Em Tóquio, segunda paragem da viagem asiática de Donald Trump, alguns dos edifícios mais icónicos da metrópole foram iluminados com as cores da bandeira dos Estados Unidos, em jeito de boas-vindas. Para zelar pela segurança do líder norte-americano, foram destacados 18 mil agentes. No final do encontro com o imperador Naruhito, este disse estar perante um “grande homem”. Na véspera, em Kuala Lumpur, o primeiro-ministro malaio Ibrahim Anwar não poupou elogios à sua “tenacidade e coragem, porque o mundo precisa de líderes que promovam a paz com firmeza”, ainda que a custo de “quebrar algumas regras”, disse a propósito do acordo de paz firmado entre Vietname e Camboja. Mas se Trump recebe ademanes e encómios pela paz externa, a situação interna está longe de pacificada, com a paralisação do governo federal desde o início do mês e as controversas políticas de envio de tropas para cidades com governo dos democratas e os raids dos agentes a imigrantes em situação irregular. Ao que se acrescenta mais um cortejo à quebra de regras: questionado sobre a hipótese de continuar na Casa Branca depois do fim do segundo e último mandato, não afastou a hipótese. .EUA e China chegam a princípio de acordo antes do encontro entre Trump e Xi.A viagem de Donald Trump pela Malásia, Japão e Coreia do Sul é sobretudo centrada na economia e terá o seu momento central na reunião com o homólogo chinês Xi Jinping, na quinta-feira. Enquanto isso, milhões de funcionários federais continuam sem perspetivas de receber o salário, com a diferença de que uns receberam ordem para ir para casa e outros, pela natureza das funções, têm de continuar no ativo. A organização não governamental World Central Kitchen, que distribui comida em zonas de conflito e de catástrofe, começou a prestar assistência aos funcionários que trabalham na capital dos Estados Unidos. À Associated Press, Humberto Lopez, trabalhador em licença sem vencimento do Departamento de Defesa, disse estar a começar a sentir a pressão financeira, enquanto esperava na fila pela refeição. “Sabe-se que não se pode sustentar isto por muito mais tempo.” Isto no dia em que o presidente do sindicato mais representativo destes trabalhadores veio a terreiro dizer que é tempo de os políticos chegarem a acordo e financiarem a atividade governamental. “É altura de aprovar uma resolução sem reservas e acabar com este encerramento hoje. Sem meias medidas nem jogos de poder”, defendeu Everett Kelley, presidente da Federação Americana dos Empregados do Governo, que representa mais de 800 mil sindicalizados. Kelley afirmou ainda que republicanos e democratas têm de deixar de se focar em quem ficará mal visto pelos norte-americanos e resolverem de vez o desentendimento. Os democratas exigem reverter um bilião de dólares de cortes na saúde, mas Trump disse só estar disponível para receber a oposição quando o shutdown tiver ficado para trás, ou seja, com a capitulação dos democratas. “Acho que uma das razões pelas quais o presidente Trump se recusa a negociar é porque gosta do facto de o governo estar encerrado, pois acredita que pode exercer poderes semelhantes aos de um rei”, comentou o senador Chris Murphy, democrata eleito pelo Connecticut. Mas o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Mike Johnson, defendeu a atuação do presidente e responsabilizou os democratas. “Fez tudo o que podia. Ele recebeu-os antes de toda esta loucura começar, e Chuck Schumer e Hakeem Jeffries praticamente disseram-lhe para se atirar ao [rio] Potomac”, disse sobre os líderes democratas no Senado e na Câmara. “Portanto, depende dos democratas, toda a gente sabe disso.”Johnson reconheceu não estar “100% certo” de que os membros das forças armadas recebam o seu próximo salário, previsto para esta semana. O anterior foi pago por um doador. A caminho do Japão, Trump não quis identificar quem pagou 130 milhões de dólares para se substituir ao governo federal. “É um patriota incrível”, disse o presidente.Esquema astutoFoi na mesma ocasião que Trump, instado a comentar sobre a hipótese de cumprir um terceiro mandato através do subterfúgio de concorrer como vice-presidente, rejeitou essa hipótese. “Ser-me-ia permitido fazer isso”, começou por dizer. Ao que acrescentou: “Não faria isso. Acho que é demasiado astuto. Sim, descartaria essa hipótese porque é demasiado astuto. Acho que o povo não gostaria disso. É demasiado astuto. Não seria correto.” No entanto, disse que gostaria de permanecer na Casa Branca após 2028. Referindo-se à possibilidade de um terceiro mandato, Donald Trump disse: “Adoraria fazê-lo. Tenho os melhores números de sempre”, em referência provável à economia. O seu ex-conselheiro Stephen Bannon, voz da extrema-direita, disse em recente entrevista à The Economist que os norte-americanos terão de se acostumar à ideia de Trump permanecer no poder. O presidente, sem descartar a hipótese de levar o tema de uma terceira candaidatura à justiça, preferiu levar a jogo o seu vice-presidente J.D. Vance e o secretário de Estado Marco Rubio. “Creio que, se algum dia formassem uma equipa, seriam imparáveis. Estou convicto disso.”.Ressonância “perfeita”O presidente dos EUA revelou ter realizado uma ressonância magnética numa recente visita ao hospital militar Walter Reed, e que os resultados foram “perfeitos”. Trump, de 79 anos, não explicou no que incidiu o exame e disse aos jornalistas para perguntarem aos médicos. Por norma, o presidente faz exames anuais naquele hospital, mas esta é a segunda visita em 2025. “O médico disse que [sic] alguns dos melhores relatórios para a idade, alguns dos melhores relatórios que já viram.” No verão, o mais velho presidente eleito nos EUA foi diagnosticado com insuficiência venosa crónica. “Frouxo” Pence No dia em que o Congresso ia certificar o resultado das eleições de 2020 e o Capitólio foi invadido, Donald Trump manteve uma troca de palavras ao telefone com o vice, e no qual o chamou de “frouxo”, revela num livro a publicar em breve pelo jornalista da ABC News Jonathan Karl, com base nas notas escritas por Mike Pence. O vice-presidente, que presidia à sessão, recebia há dias pressão do presidente cessante para recusar o resultado do colégio eleitoral. “Passarás à história como um frouxo”, disse Trump antes de seguir para a manifestação na qual disse que o vice tinha nas suas mãos o poder de devolver aos estados os resultados que não lhe interessavam. Uma das palavras de ordem dos invasores foi “Enforquem Pence”.Biden alertaNa primeira intervenção pública após o tratamento de radioterapia a que foi sujeito, o ex-presidente Joe Biden disse que os EUA atravessam “dias sombrios” quando o seu sucessor testa os limites dos poderes executivos e a administração federal permanece encerrada. No entanto, mostrou-se otimista ao afirmar que os norte-americanos são “mais fortes do que qualquer ditador” e instou-os a tomar posição.