O presidente ucraniano afirmou esta terça-feira, 25 de novembro, que Kiev está preparada para avançar com um acordo de paz apoiado pelos Estados Unidos, mas que quer discutir os pontos mais sensíveis do documento com o seu homólogo norte-americano. “A Ucrânia possui a estrutura desenvolvida pelas nossas equipas em Genebra. Esta estrutura está em cima da mesa e estamos prontos para avançar juntos - com os EUA, com o envolvimento pessoal do presidente Trump, e com a Europa, com os líderes e com todos os parceiros que têm a força e a capacidade de ajudar”, disse Volodymyr Zelensky na reunião virtual da Coligação dos Dispostos. “E estou pronto para me reunir com o presidente Trump - ainda há pontos sensíveis a discutir, e acreditamos que a presença de líderes europeus poderá ser útil”. Donald Trump, por seu turno, disse esta terça-feira acreditar que um acordo está muito próximo, sem adiantar mais pormenores. “Vamos chegar lá.”Falando para os seus aliados, Zelensky sustentou, tendo em conta que a guerra ainda decorre, que “devemos proteger vidas, reforçar a defesa aérea e manter a linha da frente, manter as sanções contra a Rússia, finalmente canalizar os recursos russos congelados para reforçar a proteção da Ucrânia e elaborar, finalmente, uma estrutura viável para o destacamento da Força de Segurança da Ucrânia da Coligação dos Dispostos, assinando um relevante Memorando de Entendimento”. Assuntos que não foram ignorados pelos aliados. Na reunião virtual desta terça-feira, que contou pela primeira vez com a participação do líder da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, “foi decidido criar uma task force entre os EUA e a coligação para reforçar as negociações sobre as garantias de segurança pós-guerra para a Ucrânia”, segundo informou o Eliseu.Durante o encontro, Emmanuel Macron afirmou que os esforços para pôr fim ao conflito estão agora numa “conjuntura crucial”. “As negociações estão a ganhar um novo impulso, e devemos aproveitar este momento não porque haja motivo para alarme, a Ucrânia é sólida, a Rússia é lenta e a Europa é firme, mas porque existe finalmente uma hipótese de fazer progressos reais no sentido de uma paz duradoura”. O presidente francês notou ainda que Kiev precisa de “um conjunto de garantias de segurança muito robustas, e não de garantias no papel”, tendo em conta que as promessas anteriores foram “destruídas pelas sucessivas agressões russas”.Neste sentido, o primeiro-ministro britânico, que divide a liderança da Coligação dos Dispostos com Macron, apelou aos restantes líderes para “firmarem” os seus compromissos com uma potencial operação de manutenção da paz na Ucrânia, sublinhando que uma “força multinacional na Ucrânia” desempenharia um “papel vital” para garantir a sua segurança.“Exorto os meus colegas nesta chamada a firmarem os seus compromissos nacionais, porque precisamos de garantir que temos a capacidade mais robusta, os planos mais sólidos, em cima da mesa. E também retomaremos os próximos passos com os militares dos EUA em relação ao seu próprio planeamento. E devemos regressar a isso com uma forte garantia política para mostrar à Rússia que estamos a falar a sério sobre responder a qualquer violação”, disse Keir Starmer, segundo um comunicado do seu gabinete.De acordo com a Reuters, durante o encontro, Macron afirmou ainda que a França, juntamente com outros países da União Europeia, irá procurar uma solução para apoiar financeiramente a Ucrânia, numa referência aos ativos russos congelados, tema que já foi discutido pelos 27, mas que conta com a oposição da Bélgica, país onde se encontra a maioria destes bens. O assunto deverá voltar a ser falado no Conselho Europeu de dezembro.Esta terça-feira, Starmer anunciou aos parceiros da coligação que Londres está “pronta para avançar” com a União Europeia no fornecimento de apoio financeiro à Ucrânia com base no valor dos ativos “imobilizados”, notando que “esta é a melhor forma de mostrar a Putin que deve negociar em vez de tentar superar-nos em espera, e é a melhor forma de estarmos prontos para apoiar a Ucrânia em tempos de guerra ou de paz”.Rússia ataca KievO secretário do Exército dos EUA, Dan Driscoll, que na semana passada esteve em Kiev, viajou para Abu Dhabi na segunda-feira para negociações com Kyrylo Budanov, chefe dos serviços de informação militar da Ucrânia, e uma delegação russa, confirmou ao Axios o seu porta-voz, o tenente-coronel Jeff Tolbert. Do lado ucraniano, adiantou ainda o Axios, Kyrylo Budanov estaria a manter conversações com os representantes da Casa Branca e do Kremlin.De acordo com o Financial Times, Driscoll e os representantes de Moscovo iniciaram conversações logo na noite de segunda-feira, numa tentativa de colmatar as diferenças entre o plano de paz original dos EUA, influenciado pelas exigências russas, e a resposta ucraniana, apoiada pela Europa, tendo ontem Tolbert afirmado que “as conversações estão a correr bem e continuamos otimistas”. A Casa Branca afirmou esta terça-feira que os seus representantes fizeram “progressos tremendos” em direção a um acordo de paz entre as duas partes, mas que alguns pormenores vão exigir novas negociações. “Há alguns detalhes delicados, mas não insuperáveis, que precisam de ser resolvidos e vão exigir novas conversações entre a Ucrânia, a Rússia e os Estados Unidos”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.O plano inicial - desenhado pelo enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e pelo enviado do Kremlin, Kirill Dmitriev - era mais favorável à Rússia e exigia que a Ucrânia fizesse cedências territoriais, uma redução para metade das suas Forças Armadas e o compromisso de que nunca entraria na NATO, entre outras coisas. Falando na segunda-feira à noite, e já após as negociações em Genebra, Zelensky havia dito que a versão revista está mais alinhada com as pretensões de Kiev, mas notou que ainda é necessário trabalho para finalizar o acordo, processo que descreveu como “muito difícil”.Parte deste processo, segundo os desejos de Kiev, passa, como esta terça-feira disse Zelensky, por uma ida à Casa Branca para discutir com Trump as etapas importantes do acordo de paz. Andriy Yermak, chefe do gabinete do presidente ucraniano, adiantou ao Axios que Zelensky pretende reunir-se com Trump “o mais rapidamente possível”, possivelmente já no Dia de Ação de Graças, que se celebra na quinta-feira.Mas qualquer plano de paz, mesmo que seja aceite pela Ucrânia, terá também de ser acatado pela Rússia, que ontem, e mais uma vez, deixou claros os seus objetivos, desta vez pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros. Sergei Lavrov afirmou que um plano de paz para a Ucrânia deve refletir o “espírito e a letra” do acordado por Vladimir Putin e Donald Trump na cimeira de agosto no Alasca. O líder da diplomacia russa acrescentou que Moscovo acolheu com satisfação a versão inicial do plano dos EUA, mas que agora aguardava uma versão “interina” revista depois de a Casa Branca ter coordenado o texto com as pretensões de Kiev.“As nossas avaliações continuam válidas no sentido em que as principais disposições do plano de Trump se baseiam em entendimentos alcançados em Anchorage, na cimeira russo-americana de agosto deste ano. E estes princípios estão, em geral, refletidos no plano, que acolhemos favoravelmente”, notou Lavrov, acrescentando que “se o espírito e a letra de Anchorage forem apagados em termos dos principais entendimentos que estabelecemos, então, é claro, será uma situação fundamentalmente diferente [para a Rússia]”.O seu homólogo ucraniano acusou ontem Vladimir Putin de responder aos esforços de paz que estão a ser levados a cabo com terrorismo, após um grande ataque russo durante a noite que matou pelo menos sete pessoas em Kiev, deixando ainda zonas da capital sem água, eletricidade e aquecimento, além de ter causado danos nas infraestruturas energéticas do país.Andriy Sibiga explicou ainda que os russos usaram no ataque drones e mísseis balísticos, de cruzeiro e hipersónicos, que tiveram como alvo, além de Kiev, as regiões de Odessa, Kharkiv e Chernihiv..“Depois da Ucrânia, finlandeses perceberam que já não precisavam da neutralidade. Mudou tudo numa noite”.Ucrânia aceitou a "essência" do plano de paz. Casa Branca fala em "detalhes delicados" ainda por resolver