Kamala Harris anunciou que não vai concorrer às próximas eleições para o cargo de governadora da Califórnia. A formulação usada no comunicado e os comentários à imprensa norte-americana por parte do seu círculo indicam que a vice-presidente de Joe Biden quer deixar em aberto a hipótese de se recandidatar às eleições presidenciais. Nos próximos meses irá voltar à atividade pública, quer para promover o seu livro, quer para fazer campanha pelos candidatos democratas das eleições intercalares para o Congresso dos EUA.No comunicado, Harris reconheceu ter estado a refletir “seriamente” sobre a hipótese de se apresentar às eleições no seu estado natal, e onde desempenhou os cargos de procuradora distrital e de procuradora-geral, e pelo qual foi eleita senadora. “Adoro este estado, o seu povo e a esperança no seu futuro. É a minha casa.” No entanto, decidiu não se candidatar à eleição que se realizará em novembro do próximo ano. “Por agora, a minha liderança - e o meu serviço público - não serão exercidos num cargo eletivo. Estou entusiasmada por voltar a ouvir o povo norte-americano, ajudar a eleger democratas em todo o país que lutarão sem medo, e partilhar mais pormenores sobre os meus planos nos próximos meses”, prosseguiu. A corrida para suceder ao governador Gavin Newsom, que atingiu o limite de mandatos, já estava bastante povoada. Só do lado democrata já anunciaram a candidatura a vice-governadora Eleni Kounalakis, o ex-secretário da Saúde Xavier Becerra, a ex-representante Katie Porter, o antigo mayor de Los Angeles Antonio Villaraigosa ou a ex-presidente do Senado da Califórnia Toni Atkins, entre outros. Sobre o que aí vem, Harris disse ainda: “À medida que olhamos para o futuro, temos de estar dispostos a procurar mudanças através de novos métodos e ideias frescas - comprometidos com os nossos mesmos valores e princípios, mas sem ficarmos presos ao mesmo manual.”Horas depois, na sua conta da rede social X, a democrata revelou a publicação, no dia 23 de setembro, do livro 107 days, sobre o tempo em que protagonizou a mais curta campanha eleitoral da história recente. Segundo a editora, Simon & Schuster, “escrito com franqueza, uma perspetiva única, e o ritmo de um romance cativante, 107 days leva-o para o interior da corrida pela presidência como nunca antes foi feito.” Tudo somado, significa que a ex-vice-presidente, aos 60 anos, está longe de se reformar, e fontes do seu círculo dizem ao The New York Times que não descarta nova corrida presidencial. Afinal de contas recebeu quase 75 milhões de votos, mais 774 mil do que Donald Trump quando este perdeu as eleições de 2020, sendo a figura mais reconhecida nas fileiras do seu partido em relação a outros potenciais candidatos. No entanto, a forma como ficou ligada à abortada candidatura de Biden e a incapacidade que revelou para cativar o eleitorado - inclusive segmentos da população que tradicionalmente votavam no candidato democrata - ante Trump serão pontos negativos a esconder no currículo. Ao que se somam as vozes dos democratas anónimos que, em eleições primárias recentes no New Hampshire e na Carolina do Sul, disseram ser tempo de virar a página de Biden-Harris. .Uma dezena de pré-candidatos Se o campo de candidatos às primárias para o cargo de governador da Califórnia já estava preenchido, já o de pretendentes a concorrer à Casa Branca está oficialmente vazio, como é natural, tendo em conta a distância de mais de três anos para o ato eleitoral. O que não significa que não se conheçam as ambições de uns e se especule sobre o sonho de outros. Além do californiano Newsom, já exprimiram interesse em concorrer os governadores do Kentucky (Andy Beshear), de Illinois (JB Pritzker), da Pensilvânia (Josh Shapiro) e de Maryland (Wes Moore). O senador de Nova Jérsia Cory Booker, o ex-secretário dos Transportes Pete Buttigieg, o ex-presidente da Câmara de Chicago Rahm Emanuel ou o representante da Califórnia Ro Khanna também querem chegar à linha de partida. O objetivo não é um exclusivo masculino: a ex-governadora de Rhode Island e antiga secretária do Comércio Gina Raimondo prova-o.