Mais de uma semana depois de os norte-americanos irem às urnas, uma vitória no Arizona e outra na Califórnia deram aos republicanos a maioria na Câmara dos Representantes. O partido chegou aos 218 lugares (em 435 possíveis) e está à frente noutros quatro dos nove que falta declarar, podendo manter os 222 que tem desde 2022. Uma vitória para Donald Trump que, tal como em 2016, vai entrar na Casa Branca com uma maioria republicana também no Senado (53-47) e tem a porta aberta para aprovar a sua legislação..Há oito anos os republicanos também controlavam as duas câmaras do Congresso, com uma diferença. Na altura o partido ainda não tinha sido redesenhado à imagem do presidente eleito e do movimento MAGA (Make America Great Again), com vários congressistas e senadores resistentes à sua agenda política. Também não tinha o controlo do Supremo Tribunal, que funciona como garante final de que a legislação aprovada respeita a Constituição..Agora, Trump está rodeado de apoiantes - no caso do Senado isso será testado nas audiências de confirmação dos nomes propostos para a sua Administração - e tem uma maioria conservadora no Supremo Tribunal. Dois dos três juízes que o republicano conseguiu nomear no primeiro mandato (Neil Gorsuch e Brett Kavanaugh) foram aprovados precisamente quando tinha a maioria nas duas Câmaras..Nos dois anos em que os republicanos controlaram o Congresso (em 2018 perderam a maioria na Câmara dos Representantes), Trump conseguiu aprovar várias medidas legislativas cruciais - além de reverter uma série de regulamentações, incluindo ambientais e financeiras..Um dos pacotes legislativos mais importantes aprovados nessa altura foi a revisão do código fiscal dos EUA, lembra a FOX News. Entre outras coisas, a nova lei significou uma redução dos impostos sobre as empresas (de 35% para 21%) e sobre os contribuintes em geral (apesar de os críticos dizerem que beneficiava os mais ricos), além de abrir a porta a um incentivo fiscal sobre os lucros das empresas trazidos do estrangeiro para os EUA. Algumas dessas reformas expiram no final do próximo ano, sendo a sua prorrogação uma das prioridade do novo Congresso em janeiro, tal como o aligeirar das regras para a exploração do petróleo e do gás natural..Os congressistas republicanos deram, na quarta-feira à noite, com o aval de Trump, o seu apoio ao atual speaker, Mike Johnson, para continuar no cargo - terá de ser reeleito oficialmente quando o novo Congresso tomar posse, em janeiro. E voltaram a apostar em Steve Scalise para líder da maioria. Johnson define-se como “o quarterback” (líder do ataque no futebol americano) do “treinador” Trump, deixando claro que as suas prioridades são as de Trump - deportações em massa de imigrantes ilegais, cortes nos impostos, redução dos trabalhadores a nível federal e uma imagem mais forte dos EUA no estrangeiro..Segundo a agência AP, o speaker tem trabalhado com o presidente eleito numa “ambiciosa agenda para os primeiros 100 dias”, na esperança de evitar “os erros” do primeiro mandato de Trump, quando o Congresso não estava preparado e desperdiçou “tempo precioso”. Mas, com uma maioria pela margem mínima - e as saídas potenciais de pelo menos três congressistas para a Administração de Trump podem complicar ainda mais as contas nos primeiros dias -, Johnson não tem uma tarefa fácil..Speaker de recurso escolhido para substituir Kevin McCarthy há mais de um ano, Johnson enfrentou algumas rebeliões nas fileiras republicanas. Um cenário que poderá voltar a repetir-se e que será testado quando precisar da maioria absoluta para ser reeleito para o cargo, assim que a Câmara dos Representantes tomar posse a 3 de janeiro..No Senado, a maioria republicana é mais forte, mas a sua lealdade a Trump será também rapidamente testada. O presidente eleito tem defendido um procedimento extraordinário para permitir que a sua Administração - onde já há nomes polémicos - tome posse sem passar pelas audiências de aprovação no Senado. Na quarta-feira, os senadores republicanos elegeram John Thune como líder da maioria (será ele o responsável por controlar a agenda legislativa)..O voto foi secreto, sendo visto como um primeiro sinal de independência dos senadores em relação ao presidente eleito - oficialmente Trump não apoiou nenhum dos três candidatos, mas muitos à sua volta apoiavam Rick Scott. Thune é considerado uma continuação de Mitch McConnell (que deixa a liderança após 17 anos no cargo) e da ala tradicional do Partido Republicano mas, na campanha para a liderança, deixou clara a sua proximidade ao presidente eleito - disse que “não há luz do dia” entre ele e Trump..susana.f.salvador@dn.pt