Uma coluna de fumo era visível ao longe após os bombardeamentos israelitas deste sábado em Rafah.
Uma coluna de fumo era visível ao longe após os bombardeamentos israelitas deste sábado em Rafah.Eyad BABA / AFP

Israel entre os ataques em Rafah e o regresso às negociações de trégua

Exército vai investigar origem de vídeo no qual um soldado não identificado ameaça com uma insubordinação de reservistas caso não haja uma vitória completa sobre o Hamas.
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Os primeiros sinais de que Israel parece não ter a intenção de seguir as ordens dadas pelo Tribunal Internacional de Justiça, pelo menos do que diz respeito a cessar os ataques em Rafah, foram dados na sexta-feira logo após ser conhecida a decisão dos juízes, tanto pela reação de vários ministros do governo de Benjamin Netanyahu, como pela continuação das operações na cidade do sul da Faixa de Gaza. Este sábado, os bombardeamentos prosseguiram em Rafah, ao mesmo tempo que uma fonte israelita afirmou que o governo pretende retomar nos próximos dias as negociações para alcançar um acordo para a libertação de reféns em Gaza, após uma reunião com mediadores em Paris. 

“Há intenção de renovar as conversações esta semana e há um acordo”, disse o responsável à AFP sob condição de anonimato. Não foi detalhado o que havia sido definido, mas, segundo os media israelitas, o chefe da Mossad, David Barnea, acordou uma nova estrutura para as negociações com os mediadores, o diretor da CIA, Bill Burns, e o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani.

O líder do governo qatari também participou na sexta-feira numa reunião em Paris com o presidente francês, Emmanuel Macron, e os ministros dos Negócios Estrangeiros de Arábia Saudita, Egito e Jordânia sobre a guerra de Gaza e formas de estabelecer um Estado palestiniano ao lado de Israel, segundo informou o Palácio do Eliseu.

Discursando na academia militar de West Point, o presidente norte-americano, Joe Biden, adiantou que os Estados Unidos estão empenhados numa “diplomacia urgente para garantir um cessar-fogo imediato que leve os reféns para casa”. O líder da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, também conversou com o ministro de guerra israelita, Benny Gantz, tendo “sublinhado a urgente necessidade de proteger civis e trabalhadores humanitários em Gaza e diminuir as tensões na Cisjordânia”, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA, acrescentando que também foram discutidos os novos esforços para alcançar um cessar-fogo e reabrir a passagem de fronteira em Rafah.

A Al-Qahera News, que tem ligações à inteligência egípcia, noticiou que o Cairo continuava “seus esforços para reativar as negociações de cessar-fogo e trocar prisioneiros e detidos” e também a exercer “todos os tipos de pressão sobre Telavive para permitir urgentemente a entrada de ajuda e combustível” barrada na passagem de Rafah após o seu encerramento por Israel no início deste mês. De recordar que as negociações para conseguir a libertação de reféns e um acordo de trégua para Gaza foram interrompidas no início de maio, depois de Israel ter lançado uma operação militar em Rafah.

Reuben Yablonka, pai de um dos três reféns cujos corpos foram recuperados em Gaza na semana passada, mostrou a sua revolta com a forma como toda esta questão está a ser conduzida pelo governo de Benjamin Netanyahu, tendo contado numa entrevista ao Channel 12 que não foi contactado por ninguém ligado ao executivo. “O primeiro-ministro não pode ligar? Somos centenas? São três famílias, faça um telefonema”, disse. 

Os protestos a pedir a libertação dos reféns e a realização de eleições gerais antecipadas continuava um pouco por todo o país, incluindo em Telavive, Haifa e Jerusalém. Segundo o jornal Haaretz, em Telavive, Einav, a mãe de Matan Zangauker, de 24 anos, dizia que “continuar esta guerra pode levar Israel a perder os reféns. Parem esta guerra tragam-nos para casa agora!”.  Na sexta-feira, o Exército israelita viu-se obrigado a pedir desculpas à família de Zangauker depois de, no dia anterior, um vídeo do interrogatório do seu suposto raptor ter sido divulgado pelo The Daily Mail antes de ter sido mostrado aos familiares do jovem.

Apelo à insubordinação

Um outro vídeo, este divulgado nas redes sociais e inclusivamente partilhado na sexta-feira pelo filho de Netanyahu, mostra um homem que se identifica como reservista do exército a ameaçar uma insubordinação em massa se o governo não prosseguir a “vitória completa” sobre o Hamas e o controlo da Faixa de Gaza seja entregue ao Hamas ou à Autoridade Palestiniana. 

“Queremos uma vitória completa”, diz o soldado mascarado nas aparentes ruínas de uma casa em Gaza. “Aqueles que prejudicaram a nação de Israel queremos aniquilá-los”. O homem critica ainda o ministro da Defesa, Yoav Gallant, pedindo a sua demissão, e garante que se ele e outros não conseguirem alcançar a vitória, os soldados reservistas seguirão o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

“O comportamento no vídeo é uma violação grave das ordens e dos valores das Forças de Defesa de Israel e constitui uma suspeita de crime”, declararam fontes militares ao The Times of Israel, adiantando ainda que o Advogado Geral Militar ordenou uma investigação imediata da Polícia Militar sobre o vídeo. O chefe do Estado-Maior das FDI, tenente-general Herzi Halevi, também ordenou que os comandantes falassem imediatamente com seus subordinados sobre o vídeo, em todos os escalões, “dada a gravidade do incidente”.

ana.meireles@dn.pt

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