A tomada de posse formal será numa cerimónia íntima apenas com a família e colaboradores mais próximos, aos primeiros minutos do novo ano, debaixo dos arcos dourados da antiga estação de metro sob o edifício da Câmara Municipal de Nova Iorque. A ideia é refletir o seu compromisso com a classe trabalhadora que mantém a cidade que nunca dorme a funcionar. Zohran Mamdani, de 34 anos, vai prestar juramento como mayor diante da amiga e procuradora do estado, Letitia James, sendo o primeiro muçulmano (há relatos contraditórios sobre se vai usar o Alcorão) e descendente de asiáticos (os pais são indianos, ele nasceu no Uganda) no cargo.A segunda cerimónia será pelas 13.00 horas locais (18.00 em Lisboa) do primeiro dia de 2026, nos degraus da Câmara Municipal, cabendo ao senador Bernie Sanders, figura maior da esquerda americana e uma inspiração para Mamdani, presidir ao juramento. Dezenas de milhares de pessoas são esperadas para a grande festa de rua na Broadway, que marca o início dos desafios para o autoproclamado socialista (um termo que, nos EUA, é associado à esquerda radical ou até mesmo ao comunismo). Mamdani, que venceu o antigo governador Andrew Cuomo com 50,68% dos votos, terá de cumprir as promessas de mudança - entre elas a criação de um sistema universal de cuidados infantis para todas as crianças dos 6 meses aos 5 anos, tornar os autocarros públicos “rápidos e gratuitos” e congelar as rendas de um milhão de apartamentos com a renda controlada. Ele próprio viveu num em Queens, mudando-se agora para a residência oficial, a Gracie Mansion, com a mulher, a artista Rama Duwaji, de 28 anos.Mas também terá de conquistar os eleitores que não votaram nele, muitos dos quais são agora seus novos vizinhos no Upper East Side. Isto se quiser inspirar toda uma nova geração de políticos nos EUA (já é um dos mais escrutinados) e ser reeleito para mais um mandato e não se tornar apenas uma nota de rodapé excêntrica ao final de apenas quatro anos no cargo. “Ele precisa de usar os primeiros 100 dias do governo para mostrar às pessoas que sabe governar”, disse à AP o veterano consultor político George Arzt, indicando que o primeiro discurso como mayor será muito importante.Na realidade, os desafios começaram ainda na etapa da transição, mas Mamdani parece ter-se saído bem até agora. O establishment político da cidade respirou de alívio quando resolveu, por exemplo, manter a judia Jessica Tisch como comissária da Polícia (apesar de diferentes visões sobre como garantir a segurança na cidade) ou quando o autarca eleito reagiu rapidamente após virem a público mensagens antissemitas de uma das suas nomeadas para o executivo camarário, aceitando a sua demissão. Mas a relação com os judeus na cidade continua complicada, devido às suas críticas ao governo israelita e a defesa dos direitos palestinianos.Mamdani também ganhou pontos (talvez não entre os seus apoiantes) quando surgiu sorridente ao lado do presidente, na Sala Oval. Durante a campanha, Donald Trump tinha ameaçado cortar nos fundos federais à cidade, caso o democrata - que apelidou de “lunático de esquerda radical” ou “antissemita” - vencesse as eleições. Mas, na reunião, defendeu-o como “uma pessoa muito racional”.Já Mamdani tinha criticado as ações da administração contra os imigrantes (e Trump tinha prometido também aumentar as ações em Nova Iorque caso ele ganhasse), comparando Trump a um déspota. Mas na reunião na Casa Branca e diante das perguntas dos jornalistas sobre se ainda considerava o presidente um “fascista”, Trump disse a Mamdani para responder que sim, porque “é mais fácil do que explicar” e afirmou que já lhe chamaram pior do que déspota. Mas só quando o autarca estiver no cargo se verá como será a relação entre ambos.O mayor optou por rodear-se de pessoas com experiência, para o ajudarem a gerir a maior cidade dos EUA, enquanto aposta em implementar a sua ambiciosa agenda que coloca os trabalhadores nova-iorquinos (e não as elites ricas) no centro.Conta também com o apoio da governadora de Nova Iorque, Kathy Hochul - que vai a votos em 2026 e não quer aumentar os impostos (algo que Mamdani defende que deve acontecer em relação aos mais ricos). A criação do sistema universal de cuidados infantis será uma das políticas mais caras que terá de implementar (seis mil milhões de dólares por ano), ainda não sendo claro como o fará.E depois há a proposta de congelar um milhão de rendas controladas, que pode enfrentar resistência depois de o antecessor, Eric Adams, ter resolvido fazer uma série de nomeações para o organismo que toma esse decisão..Zohran Mamdani, o socialista que está perto de governar Nova Iorque