Israel está a preparar-se para uma ofensiva terrestre no Líbano
O chefe do Estado-Maior do Exército israelita anunciou esta quarta-feira que Telavive está a preparar-se para uma possível operação terrestre no Líbano, onde Israel tem intensificado ataques após o disparo de rockets pelo Hezbollah e numa altura em que foram chamadas duas brigadas de reservistas.
“Podem ouvir os aviões aqui. Estamos a atacar o dia todo, tanto para preparar a área para a possibilidade da vossa entrada, mas também para continuar a atacar o Hezbollah”, afirmou o general Herzi Halevi, dirigindo-se aos soldados de uma unidade blindada envolvida num exercício na fronteira com o Líbano, de acordo com um comunicado militar. “O objetivo é muito claro: trazer de volta os habitantes do Norte com total segurança. Para isso, estamos a preparar o rumo da manobra (...), a vossa entrada em força, o confronto com os homens do Hezbollah que verão o que são combatentes profissionais, muito competentes e experientes”, declarou ainda Halevi.
Também o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse esta quarta-feira, através de uma publicação na rede social X, que Israel está a desferir golpes no Hezbollah que o movimento nunca poderia imaginar, prometendo ainda não descansar até que os residentes do norte do país regressem a casa.
O Exército israelita informou estar a realizar ataques de “grande escala” no sul do Líbano e no Vale do Bekaa, no leste, bastiões do Hezbollah, ofensivas que ocorreram algumas horas depois de ter anunciado a interceção de um míssil disparado contra Telavive pelo movimento islamista libanês. Os militares adiantaram ainda ter atingido mais de 280 alvos do Hezbollah, incluindo 60 alvos dos serviços de informação do grupo, bem como vários lançadores de rockets. Paralelamente, o exército israelita divulgou que diante da avaliação da situação no terreno decidiu convocar “duas brigadas de reserva para missões operacionais na região norte” do país.
O ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, avançou que pelo menos 51 pessoas morreram e mais de 220 ficaram feridas na sequência dos intensos ataques israelitas desta quarta-feira que visaram várias localidades do país e que o governo está avançar com “planos de emergência” para fazer face ao elevado número de vítimas.
A Organização Internacional para as Migrações, organização que integra o sistema da ONU, avançou que os ataques israelitas no Líbano provocaram mais de 90 mil deslocados desde o início da semana. Segundo Firass Abiad, cerca de 310 centros médicos e clínicas móveis já estão disponíveis para apoiar os deslocados, mais de 20 localizados no sul do país, e nos próximos dias espera-se aumentar este número.
O presidente dos Estados Unidos admitiu esta quarta-feira ser possível “uma guerra total”, à medida que os combates entre Israel e o Hezbollah se intensificam, mas esperando ser ainda possível encontrar uma saída para evitar mais derramamento de sangue. “Há uma possibilidade, não quero exagerar, mas há uma possibilidade de que, se conseguirmos um cessar-fogo no Líbano, isso nos permita abordar a Cisjordânia”, referiu Joe Biden, dizendo que “também temos de lidar com Gaza, mas tudo isto é possível e estou a dedicar toda a minha energia com a minha equipa (...) para alcançar este objetivo”.
Durante uma reunião bilateral com o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, que decorreu à margem da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, instou Teerão a usar a sua influência para evitar uma “guerra total” no Médio Oriente, enquanto o seu homólogo iraniano pediu uma “posição europeia unificada” para travar a “escalada israelita na região”.
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