O exército israelita retirou-se este domingo do Corredor de Netzarim, uma estrada artificial que divide a Faixa de Gaza, uma medida que para o Hamas confirma o fracasso da ofensiva de Telavive. A ação ocorre um dia depois de uma quinta troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos detidos em Israel.Esta retirada, prevista para o 22.º dia do acordo de cessar-fogo com o Hamas, permite que os palestinianos deslocados pela guerra regressem às suas casas no norte do enclave, utilizando toda a largura do corredor. Israel já se tinha retirado parcialmente do Corredor de Netzarim há quase duas semanas, mas havia mantido algumas posições no lado oriental da estrada - mais próximo do território israelita. A partir de agora, as forças israelitas só estarão posicionadas no Corredor de Filadélfia (ao longo da fronteira com o Egito) e na “zona tampão” de um quilómetro de largura que separa Gaza de Israel..Deslocação de palestinianos para a Arábia Saudita reflete "total desfasamento da realidade".“A retirada do exército de ocupação sionista do eixo de Netzarim é uma vitória da vontade do nosso povo”, afirmou o Hamas num comunicado, acrescentando tratar-se de “uma recompensa pela firmeza e heroísmo” da resistência do Hamas e dos palestinianos e “uma confirmação do fracasso dos objetivos da agressão terrorista”.Entretanto, Telavive enviou no sábado à noite uma delegação a Doha, no Qatar, para negociar “pormenores técnicos” do acordo de cessar-fogo, mas não a forma de implementar a segunda fase, noticiaram ontem os meios de comunicação israelitas.Segundo o acordo, as conversações indiretas com os mediadores - Estados Unidos, Qatar e Egito - sobre a segunda fase do acordo, em que serão libertados os restantes reféns vivos, deveriam ter começado no 16.º dia após a entrada em vigor do cessar-fogo, ou seja, a 3 de fevereiro.Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas, confirmou à EFE que as negociações ainda não começaram, o que põe em risco um acordo que já permitiu a libertação com vida de 21 reféns em Gaza (16 israelitas e cinco tailandeses) em troca de mais de 700 prisioneiros e detidos palestinianos.Desfasamento da realidadePrecisamente um dos mediadores, o Egito, anunciou este domingo que vai organizar uma “cimeira árabe de emergência” no dia 27, para debater “os últimos desenvolvimentos graves” na questão palestiniana com o plano norte-americano para controlar Gaza.A cimeira ocorre numa altura em que o Cairo reuniu apoio regional contra o plano do presidente Donald Trump de transferir os habitantes de Gaza para o Egito e Jordânia, e colocar o território palestiniano sob controlo dos Estados Unidos.Já o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, afirmou este domingo que as declarações do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu sugerindo a criação de um Estado palestiniano dentro das fronteiras da Arábia Saudita refletem “uma total desconexão com a realidade”.Em comunicado, o líder da organização denunciou “veementemente” o plano de “transferência de palestinianos para o reino saudita” e afirmou que “a lógica em que se baseia é inaceitável.Nesse sentido, Ahmed Abulgueit insistiu que um Estado palestiniano só pode ser estabelecido dentro dos territórios da Palestina e que Jerusalém Oriental deve ser a sua capital, recordando que não deve haver separação entre a Cisjordânia ocupada e a Faixa de Gaza. “Qualquer outra ideia não passa de um pesadelo ou de ilusões que só existem nas mentes daqueles que as relatam”, acrescentou Abulgueit..Arábia Saudita acusa Israel de tentar encobrir crimes em Gaza