Foi “o dia mais produtivo de negociações que tivemos em dez meses” com a Ucrânia, houve “progressos tremendos”, mas é preciso “mais tempo”. Foi desta forma que o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, resumiu as discussões que decorreram este domingo (23 de novembro) em Genebra, na Suíça. Em cima da mesa esteve o plano de paz que a Administração de Donald Trump apresentou, e que tinha deixado os ucranianos e os aliados preocupados com as cedências à Rússia, e para o qual os europeus apresentaram uma contraproposta. “Não quero declarar aqui vitória ou ponto final. Ainda há trabalho a fazer, mas estamos muito mais avançados agora do que estávamos quando começámos esta manhã e, certamente, do que estávamos há uma semana”, disse Rubio aos jornalistas, após uma reunião com os ucranianos, liderados pelo chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, Andriy Yermak. Rubio, que esteve na reunião com o enviado especial da Casa Branca Steve Witkoff, não quis entrar em pormenores sobre que pontos estavam ainda em aberto. “Precisamos de mais tempo do que temos hoje. Acredito sinceramente que lá chegaremos”, disse confiante, explicando que esses pontos em aberto “não são insuperáveis”. O diálogo vai continuar esta segunda-feira. Nas negociações terão sido discutidas as “sugestões” europeias e estavam a ser feitas “algumas alterações” e ajustes, para chegar a um acordo confortável tanto para a Ucrânia como para os EUA. “Um processo em andamento”, disse, reiterando estar otimista. Trump tinha dito na véspera que a proposta de 28 pontos, cujos contornos vieram a público na sexta-feira, não era final, e que estava aberto a alterações. Mas está a pressionar o homólogo ucraniano por uma resposta até quinta-feira. Rubio não confirmou essa data, dizendo apenas que queria que fosse “o mais rápido possível”. Os europeus, que tal como os ucranianos não gostaram do plano que consideravam ter em demasia a visão de Moscovo, aproveitaram para apresentar uma contraproposta. Esta terá sido escrita por Alemanha, França e Reino Unido (os conselheiros de segurança nacional destes países estavam na reunião de Genebra), com o envolvimento da Ucrânia. .Ucrânia. Os 28 pontos da contraproposta europeia ao plano de paz dos EUA. Segundo o plano visto pela Reuters, as principais alterações em relação à proposta norte-americana prendem-se com uma garantia de segurança dos EUA à Ucrânia semelhante ao artigo 5.º da NATO (segundo o qual um ataque a um é um ataque a todos). Na questão de cedência territorial, prevê negociações sobre trocas de território com base na atual linha de contacto, em vez de pré-determinar que certas áreas devem ser reconhecidas como “de facto russas”, como está previsto no plano dos EUA.A Ucrânia limita as suas forças “em tempos de paz” a 800 mil militares, em vez dos 600 mil que estão previstos no plano de Trump. Nas questões financeiras, o plano reitera que a Ucrânia será reconstruída e recompensada pela Rússia, incluindo através do uso dos fundos russos que vão continuar congelados até isso acontecer. O plano dos EUA previa usar parte do dinheiro num fundo de reconstrução liderado pelos norte-americanos, com os EUA a receber 50% dos lucros, e o resto para um fundo de investimento a envolver os russos.Não era este domingo claro aquilo que os norte-americanos estavam dispostos a aceitar e ainda menos aquilo que Moscovo depois aceitará. “Obviamente, isto terá de ser aprovado pelos nossos presidentes, embora me sinta muito confortável com a possibilidade de isso acontecer, dado o progresso que fizemos”, disse Rubio numa declaração ainda a meio da tarde. Sobre os russos, teria que se ver. As declarações de Rubio contrastavam com a mensagem que Trump publicou nas redes sociais ainda antes do início das negociações. O presidente dos EUA voltou a dizer que a guerra nunca teria começado se ele estivesse na Casa Branca e os democratas não tivessem “roubado” as eleições, atacando também Zelensky e os europeus. “A ‘liderança’ ucraniana não demonstrou qualquer gratidão pelos nossos esforços e a Europa continua a comprar petróleo à Rússia”, escreveu na Truth Social. Rubio disse mais tarde que Trump estava satisfeito com a forma que o diálogo estava a decorrer.Zelensky não respondeu diretamente, mas, numa mensagem no X, reiterou o agradecimento aos norte-americanos. “A liderança dos EUA é importante, estamos gratos por tudo o que os EUA e o presidente Trump estão a fazer pela segurança, e continuaremos a trabalhar da forma mais construtiva possível”, disse.