O Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano convocou o encarregado de negócios chinês para que este explique a presença de cidadãos chineses a combaterem pela Rússia na região de Donetsk. Horas antes, Volodymyr Zelensky pediu uma reação dos Estados Unidos e da Europa enquanto partilhou um vídeo em que um dos dois capturados descrevia em mandarim e inglês o momento em que foram atacados por drones. “Os nossos soldados capturaram dois cidadãos chineses que estavam a combater no Exército russo”, escreveu o presidente ucraniano, o qual acrescentou terem sido apreendidos documentos pessoais dos homens. Além disso, afirmou ter informações que indicam haver “muitos mais cidadãos chineses nas fileiras do ocupante”. Em conferência de imprensa ao lado do primeiro-ministro belga Bart De Wever - em que este anunciou um pacote de ajuda militar de mil milhões de euros para este ano e o envio de dois aviões F-16 para peças sobresselentes -, Zelensky disse que que seis militares chineses estiveram envolvidos em combate com soldados ucranianos perto da aldeia de Bilohorivka. “O envolvimento da China pela Rússia, juntamente com outros países, direta ou indiretamente, nesta guerra na Europa é um sinal claro de que Putin tenciona fazer tudo menos acabar com a guerra. Ele está à procura de formas de continuar a lutar. Tem de haver uma reação a isto. Uma reação dos Estados Unidos, da Europa e de todos aqueles que querem a paz na Ucrânia”, escreveu. Desconhece-se se os chineses em questão se juntaram às fileiras russas de forma oficial, como o contingente da Coreia do Norte, ou se o fizeram de forma voluntária, como tantos estrangeiros de várias nacionalidades o fizeram dos dois lados da trincheira - a hipótese mais provável. Para o chefe da diplomacia ucraniana, Andrii Sybi- ha, a captura dos combatentes “põe em causa a posição declarada da China a favor da paz e mina a credibilidade de Pequim como membro permanente responsável do Conselho de Segurança da ONU”.Oficialmente, a China tem uma posição de neutralidade face à guerra na Ucrânia. Apesar de não vender armamento a qualquer das partes, continua a fornecer Moscovo com produtos de dupla utilização, ou seja, tanto podem ser usados para fins civis como militares. Além disso, no ano passado, o então vice-secretário de Estado dos EUA, Kurt Campbell, acusou Pequim de fornecer “ajuda direta” a Moscovo em troca de partilha de tecnologia militar.Em paralelo à invasão da Ucrânia, Rússia e China têm fortalecido as relações bilaterais ao ponto de declararem que a parceria “não tem limites”. No final do primeiro ano de guerra, Pequim ensaiou uma iniciativa diplomática para a paz num documento com 12 pontos, mas que não foi bem acolhida nem pela Ucrânia, nem pelo Ocidente. Uma nova tentativa foi realizada em setembro passado, então em parceria com o Brasil, e de novo rejeitada por Kiev. Ainda no início do mês, de visita à Rússia, o chefe da diplomacia chinês, Wang Yi, disse que o seu país “está pronto a desempenhar um papel construtivo na resolução”do conflito, mas não detalhou como.De Zelensky veio também a confirmação, horas antes, de que o seu Exército se mantém em território russo, não só em Kursk, mas agora também na região vizinha de Belgorod. “Continuamos a levar a cabo operações ativas nas zonas fronteiriças em território inimigo, e isto é justo: a guerra deve regressar ao seu local de origem”, considerou.