Antes do último Dia da Bastilha do seu primeiro mandato, o presidente francês, Emmanuel Macron, lançou as bases daquele que poderá ser o seu segundo mandato. Apesar de ainda não ser oficialmente candidato às presidenciais de 2022, foi um Macron em pré-campanha que falou na segunda-feira à noite aos franceses. Apontou os sucessos ao nível do crescimento e do emprego, apesar da pandemia, e estabeleceu as bases para os próximos meses, deixando claro que a reforma das pensões é para avançar, "desde que as condições sanitárias estejam reunidas". A menos de nove meses das eleições, a variante Delta da covid-19 pode estragar-lhe os planos..Ao contrário dos outros sete discursos que fez durante a pandemia, todos a partir do palácio presidencial, desta vez o pano de fundo foi a torre Eiffel. "Na rentrée temos um encontro com o nosso futuro. Para construir uma França independente, que não vive na nostalgia, mas sabe tomar as decisões necessárias ao seu destino. Uma França conquistadora, que acredita na força da sua juventude e não tem medo do futuro, mas inventa-o. Uma França unida que sabe ser solidária, cívica, responsável tanto nas adversidades, como nas conquistas", disse o presidente, naquela que podia ser uma citação de um discurso de campanha..Promessa do "reformador" Macron em 2017, a contestada reforma do sistema de pensões (há 42 regimes diferentes) foi adiada por causa da pandemia. Macron não quer chegar às presidenciais sem avanços nesta matéria (arrisca afastar o eleitorado de direita), tendo dado ordens ao governo para recomeçar a dialogar com os parceiros sociais na rentrée política. Na intervenção, o presidente lembrou ainda que é preciso aumentar a idade da reforma (atualmente os 62 anos). "Porque vivemos mais tempo, é preciso que trabalhemos mais tempo e passar à reforma mais tarde", afirmou..Na segunda-feira, Macron reuniu também com os seus deputados do La République en Marche. Na agenda, não voltaram a olhar para as derrotas eleitorais deste ano - quer as municipais de 2020 ou as regionais do mês passado, onde o partido teve uma prestação fraca. "Vivemos crises históricas, os coletes amarelos, as reformas, o vírus, e mostrámos que sabemos resistir às crises. E não abandonámos as nossas ambições de reformas", terá dito Macron no encontro, segundo o Le Figaro, exortando o partido a voltar às ruas e a espalhar a mensagem do que foi feito..As eleições presidenciais foram ontem oficialmente marcadas para 10 de abril do próximo ano (com a segunda volta a 24 de abril), sendo que as legislativas vão decorrer a 12 e 19 de junho. Nas sondagens, Macron está numa luta acirrada com Marine Le Pen, da União Nacional (antiga Frente Nacional), na primeira volta, vencendo depois no frente a frente 14 dias depois..Um dos obstáculos que surge à frente do presidente é a variante Delta, três vezes mais transmissível do que a original - os números estão a subir desde o início do mês e na segunda-feira foram registados mais 1260 novos casos e 28 mortes, com as hospitalizações a voltar a aumentar. Grande parte da intervenção de Macron foi a apresentação dos planos para travar a sua propagação em França, numa aposta na vacinação para não ter que voltar a confinar e a fechar a economia..Pelo menos 33,5 milhões de pessoas, isto é, metade da população francesa, já recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, mas a taxa de vacinação estava em queda há várias semanas - a França é um dos países onde o ceticismo em relação à vacina era maior, no início da pandemia..Diante da ameaça da variante Delta, Macron quis alterar essa situação, alargando a obrigatoriedade de apresentar um passe covid (que mostra que o portador tem a vacinação completa ou um teste negativo) a todos os que queiram ir ao restaurante, ao café, ao centro comercial, andar de avião ou de comboio, ir ao cinema ou ao teatro. Além disso, os testes PCR deixam de ser gratuitos no outono, para incentivar antes a vacina. Esta passa a ser obrigatória para quem trabalha no setor da saúde ou trabalhe com pessoas vulneráveis, com Macron a não pôr de lado a hipótese de alargar essa obrigatoriedade a toda a população. A ameaça parece ter resultado, com os franceses a correrem a marcar a sua vacinação..O passe covid já é obrigatório para as comemorações de hoje do Dia da Bastilha, com o desfile militar a voltar às ruas (e aos céus) de Paris . No ano passado tinha sido cancelado por causa da pandemia (pela primeira vez desde a II Guerra Mundial), tendo sido substituído por uma homenagem aos profissionais de saúde e outros envolvidos na luta contra a covid-19..O espetáculo desde ano, que começa às 10.00 (9.00 em Lisboa) inclui 4500 soldados a pé, 71 aviões, 25 helicópteros, 221 veículos e 200 cavalos. O público pode assistir nos Campos Elísios, com 25 mil lugares sentados (também haverá em pé) para os quais é preciso apresentar o passe covid. É preciso também máscara - desde há quase um mês que não é obrigatória no exterior. A festa do Dia Nacional culmina num concerto de música clássica aos pés da torre Eiffel, de entrada grátis, seguindo-se o fogo de artifício..Desde 2016 que o Dia da Bastilha é também de luto e não só de festa em Nice. Naquela noite, o tunisino Mohamed Lahouaiej-Bouhlel conduziu um camião de 19 toneladas ao longo de 2 km da Promenade des Anglais e matou 86 pessoas de 19 nacionalidades, incluindo 15 menores, causando também 458 feridos. O atacante, que vivia em França, foi morto a tiro pela polícia e o ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico. Cinco anos depois, as vítimas serão lembradas com 86 raios de luz, iluminados à hora em que começou o ataque, 22.34..susana.f.salvador@dn.pt
Antes do último Dia da Bastilha do seu primeiro mandato, o presidente francês, Emmanuel Macron, lançou as bases daquele que poderá ser o seu segundo mandato. Apesar de ainda não ser oficialmente candidato às presidenciais de 2022, foi um Macron em pré-campanha que falou na segunda-feira à noite aos franceses. Apontou os sucessos ao nível do crescimento e do emprego, apesar da pandemia, e estabeleceu as bases para os próximos meses, deixando claro que a reforma das pensões é para avançar, "desde que as condições sanitárias estejam reunidas". A menos de nove meses das eleições, a variante Delta da covid-19 pode estragar-lhe os planos..Ao contrário dos outros sete discursos que fez durante a pandemia, todos a partir do palácio presidencial, desta vez o pano de fundo foi a torre Eiffel. "Na rentrée temos um encontro com o nosso futuro. Para construir uma França independente, que não vive na nostalgia, mas sabe tomar as decisões necessárias ao seu destino. Uma França conquistadora, que acredita na força da sua juventude e não tem medo do futuro, mas inventa-o. Uma França unida que sabe ser solidária, cívica, responsável tanto nas adversidades, como nas conquistas", disse o presidente, naquela que podia ser uma citação de um discurso de campanha..Promessa do "reformador" Macron em 2017, a contestada reforma do sistema de pensões (há 42 regimes diferentes) foi adiada por causa da pandemia. Macron não quer chegar às presidenciais sem avanços nesta matéria (arrisca afastar o eleitorado de direita), tendo dado ordens ao governo para recomeçar a dialogar com os parceiros sociais na rentrée política. Na intervenção, o presidente lembrou ainda que é preciso aumentar a idade da reforma (atualmente os 62 anos). "Porque vivemos mais tempo, é preciso que trabalhemos mais tempo e passar à reforma mais tarde", afirmou..Na segunda-feira, Macron reuniu também com os seus deputados do La République en Marche. Na agenda, não voltaram a olhar para as derrotas eleitorais deste ano - quer as municipais de 2020 ou as regionais do mês passado, onde o partido teve uma prestação fraca. "Vivemos crises históricas, os coletes amarelos, as reformas, o vírus, e mostrámos que sabemos resistir às crises. E não abandonámos as nossas ambições de reformas", terá dito Macron no encontro, segundo o Le Figaro, exortando o partido a voltar às ruas e a espalhar a mensagem do que foi feito..As eleições presidenciais foram ontem oficialmente marcadas para 10 de abril do próximo ano (com a segunda volta a 24 de abril), sendo que as legislativas vão decorrer a 12 e 19 de junho. Nas sondagens, Macron está numa luta acirrada com Marine Le Pen, da União Nacional (antiga Frente Nacional), na primeira volta, vencendo depois no frente a frente 14 dias depois..Um dos obstáculos que surge à frente do presidente é a variante Delta, três vezes mais transmissível do que a original - os números estão a subir desde o início do mês e na segunda-feira foram registados mais 1260 novos casos e 28 mortes, com as hospitalizações a voltar a aumentar. Grande parte da intervenção de Macron foi a apresentação dos planos para travar a sua propagação em França, numa aposta na vacinação para não ter que voltar a confinar e a fechar a economia..Pelo menos 33,5 milhões de pessoas, isto é, metade da população francesa, já recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19, mas a taxa de vacinação estava em queda há várias semanas - a França é um dos países onde o ceticismo em relação à vacina era maior, no início da pandemia..Diante da ameaça da variante Delta, Macron quis alterar essa situação, alargando a obrigatoriedade de apresentar um passe covid (que mostra que o portador tem a vacinação completa ou um teste negativo) a todos os que queiram ir ao restaurante, ao café, ao centro comercial, andar de avião ou de comboio, ir ao cinema ou ao teatro. Além disso, os testes PCR deixam de ser gratuitos no outono, para incentivar antes a vacina. Esta passa a ser obrigatória para quem trabalha no setor da saúde ou trabalhe com pessoas vulneráveis, com Macron a não pôr de lado a hipótese de alargar essa obrigatoriedade a toda a população. A ameaça parece ter resultado, com os franceses a correrem a marcar a sua vacinação..O passe covid já é obrigatório para as comemorações de hoje do Dia da Bastilha, com o desfile militar a voltar às ruas (e aos céus) de Paris . No ano passado tinha sido cancelado por causa da pandemia (pela primeira vez desde a II Guerra Mundial), tendo sido substituído por uma homenagem aos profissionais de saúde e outros envolvidos na luta contra a covid-19..O espetáculo desde ano, que começa às 10.00 (9.00 em Lisboa) inclui 4500 soldados a pé, 71 aviões, 25 helicópteros, 221 veículos e 200 cavalos. O público pode assistir nos Campos Elísios, com 25 mil lugares sentados (também haverá em pé) para os quais é preciso apresentar o passe covid. É preciso também máscara - desde há quase um mês que não é obrigatória no exterior. A festa do Dia Nacional culmina num concerto de música clássica aos pés da torre Eiffel, de entrada grátis, seguindo-se o fogo de artifício..Desde 2016 que o Dia da Bastilha é também de luto e não só de festa em Nice. Naquela noite, o tunisino Mohamed Lahouaiej-Bouhlel conduziu um camião de 19 toneladas ao longo de 2 km da Promenade des Anglais e matou 86 pessoas de 19 nacionalidades, incluindo 15 menores, causando também 458 feridos. O atacante, que vivia em França, foi morto a tiro pela polícia e o ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico. Cinco anos depois, as vítimas serão lembradas com 86 raios de luz, iluminados à hora em que começou o ataque, 22.34..susana.f.salvador@dn.pt