O destino de François Bayrou estava traçado praticamente desde o momento em que pediu a moção de confiança e a Declaração de Política Geral desta segunda-feira (8 de setembro) não fez nenhum deputado mudar de opinião. O primeiro-ministro avisou que a “esperança de vida” da França “está em risco” devido à “dívida excessiva” do país, falando da necessidade de fazer algo para mudar. Mas, por 194 votos a favor e 364 contra, os deputados fizeram cair o Governo, atribuindo as culpas ao presidente francês. Bayrou vai apresentar a demissão esta terça-feira de manhã (9 de setembro), às 8h00 locais [7h00 em Lisboa], com o Palácio do Eliseu a dizer já que Emmanuel Macron nomeará um sucessor “nos próximos dias”. O presidente terá assim o quinto chefe do Governo em três anos, ignorando os apelos para que convoque novas legislativas ou para que se demita também.No início do debate, o primeiro-ministro avisou os deputados que “têm o poder de derrubar o Governo, mas não têm o poder de apagar a realidade”. Bayrou explicou que “50 mil milhões [de euros] são criados pelo trabalho” em França e “mais de cem mil milhões são transferidos para os credores”. Uma situação insustentável. “O nosso país trabalha, acredita que está a enriquecer e, a cada ano, está um pouco mais pobre. É uma hemorragia silenciosa, subterrânea, invisível e insuportável”, avisou, defendendo o seu orçamento para começar a reverter essa situação.Mas os partidos políticos não cederam no seu “não” a Bayrou, que foi o quarto primeiro-ministro de Macron em dois anos. Aliás, o Libération notou até que teve piores números que o antecessor, Michel Barnier, que caiu em dezembro com 364 votos contra após três meses no cargo. Bayrou ficou nove meses, devendo continuar como interino até o presidente efetivar a sua decisão de nomear outro líder para o Executivo, numa Assembleia Nacional fragmentada.No debate, ficou claro que muitos partidos culpam o presidente da atual crise política em França. A líder parlamentar do Reagrupamento Nacional (RN, extrema-direita), Marine Le Pen, defendeu desde o púlpito que “legalmente, politicamente, até moralmente” a dissolução da Assembleia Nacional “não é uma opção, mas uma obrigação”. Le Pen soube esta segunda-feira (8 de setembro) que o recurso à sua condenação por desvios de fundos do Parlamento Europeu, relacionado com o caso de falsos assistentes, será julgado em janeiro. A líder do RN está atualmente proibida de concorrer a eleições, mesmo sendo a favorita nas sondagens para as presidenciais, e espera que o recurso possa reverter a situação. Já Éric Ciotti, ex-Os Republicanos e atualmente presidente da União das Direitas pela República, disse diretamente que “o grande responsável por este desastre” é o presidente francês. O primeiro a abrir o debate foi o socialista Boris Vallaud, que apelidou Macron de “derrotado” - alegando que a decisão de Bayrou de convocar a moção de censura “não é um ato de coragem, mas uma desculpa esfarrapada”.A líder parlamentar da França Insubmissa (esquerda radical), Mathilde Panot, comparou Macron ao soldado Ryan (do filme de Steven Spielberg) que é preciso salvar. “Todos os que tentarem salvar o soldado Macron cairão com ele”, afirmou, dizendo que os primeiros-ministros “servem para o proteger”.O líder do Renascimento de Macron, ele próprio ex-primeiro-ministro Gabriel Attal, defendeu ontem que o presidente nomeie um “negociador” para reunir as diferentes forças políticas e preparar um “acordo de interesse geral” para garantir um orçamento que possa ser aprovado. Mas esse não parece ser o plano do presidente. Outros partidos querem ser ouvidos por Macron antes de este tomar uma decisão, suspeitando-se que o chefe do Estado possa virar-se para a esquerda (que ganhou as legislativas) à procura de um sucessor de Bayrou (que era centrista). A agenda não será fácil para o presidente, que terá que contar com a contestação das ruas. Para esta quarta-feira (10 de setembro) está previsto o grande protesto nascido nas redes sociais (não é bem claro onde, nem quando) para “bloquear tudo”. Um movimento de contestação que está a ser comparado ao dos coletes amarelos de 2018, contando com o apoio dos partidos de esquerda radical e de vários sindicatos. O impacto deste protesto é ainda uma incógnita. No dia 18, será a vez de uma greve geral, que conta com o apoio dos oito maiores sindicatos do país. .Caiu o governo em França. Bayrou perde moção de confiança e Macron vai nomear sucessor "nos próximos dias"