas de dissuasão não nuclear que, defendeu, “serão suficientes para proteger a Ucrânia de qualquer ameaça militar da Rússia”. “O pacote de dissuasão é o facto de a Rússia ou entrar na diplomacia ou perder a sua máquina de guerra. Paz através da força”, enfatizou o presidente ucraniano, ao explicar o terceiro ponto do seu plano. 

O potencial económico estratégico da Ucrânia também foi tido em conta neste plano, com Kiev a oferecer aos seus parceiros estratégicos um acordo especial para a proteção conjunta dos recursos críticos do país, bem como o investimento conjunto e a utilização deste potencial económico. Em concreto está-se a falar de “recursos naturais e metais críticos no valor de biliões de dólares americanos”, como urânio, titânio, lítio, grafite. “Os depósitos de recursos críticos na Ucrânia, juntamente com o potencial globalmente importante de produção energética e alimentar da Ucrânia, estão entre os principais objetivos predatórios da Federação Russa nesta guerra. E esta é a nossa oportunidade de crescimento”, explicou Volodymyr Zelensky.

O quinto, e último ponto, do Plano para a Vitória é já a pensar na segurança no período pós-guerra e envolve, se os aliados de Kiev concordarem, a substituição de certos contingentes militares dos Estados Unidos estacionados na Europa por unidades ucranianas que ganharam experiência real na guerra, na utilização de armas ocidentais e na cooperação com as tropas da NATO. “Esta experiência ucraniana deve ser usada para fortalecer a defesa de toda a Aliança e garantir a segurança na Europa. Esta é uma missão digna para os nossos heróis”, concluiu Volodymyr Zelensky.

ana.meireles@dn.pt

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