Hussam al-Masri estava a filmar em direto do telhado do hospital Nasser em Khan Yunis quando este foi atingido por um ataque israelita. O operador de câmara da Reuters é um dos seis jornalistas mortos esta segunda-feira, 25 de agosto, num duplo ataque contra aquele hospital - o único, segundo o seu diretor, ainda plenamente funcional no sul da Faixa de Gaza - que fez outras 14 vítimas mortais, entre pessoal médico e pacientes. As Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês) confirmaram o ataque, sem, no entanto, esclarecer qual seria o seu alvo. E anunciaram que já foi instaurado um inquérito preliminar para averiguar o que aconteceu. “O chefe do Estado-Maior ordenou que fosse realizada uma investigação inicial o mais rapidamente possível”, pode ler-se num comunicado das IDF. Segundo o mesmo documento, estas “lamentam qualquer dano causado a indivíduos não envolvidos” e garantem que “não têm como alvo jornalistas como tal”. “As IDF agem de forma a mitigar ao máximo os danos causados a indivíduos não envolvidos, mantendo simultaneamente a segurança das tropas das IDF”, afirmam.Este ataque ocorre duas semanas depois de as IDF terem matado seis jornalistas num ataque a outro hospital, al-Shifa, na cidade de Gaza. Nesse caso, Israel assumiu que o alvo era o jornalista da Al-Jazeera Anas al-Sharif, que acusa de liderar uma célula do Hamas. Segundo números do Comité para a Proteção dos Jornalistas, as mortes desta segunda-feira elevam para 193 os jornalistas mortos na Faixa de Gaza desde o ataque do Hamas contra Israel, a 7 de outubro de 2023.Nesse dia, o grupo terrorista palestiniano matou 1200 pessoas em Israel, tendo sequestrado 250. A ofensiva israelita em resposta já causou mais de mais de 62.700 mortes em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.As últimas destas vítimas mortais foram o câmara da Reuters Hussam al-Masri, Mariam Dagga, 33 anos, jornalista freelancer que trabalhava com a Associated Press, Mohammed Salama, que trabalhava para a Al-Jazeera e o Middle East Eye, tal como Ahmad Abu Aziz, que trabalhava como freelancer e estava baseado em Khan Younis. O quinto jornalista, Moas Abu Taha, foi inicialmente dado como estando a trabalhar para a rede de televisão norte-americana NBC, mas esta veio depois negar. Ao fim da tarde foi também confirmada a morte de Hasan Douhan, que trabalhava para o jornal Al Hayat, indicou o gabinete de imprensa das autoridades de Gaza, em comunicado. O Al Hayat é um jornal diário palestiniano, publicado pela primeira vez na década de 1930 em Jerusalém, de acordo com dados da Biblioteca Nacional de Israel.O momento do segundo ataque foi registado em vídeo, precisamente por alguns dos jornalistas no local. Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, os jornalistas têm muitas vezes procurado “refúgio” nos hospitais, por serem considerados mais seguros e também por ser mais fácil o acesso a fontes de energia. As imagens da Alghad TV, cuja veracidade a BBC confirmou, veem-se médicos e socorristas a acorrer ao local do primeiro ataque quando cai o segundo projétil, mergulhando a imagem numa nuvem de fumo. A Associação de Imprensa Estrangeira, que representa os media internacionais que trabalham em Israel nos territórios palestinianos, denunciou “um dos ataques israelitas mais mortíferos contra jornalistas que trabalham para a comunicação social internacional desde o início da guerra em Gaza”. Há dias, um grupo de 27 países, incluindo Portugal, exigiu a Israel que permita “o acesso imediato” de jornalistas estrangeiros independentes à Faixa de Gaza e que proteja os profissionais já presentes no enclave..Ataques israelitas atingem hospital em Gaza e fazem 20 mortos, incluindo cinco jornalistas