O ministro da Defesa israelita admitiu esta terça-feira (23 de dezembro) que Israel nunca deixará a Faixa de Gaza, mas arrependeu-se horas depois e voltou atrás naquilo que tinha dito. Num comunicado, Israel Katz alegou que os primeiros comentários feitos num evento na Cisjordânia ocupada, em que disse que “nunca sairemos de lá” em relação ao enclave palestiniano, foram feitos “apenas num contexto de segurança”, reiterando que “o governo não tem intenção de estabelecer colonatos na Faixa de Gaza”. As declarações iniciais foram feitas diante de um grupo de colonos na Cisjordânia. “Quando chegar a altura, estabeleceremos postos avançados garinei Nahal no norte de Gaza, no lugar dos colonatos que foram desmantelados”, disse Katz, referindo-se a programas militares em que grupos de jovens israelitas se alistam juntos e depois formam comunidades civis. “Estamos dentro de Gaza e nunca sairemos totalmente de lá, isso nunca acontecerá. Estamos aqui para defender e impedir o que aconteceu”, acrescentou o ministro, segundo as declarações citadas pelo jornal Haaretz, falando do ataque do 7 de Outubro. As declarações, lembrou o site de notícias The Times of Israel, contrariavam as repetidas afirmações do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de que Israel não planeia voltar a criar colonatos na Faixa de Gaza. Talvez por isso, horas depois, o gabinete de Katz tenha emitido um comunicado a retratar-se das declarações feitas mais cedo.“As declarações do ministro da Defesa sobre a integração dos núcleos Nahal, no norte de Gaza, foram feitas estritamente em contextos relacionados com a segurança”, afirmou o gabinete de Katz num comunicado divulgado na tarde de ontem. “O Governo não tem intenção de estabelecer colonatos na Faixa de Gaza”, insistiu o ministro.A estação de televisão KAN alega que a mudança de posição surgiu depois de os EUA terem exigido explicações. “Não percebemos de onde vinham as declarações”, segundo disse um responsável norte-americano sob anonimato, em declarações citadas pelo jornal Jerusalem Post. “As Forças de Defesa de Israel devem retirar da Faixa de Gaza como parte do acordo Trump. Os EUA não estão dispostos a aceitar novos colonatos israelitas na Faixa de Gaza”, acrescentou. A segunda fase do plano de paz do presidente dos EUA, que permitiu o cessar-fogo, inclui a retirada das tropas israelitas para a linha vermelha (para lá da atual linha amarela). Requer primeiro o destacamento da chamada Força de Estabilização Internacional para supervisionar a segurança e apoiar o governo tecnocrata palestiniano. Mas a primeira fase ainda não chegou ao fim, faltando ainda entregar o corpo de um refém, e essa força internacional ainda não saiu do papel. Finalmente, na terceira fase do plano, as forças de Israel teriam de recuar até uma zona de segurança, junto à fronteira.Israel manteve 21 colonatos na Faixa de Gaza desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, até à retirada total, em 2005. Nessa altura retirou também de quatro colonatos na Cisjordânia, ocupada desde o mesmo conflito. Neste território tem vindo contudo a reforçar a sua presença, nomeadamente desde a chegada ao poder do novo governo de Netanyahu apoiado pela extrema-direita. No domingo, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, anunciou a construção de 11 novos colonatos e a legalização de outros oito - incluindo dois que tinham sido abandonados em 2005. O o objetivo é impedir a criação de um Estado palestiniano. Com as novas aprovações, desde final de 2022 que o governo israelita já deu luz verde a 69 colonatos - para um total de 210.