Desde o início dos ataques entre Israel e o Irão, que completaram esta terça-feira, 17 de junho, o seu quinto dia, Teerão já perdeu vários comandantes de alto escalão, incluindo os conselheiros da Guarda Revolucionária mais próximos do líder supremo iraniano, deixando o ayatollah Ali Khamenei cada vez mais isolado. Paralelamente, a sua vida tem vindo a ser ameaçada, tanto por Israel, através do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, como pelos Estados Unidos, com o presidente Donald Trump a deixar claro: “Não mataremos o líder supremo iraniano, por enquanto.”Comecemos pelo crescente isolamento de Khamenei causado pela morte de vários dos seu principais conselheiros desde sexta-feira, como o comandante-geral da Guarda Revolucionária, Hossein Salami, o chefe do departamento aeroespacial, Amir Ali Hajizadeh, que chefiava o programa de mísseis balísticos do Irão, e o chefe de espionagem Mohammad Kazemi. Homens que faziam parte de um círculo íntimo do líder supremo iraniano, composto por cerca de 15 a 20 pessoas, entre militares, clérigos e políticos. De recordar que, embora o Irão tenha um presidente, é o líder supremo que detém o comando das Forças Armadas, o poder de declarar guerra e a faculdade de nomear ou demitir figuras importantes, como comandantes militares e juízes. Mesmo assim, segundo fontes próximas de Khamenei ouvidas pela Reuters, este valoriza os pontos de vista dos seus conselheiros.Esta terça-feira, Israel garantiu que continuava a atacar a liderança iraniana "para aprofundar as nossas conquistas, de acordo com o nosso plano e no nosso próprio calendário", alegando ter matado o general Ali Shadmani, descrito pelo Exército israelita como o comandante militar mais antigo do Irão e o mais próximo do líder supremo. Shadmani era quase um desconhecido até à semana passada, quando foi nomeado chefe do Quartel-General Central Khatam al-Anbiya da Guarda Revolucionária, cargo semelhante ao de chefe do Estado-Maior. Uma nomeação que ocorreu após a morte do seu antecessor, o general Gholam Ali Rashid, num ataque israelita.Numa entrevista dada na segunda-feira à estação de televisão norte-americana ABC News, o primeiro-ministro israelita garantiu que visar Khamenei iria “acabar com o conflito" entre Telavive e Teerão iniciado no final da semana passada e “não intensificá-lo”. Questionado sobre se Israel atacaria o líder supremo, Benjamin Netanyahu respondeu que estavam a “fazer o que precisamos de fazer”.Mais direto, e em declarações proferidas esta terça-feira, o ministro da Defesa israelita afirmou que o líder supremo do Irão pode enfrentar o mesmo destino do presidente iraquiano Saddam Hussein — deposto numa invasão liderada pelos Estados Unidos e enforcado após ser julgado. “Advirto o ditador iraniano para que não continue a cometer crimes de guerra e a disparar mísseis contra cidadãos israelitas", declarou Israel Katz, de acordo com a Reuters. Também o presidente dos Estados Unidos, que abandonou mais cedo a reunião de líderes do G7, a decorrer no Canadá, por causa da situação no Médio Oriente, usou esta terça-feira a plataforma Truth Social para afirmar: “Sabemos exatamente onde se esconde o chamado 'líder supremo'. É um alvo fácil, mas está seguro lá — não o vamos eliminar (matar!), pelo menos por agora. Mas não queremos que os mísseis sejam disparados contra civis ou soldados americanos. A nossa paciência está a esgotar-se. Obrigado pela sua atenção a este assunto!" Uns minutos depois acrescentou: “RENDIÇÃO INCONDICIONAL!”As declarações de Donald Trump em relação ao Irão têm vindo a endurecer desde o início do conflito com Israel, na passada sexta-feira. Esta terça-feira, o líder norte-americano começou por dizer que tinha como objetivo “um fim, um fim real, não um cessar-fogo” entre as duas partes e que passa pelo Irão "desistir completamente" do enriquecimento de urânio, deixando também claro que qualquer ataque iraniano contra americanos ou bases americanas teria consequências. “Vamos atacar com tanta força, não vamos usar luvas.”Em resposta, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão afirmou que estavam abertos a retomar as negociações com os Estados Unidos sobre o seu programa nuclear — estava prevista uma reunião entre as duas partes para o passado domingo, que foi cancelada devido ao início dos ataques. "Se o presidente Trump for sincero na sua diplomacia e estiver interessado em interromper esta guerra, os próximos passos serão importantes", disse Abbas Araghchi.Trump, depois de esta terça-feira, num primeiro momento, ter ponderado encarregar o vice-presidente JD Vance ou o enviado especial Steve Witkoff de falar com o Irão, acabou por mudar de ideias: “Não estou muito para negociar.”Em crescendo parece estar também o envolvimento militar de Washington neste conflito. Depois de numa primeira declaração, logo na sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, ter garantido que "não estamos envolvidos em ataques contra o Irão e a nossa principal prioridade é proteger as forças norte-americanas na região”, esta terça-feira Donald Trump, mais uma vez através da Truth Social, garantiu que “temos o controlo total e completo sobre os céus do Irão”.“O Irão tinha bons detetores aéreos e outros equipamentos de defesa, e muitos, mas não se comparam aos que são feitos, concebidos e fabricados nos Estados Unidos. Ninguém o faz melhor do que os bons e velhos Estados Unidos”, escreveu ainda o líder norte-americano.Estas suas declarações surgiram minutos depois de o vice-presidente norte-americano ter confirmado que Donald Trump poderá considerar necessário adotar “mais medidas” para travar o programa de enriquecimento de urânio do Irão. JD Vance, que elogiou a “contenção” de Trump, especulou sobre futuros passos, sublinhando que “a decisão final cabe ao Presidente”.O Egito, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Badr Abdelatty, apelou esta terça-feira a um cessar-fogo durante as conversas telefónicas que manteve com o enviado dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff, e líder da diplomacia iraniana, Abbas Araqchi. Uma mensagem passada também pelo ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, sheikh Abdullah bin Zayed, que avisou que "medidas imprudentes e não-calculadas" podem levar a um conflito regional mais amplo.