Para o novo primeiro-ministro francês poder sobreviver no cargo e conseguir aprovar um Orçamento pela via parlamentar só há um caminho: negociar com o Partido Socialista. A distribuição de assentos na Assembleia Nacional e o anúncio dos partidos dos extremos não deixam margem para outros cenários. Mas quando Sébastien Lecornu receber nesta quarta-feira o secretário-geral do PS, Olivier Faure, ambos estarão em compasso de espera para se medir a temperatura da irritação pública quanto às medidas de austeridade propostas pelo anterior chefe de governo, François Bayrou: na quinta-feira é dia de greve. “Quanto mais pessoas estiverem nas ruas na quinta-feira, mais poderemos negociar”, disse Faure. “A palavra dos franceses que se vão expressar na quinta-feira é suscetível de enfraquecer a política governamental. O nosso problema não é mudar de primeiro-ministro, é mudar de políticas”, afirmou. Ideia semelhante foi defendida pelo senador Ian Brossat, cujo Partido Comunista também é recebido por Lecornu: “Não se cria uma relação de força no gabinete do primeiro-ministro. Participamos nas consultas, mas não participamos da mesma maneira quando estamos confortados por um movimento social poderoso do que quando temos um movimento social inerte.” Convocada pelas centrais intersindicais de (quase) todas as tendências políticas, a jornada de luta é justificada como uma “rejeição” às medidas “brutais e injustas” defendidas pelo governo para o orçamento de 2026. Bayrou propôs a supressão de dois dias feriados - ideia que já foi abandonada -, o congelamento dos salários dos funcionários públicos, a desindexação das pensões de reforma, a duplicação das taxas de copagamento médico, ou a reforma do subsídio de desemprego. Há ainda propostas concretas para empresas do Estado, como por exemplo na ferrroviária SNCF uma redução orçamental de 600 milhões de euros, para que a França corte na dívida pública: é o terceiro país mais endividado da UE, depois da Grécia e da Itália - tendo ultrapassado Portugal, Espanha e Bélgica nos últimos anos. Ameaçado de censura pela extrema-direita de Marine Le Pen e Jordan Bardella e pela extrema-esquerda de Jean-Luc Mélenchon, Lecornu, até agora ministro da Defesa, apresentou-se como um homem capaz de fazer “ruturas” e de “trabalhar sem ideologia” nas questões de justiça fiscal. O socialista Olivier Faure quer introduzir a taxa Zucman, idealizada pelo economista Gabriel Zucman para taxar em 2% a fortuna dos bilionários. Desta forma, disse Faure aos microfones da France 2, e com outras medidas, prevê arrecadar 100 mil milhões de euros. Lecornu já se mostrou contra a taxa Zucman, mas o ministro da Economia Éric Lombard mostrou-se de acordo desde que o património profissional não esteja incluído..França. Lecornu toma posse defendendo "ruturas" não apenas na "forma", mas também "na substância"