Durante quase nove meses, o movimento de protesto anticorrupção na Sérvia conseguiu manter-se pacífico, mas acabou por tornar-se agora violento, cedendo às provocações de agitadores, muitos de cara tapada e armados com bastões, enviados pelo governo do presidente Aleksandar Vučić para as ruas a fim de confrontar os opositores.O primeiro sinal desta violência deu-se na passada quinta-feira, quando alguns, entre os milhares de manifestantes em protesto, vandalizaram instalações do Partido Progressista Sérvio (SNS), de Vučić, em Novi Sad, a segunda maior cidade do país e onde nasceu esta onda de revolta antigovernamental. A sede do Partido Radical Sérvio, parceiro de coligação do SNS, também foi alvo de vandalismo.Pelo menos 42 polícias ficaram feridos e 37 manifestantes foram detidos nessa noite em todo o país, segundo informações do governo. “Estas já não são manifestações estudantis pacíficas. Isto é um ataque ao Estado”, afirmou o ministro do Interior, Ivica Dačić .Um cenário que se repetiu por cinco noites em várias cidades do país, com denúncias generalizadas de violência e brutalidade policial tanto em Belgrado como em Novi Sad e que são negadas pelo Ministério do Interior. .Este domingo, e na sequência de mais uma noite de protestos, desta vez, segundo a AP, sem incidentes, o presidente Aleksandar Vučić acusou os manifestantes de “puro terrorismo” e voltou a afirmar que os últimos meses de protestos contra o seu governo foram orquestrados no Ocidente para destruir a Sérvia.“O nosso país está em grave perigo, colocaram em risco todos os nossos valores, a vida normal, cada indivíduo”, declarou Vučić, referindo-se a um alegado esquema em curso que pretende instalar, no futuro, autoridades “anarcoesquerdistas”. “A menos que tomemos medidas mais duras, é uma questão de dias até eles matarem alguém”, prosseguiu o presidente sérvio, não especificando qual será a resposta do Estado, mas que esta deverá fazer-se sentir durante esta semana.A atual vaga de protestos na Sérvia liderada por estudantes, e que entretanto se alargou a toda a sociedade, começou com um incidente na estação ferroviária de Novi Sad, a 1 de novembro de 2024, que matou 15 pessoas, tendo-se transformado no maior movimento de contestação desde a queda do presidente Slodoban Milošević em 2000. Esta tragédia de tornou-se um símbolo da corrupção no país, tendo-se os pedidos iniciais de investigações transparentes ao sucedido transformado na exigência de eleições antecipadas e no afastamento de Vučić. Nem a saída do primeiro-ministro Milos Vučević em abril os acalmou. “Embora seja improvável que o regime entre em colapso sob a pressão direta dos manifestantes, tornou-se eleitoralmente vulnerável pela primeira vez desde que assumiu o poder em 2012”, refere Aleksandar Ivković, investigador do think tank sérvio Centre for Contemporary Politics, num artigo no European Western Balkans. No entanto, segundo este especialista, a desconfiança que existe entre estudantes e partidos da oposição “irá provavelmente persistir, enfraquecendo uma frente unificada contra o regime”. Ivković nota ainda que Vučić pode adiar a realização de eleições até ao limite legal, ou seja, final de 2027. “No entanto, esta seria uma faca de dois gumes: um prolongamento poderia aprofundar as divisões entre os seus adversários, mas também poderia enfraquecer ainda mais o seu regime, que tem mostrado sinais de fadiga e declínio da coesão desde novembro. O apetite por mudanças políticas está a crescer, e o SNS parece incapaz de elaborar uma narrativa convincente para inverter esta tendência.”.Protestos na Sérvia e ações separatistas na Bósnia ameaçam estabilidade dos Balcãs Ocidentais