"Nada é mais patriótico do que protestar". Manifestações contra Trump saem à rua nos EUA e na Europa
CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH/EPA

"Nada é mais patriótico do que protestar". Manifestações contra Trump saem à rua nos EUA e na Europa

De Washington a Lisboa, várias cidades norte-americanas e europeias foram palco para milhares de pessoas protestarem contra as políticas de Donald Trump
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Milhões de norte-americanos saíram à rua este sábado, 18 de outubro, para protestar contra o rumo do país sob a presidência de Donald Trump, enchendo as ruas da capital e de várias cidades dos Estados Unidos (e não só) com bandeiras, cartazes e palavras de ordem num ambiente que misturou manifestação política com uma grande festa de rua.

 As ações, batizadas de “No Kings” para lembrar a Trump que os EUA não têm reis (“Sem Reis”, em português) – e, portanto, ele não se deveria comportar como tal -, foram criticadas pelo Partido Republicano, que as catalogou de “comícios de ódio à América”.

Esta é a terceira grande mobilização popular desde o regresso de Trump à Casa Branca, e surge num momento crítico: o Governo federal está paralisado há 18 dias, com serviços públicos encerrados e um confronto aberto entre o Executivo Trump, o Congresso e os tribunais.

 “Nada é mais patriótico do que protestar”, lia-se num dos cartazes em Washington, enquanto outro apelava a “Resistir ao Fascismo”, testemunha a agência Associated Press (AP).

Em Nova Iorque, a icónica Times Square encheu-se de milhares de pessoas antes do meio-dia, com cânticos como “Trump tem de ir embora agora” e bandeiras americanas ao lado de slogans críticos para as políticas do presidente.

 As manifestações espalharam-se por outros locais históricos, desde o Boston Common, ao Grant Park em Chicago, passando pelo coração de Washington e centenas de outros espaços públicos.

 Em Nova Iorque, retrata a AP, o ambiente contagiante juntou “famílias e ativistas a partilharem o espaço como se fosse um piquenique político”. Um médico reformado, Terence McCormally,  desabafou à agência: “Não suporto os vigaristas, os charlatães e os fanáticos religiosos que estão a tentar usar o país para ganho pessoal”.

Em Washington, Brian Reymann, um manifestante que carregava uma grande bandeira dos EUA, reagiu com desdém às acusações republicanas que rotularam de “terroristas” e "anti-patrióticas" estas ações. “É patético”, disse à AP. “Isto é a América. Discordo da política deles, mas não acho que não amem o país. Acho que estão equivocados, famintos por poder.”

 Enquanto isso, Trump passa o fim-de-semana na sua residência de Mar-a-Lago, na Florida, longe do clamor popular. Numa entrevista à Fox News transmitida na sexta-feira, antes de partir para um jantar de angariação de fundos da MAGA - a um preço de um milhão de dólares por prato no seu clube -, o presidente menorizou os protestos: “Dizem que me chamam de rei. Eu não sou um rei.”

 Os organizadores, uma coligação de centenas de grupos e associações, esperavam mais de 2600 ações em cidades grandes e pequenas — um aumento em relação aos 1300 locais registados em abril, contra Trump e Elon Musk, e aos 2100 de junho, no primeiro evento “No Kings” convocado.

 “Grandes manifestações como esta dão confiança a quem estava ‘na bancada’, mas pronto para falar”, comentou o senador democrata Chris Murphy à Associated Press. Líderes como o representante da maioria no Senado, Chuck Schumer, e o independente Bernie Sanders juntam-se à causa, vendo-a como um antídoto contra as políticas de Trump: desde o cerco à liberdade de expressão até às operações militares contra imigrantes. “Não há maior ameaça a um regime autoritário do que o poder patriótico do povo”, afirmou Ezra Levin, ativista político e co-fundador da organização progressista Indivisible, um dos principais grupos promotores.

Do lado republicano, a reação foi agressiva. Líderes do GOP (Grand Old Party, como também é conhecido o Partido Republicano) classificam os manifestantes como marginais, comunistas e marxistas, culpando-os pela paralisação do Governo. “É o comício de ódio à América”, disse o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, do Louisiana. “Vamos ver quem aparece: tipos da Antifa, gente que odeia o capitalismo e marxistas em plena exibição.”

Em Lisboa também se ouviu "No Kings, No Crowns"

Além das manifestações em cidades dos EUA, também em várias capitais europeias desfilaram ações de protesto contra as políticas da administração Trump. Em Lisboa, norte-americanos residentes em Portugal protestaram para mostrar ao mundo que os Estados Unidos "não têm reis".

A concentração aconteceu junto à estátua equestre de D. José I, onde mais de uma centena de participantes empunhavam cartazes e gritavam em coro: "No kings, no crowns" (Nem reis, nem coroas, numa tradução livre)

Uma das cidadãs presentes na manifestação exibia um cartaz rodeado de cinco cravos vermelhos, onde se lê "America needs what Portugal knows - Fight for true liberation" (A América precisa o que Portugal sabe - Lutar pela verdadeira libertação).

Gerry Walkney, de 71 anos, deslocou-se de Setúbal, onde reside há quase dois anos, por ser um "democrata assumido" e considerar necessário uma "grande união de norte-americanos" para destronarem o atual Presidente que "é péssimo no cargo e só tem prejudicado o país e o mundo".

"É necessário que o Congresso faça alguma coisa para destituir este Presidente, o que não tem acontecido, já que o Congresso nada tem feito", sublinhou.

Veja fotos de manifestações noutras cidades europeias:

Richard Emerson, um septuagenário residente em Lisboa há 30 anos, assumiu-se como independente, mas disse à Lusa ter aderido ao protesto por o país onde nasceu "não poder continuar entregue a um fascista".

Chris Dee, natural de Filadélfia, onde a Constituição norte-americana foi redigida, reside em Lisboa há dois anos e meio e foi uma das oradoras no protesto.

Em declarações à Lusa, justificou a presença no evento com dois motivos: primeiro, porque sempre viveu em liberdade, tendo-se visto obrigada a sair dos EUA devido ao regime ditador de Trump.

Sublinhando que cresceu em Filadélfia, onde foi elaborada a Constituição, cujas normas Trump agora "rejeita e deita para o lixo a todo o momento", mostrou-se receosa pelo filho de 21 anos que é estudante universitário no Hawai. "Tal como eu, o meu filho tem uma pele escura, e receio por ele todos os dias. Porque Trump só gosta de supremacia branca", frisou.

"Além disso, não gostava que o meu filho e eventuais netos vivessem em fascismo num dos países que tem das maiores tradições democráticas do mundo", observou.

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