Justin Trudeau está de saída após mais de nove anos como primeiro-ministro do Canadá.
Justin Trudeau está de saída após mais de nove anos como primeiro-ministro do Canadá.EPA/ Chris J. Ratcliffe / POOL

Liberais elegem sucessor de Trudeau de olho na guerra comercial com EUA

Resultado das eleições para líder partidário (e consequentemente o próximo chefe do governo) é conhecido no domingo, num preâmbulo para as eleições federais. Corrida é a quatro, mas há dois favoritos.
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A eleição é para o líder do Partido Liberal, mas em jogo está o nome do próximo primeiro-ministro do Canadá e sucessor de Justin Trudeau em plena ameaça de guerra comercial com os EUA. Nem que seja só por alguns meses, prevendo-se que os canadianos sejam chamados a eleições federais em breve. Após uma década de governo liberal, as sondagens apontam para a vitória dos conservadores de Pierre Poilievre. Mas os choques com Donald Trump - que insiste em dizer que o Canadá vai ser o “51.º estado” norte-americano e em chamar Trudeau de “governador” - podem ser a lufada de ar que os liberais precisavam.

A corrida à liderança do partido foi desencadeada a 6 de janeiro, com o anúncio de Trudeau de que estava de saída e que continuaria na chefia do governo até à eleição de um sucessor. “Tornou-se óbvio para mim, com as lutas internas, que não posso ser eu a levar o estandarte liberal às próximas eleições”, disse. À frente do partido desde 2013 e do governo desde 2015, Trudeau estava a ser cada vez mais posto em causa pelos seus próprios deputados à medida que caía nas sondagens.

Os sinais de alarme soaram em junho, quando o partido perdeu umas eleições intercalares num bastião liberal de Toronto. Depois, perdeu noutro bastião em Montreal. A gota de água foi a demissão, em dezembro, da ministra das Finanças e número dois de Trudeau, Chrystia Freeland, no dia em que devia ter apresentado o orçamento de Outono. Saiu em choque com o primeiro-ministro e diante da ameaça das tarifas norte-americanas.

Freeland é uma das favoritas à vitória, tendo como ponto positivo a sua experiência e o facto de ter liderado a renegociação do acordo de livre comércio com os EUA e o México em 2018. Trump disse que ela era “tóxica”, o que no atual cenário pode ser um bom sinal. Freeland já disse que o presidente dos EUA representa “a maior ameaça para o Canadá desde a II Guerra Mundial”. Por outro lado, a sua proximidade durante quase uma década com Trudeau é uma desvantagem.

O seu principal adversário - numa corrida a quatro que inclui ainda a ex-líder do Governo na Câmara dos Comuns, Karina Gould, e o ex-deputado Frank Baylus - é o antigo governador do Banco do Canadá (e também do Banco de Inglaterra) Mark Carney. O economista tem um currículo invejável, mas pouca experiência política, sendo estas as primeiras eleições que disputa.

Carney chegou a ser pensado por Trudeau para ministro das Finanças após a saída de Freeland, sendo que há mais de dez anos também foi uma hipótese do governo conservador para assumir essa mesma pasta. Mas nunca foi político. Apesar disso está à frente nas sondagens entre os liberais - 43% contra 31% de Freeland - mas também entre os canadianos em geral - 42% contra 26%.

O resultado das eleições para líder do partido, no qual cerca de 400 mil pessoas estavam inscritas para votar, é conhecido no domingo. É um cálculo complicado, com base em escolha de preferências (se um candidato não chegar aos 50%, os votos do menos votado são redistribuídos), mas que também tem em conta a distribuição regional dos votos (são 343 círculos eleitorais no país).

As eleições federais têm que decorrer até 20 de outubro, mas os liberais estão à frente de um governo de minoria e tudo indica que os canadianos tenham que ir a votos antes. Seja porque o novo primeiro-ministro as resolva convocar (pode fazê-lo logo no domingo) ou porque, no final de março, quando o Parlamento retomar os trabalhos chumbe um voto de confiança.

Há meses que os conservadores de Poilievre surgem nas sondagens com mais de 20 pontos de vantagem. Mas os ataques de Trump estão a dar uma nova vida aos liberais, que em duas pesquisas no final de fevereiro chegaram a estar na frente e, pelo menos, parecem ter cortado na diferença.

Poilievre, que já foi elogiado pelo milionário Elon Musk, é apelidado pelos liberais de “maple syrup MAGA” (referência ao típico xarope de ácer e ao Make America Great Again de Trump) para o tentar colar ao presidente dos Estados Unidos. Sobre as tarifas, Poilievre fala em “esfaquear o melhor amigo da América nas costas”.

Os candidatos

Os quatro candidatos: Mark Carney e Chrystia Freeland (em cima); Karina Gould e Frank Baylis (em baixo)
Os quatro candidatos: Mark Carney e Chrystia Freeland (em cima); Karina Gould e Frank Baylis (em baixo)Montagem/Fotos X dos candidatos

Mark Carney: O economista de 59 anos foi governador do Banco do Canadá (2008-2013) e do Banco de Inglaterra (2013-2020). É um dos favoritos, tendo o seu nome já sido falado para assumir a liderança em 2013. Apresenta-se como outsider, não tendo feito parte do governo de Justin Trudeau - que chegou a pensar nomeá-lo para as Finanças em dezembro. Desde 2020 e até janeiro foi enviado especial das Nações Unidas para a ação climática e as finanças.

Chrystia Freeland: É a outra favorita. Uma das mais próximas aliadas de Trudeau, a vice-primeira-ministra e titular das Finanças demitiu-se em dezembro em choque com ele por causa dos gastos públicos. Antiga jornalista de 56 anos, foi eleita deputada em 2013 e estreou-se no governo como ministra Comércio Internacional em 2015 (liderou a equipa que renegociou o acordo de livre comércio com os EUA em 2018), passou pelos Negócios Estrangeiros e pelos Assuntos Intergovernamentais antes de assumir as Finanças em 2020.

Karina Gould: Líder do Governo na Câmara dos Comuns entre 2023 e janeiro, fez história em 2017 como a mais jovem ministra (tinha 29 anos quando assumiu a pasta das Instituições Democráticas, tendo passado depois pela Ajuda Externa e pelas Famílias) e, em 2018, quando foi a primeira a gozar a licença de maternidade. Agora, aos 37 anos, quer também fazer história como a primeira mulher líder dos liberais.

Frank Baylis: O empresário do setor da tecnologia médica, de 62 anos, esteve um mandato como deputado (2015-2019). É candidato, mas as suas hipóteses são remotas.

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