Nova Iorque, Washington, Miami, Florida e agora Lisboa. Qual é o propósito destas viagens? Madrid está a viver um momento extraordinário, está a ser um lugar de referência para muitos recantos do mundo que olham para nós motivados e com vontade de trazer para aqui os seus projetos. Estamos a realizar um conjunto de viagens para reforçar os laços administrativos e políticos, mas sobretudo económicos. E também para dar a conhecer Madrid. Somos uma região universal que deve olhar mais além do seu território..Em Portugal vai encontrar-se com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, a quem apoiou durante a sua candidatura. Há agora mais sintonia política entre Madrid e Lisboa? E o que pode sair deste encontro? É onde vamos dar ênfase, neste momento, em trabalhar juntos, porque temos uma forma parecida de ver a política, que não tem só a ver com a gestão dos serviços públicos, que deve ser da melhor qualidade possível, mas também com a forma de ver a vida: liberal, de baixos impostos, de apoio às empresas, de respeito das decisões pessoais... E isto sempre que se aplica, funciona. Queremos ver como iremos cooperar juntos e como prosperam Madrid e Lisboa e, consequentemente, Espanha e Portugal..Chegou à presidência da Comunidade de Madrid há menos de três anos. Chegou a pensar que a sua candidatura era uma aposta arriscada? Estou há muitos anos na política, sobretudo na autonómica, e não me passou pela cabeça esse pensamento quando me deram a oportunidade. Teria sido uma grande incoerência não sentir o compromisso. As dificuldades que chegaram depois - a pandemia, a crise... - não estavam na minha cabeça. Se depois do vivido isso me voltassem a perguntar, voltaria a fazê-lo..Consigo começou um novo modelo de governação em Madrid, uma coligação com apoio de um partido externo. Foi mais difícil do que estava à espera governar assim? Foi muito difícil e demonstra que os governos de coligação podem parecer algo vantajosos, porque parece que há mais pluralidade ou contrapeso interno, mas em muitas ocasiões são só dificuldades. Agora, quando tenho de tomar medidas que afetam vários departamentos, com uma mesma missão, é muito mais eficaz. Resolvemos tudo de forma mais rápida e somos mais eficazes..Os madrilenos demonstraram que também queriam uma mudança na forma de governar a região? Queriam medidas como as que estamos a apresentar agora, de redução de impostos, redução de burocracia, apoio aos trabalhadores independentes, atração de projetos culturais, estudantes... Fizemos uma pergunta simples. "Que tipo de vida e que política queres? Sob o prisma comunista ou a partir de um ponto de vista liberal?" E quase por maioria absoluta, da esquerda à direita, os cidadãos de Madrid disseram que queriam ser livres..Durante a pandemia de covid-19, Madrid foi uma das cidades mais abertas e tomou decisões contestadas noutros pontos do país. Gerir a região num momento de dificuldade, deu-lhe uma maior dimensão política? Nesse momento só vi mais oportunidades e benefícios para Madrid, não pensei em mim. Foram decisões de abertura e de segurança, tomadas com critério. Em vez de estarmos de braços cruzados e deixarmo-nos levar pelo medo e fechar tudo, seguindo a opinião dos outros, decidimos arriscar a nossa posição política e continuar em frente com aquilo que sabíamos que ia funcionar, que era aplicar soluções criativas e dar responsabilidade e liberdade para juntos combatermos a pandemia. E hoje somos uns dos lugares mais visitados e mais reconhecidos do mundo pela forma de viver que temos em Madrid. Em poucos lugares há tanta segurança, tanta classe média, tanta gente heterogénea a conviver num espaço, tantas formas de vida numa. A nossa forma de vida brilhou e nunca imaginei que ia estar tão na moda e brilhar tanto..Madrid atraiu o resto do país durante a pandemia? Em muitos dados sim. E serviu como contrapeso e modelo para onde os cidadãos olharam para ver que se podem fazer as coisas de outra forma. Ajudou também a ter mais visitantes e a reduzir listas do desemprego..É época de mudanças no Partido Popular, com a saída de Pablo Casado e a chegada de Núñez Feijóo como líder... [Casado] já está esquecido. Deu lugar a uma nova etapa liderada por Alberto Núñez Feijóo, que está há muitos anos em política a demonstrar que é um homem de grande solvência na gestão. Em pouco tempo à frente do projeto nacional era o que se procurava. Se calhar é esse o resumo do que estava a acontecer. Era preciso uma liderança como a dele..Existe rancor entre Pablo Casado e Isabel Díaz Ayuso? Não tenho nem palavras, porque estou concentrada em Madrid, em crescer juntos, nos momentos tão bons que estão por vir, mesmo com dificuldades. Não está na minha mente pensar no que aconteceu no PP. Penso só no que temos de fazer para superar os meses difíceis e continuar a crescer..O Partido Popular deixou de estar dividido? Agora há 17 presidentes populares autonómicos unidos pela liderança de um presidente nacional que está preocupado com o que está a acontecer em Espanha, por causa da deriva autoritária do governo, que está a afetar as instituições, a economia, a imagem do país e a confiança que sempre projetou para fora. Núñez Feijóo está preocupado e está centrado em ser a alternativa tão necessária para Espanha..As primeiras sondagens mostram uma boa posição para o novo líder. Há de novo expectativa? Sim, efetivamente. Depois de tanta política de rutura na convivência, na economia... O projeto de alguém solvente, que tem apoios em todo o espetro do eleitorado, faz com que existam boas perspetivas para Espanha com essa alternativa..E, neste cenário, que papel pode ter a Comunidade de Madrid? Madrid sempre esteve ao serviço de Espanha, é um lugar de referência, a segunda casa de todos os espanhóis, o lugar onde se aplicam as políticas que transformam os serviços públicos...É um lugar para ser um contrapeso às políticas autoritárias que vão contra as empresas e a liberdade dos cidadãos. Essa é a contribuição de Madrid para a política nacional..O governo central e governo de Madrid não deveriam ser grandes aliados, pelo bem de todos? Espanha é o único país onde a gestão da pandemia foi tratada pelas regiões e não pelo país. Impuseram decisões baseadas num comité de peritos falsos, criticaram-nos por darmos material de boa qualidade aos cidadãos, não nos deixaram dar testes de antígenos nas farmácias... Puseram muitos impedimentos na aplicação da nossa política sanitária, mas depois os cidadãos, nas eleições, confirmaram que o que fizemos era o que eles queriam. A pandemia, que é um fenómeno mundial, só em Espanha foi tratada por zonas quando devia ter sido um desafio nacional..A relação entre ambas as instituições melhorou? Isso é responsabilidade do pai, não dos filhos..Estamos a ver problemas no governo de coligação entre PSOE e Unidas Podemos. Acredita que vão chegar ao final da legislatura? Agora há políticos na Moncloa que fazem uma equipa impossível. Há uma coligação e, dentro dela, há também divisões. É uma amálgama de interesses onde cada um procura como se manter frente ao seu próprio eleitorado. Isto não vai acabar bem..Em Portugal, nas últimas eleições legislativas, houve uma subida importante do partido de direita radical Chega. Deve preocupar democracias como Espanha e Portugal que partidos como o Chega e o Vox estejam no Parlamento? Desconheço se os dois partidos se podem equiparar. O que faço é ter um governo que trabalha solitário para tomar as minhas decisões e cumprir o meu programa. Cada partido tem de falar de si mesmo e eu falo do Partido Popular..Que trouxeram os novos partidos, como o Podemos ou o Vox ao bipartidarismo? Serviram para melhorar? Em muitas ocasiões, nada. Os novos partidos pretendem desfazer o conseguido pelos anteriores, que têm experiência de gestão. É verdade que os políticos que se aferram ao poder mais tempo do que o devido cometem erros. Mas ir contra as instituições, contra o modelo territorial de Espanha, contra a União Europeia, contra os políticos e tomar decisões vingativas... serviu para tomar decisões insensatas. Para mim, é melhor fazer parte de um grande partido, com implementação nacional, com tradição e história, que tem entre os seus dirigentes pessoas que sofreram o terrorismo, a violência e que deram a sua vida pelo país, pela liberdade e pela democracia. Temos muito que aprender, não dos novos, mas dos próprios erros. E sempre a defender a alternância política. Não quero que as coisas sejam sempre iguais. Mas nem tudo o que chega de novo, é melhor..O bipartidarismo volta a atrair os jovens à política? O nosso projeto em Madrid conseguiu o maior apoio juvenil da sua história. Nunca tantos jovens tinham estado tão comprometidos com a política. Tratamos os jovens como adultos, explicando que os pagamentos grátis não são solução de nada. A solução está na pessoa, no esforço, nas metas. Queremos que sejam jovens, não conformistas. Falamos para eles como pessoas que se devem responsabilizar pelas coisas e não como gado..Como espera que se resolva o conflito catalão? Madrid vai estar sempre ao serviço da Catalunha. Queremos crescer com eles e não à custa deles. Gostávamos de continuar a crescer juntos. Até lá somos lugar de refúgio para muitos deles que querem ser catalães livres. O que fazemos é demonstrar à sociedade catalã que se pode fazer política em positivo. Madrid não deixa de estar na moda e de crescer com uma mensagem completamente diferente da nacionalista, que é o que está a arruinar a Catalunha. Foram muitos anos de discurso tóxico contra Espanha e sinto que as novas gerações são inconformistas e rebeldes contra a imposição, porque sabem que, com o seu passaporte espanhol e com a língua castelhana, podem conquistar 600 milhões de pessoas pelo mundo todo. Os jovens começam a ficar fartos do discurso nacionalista endogâmico e que transmite ódio. Tenho esperança de que as coisas comecem a mudar em breve. Vamos romper as cadeias do nacionalismo pela positiva..É uma política com carisma? Não sei, não saberia definir-me. Tento não desapontar. As pessoas que olham para o projeto que lidero sabem o que podem esperar, as batalhas que vou empreender e as promessas que vou cumprir. O que me estimula é fazer de Madrid um lugar melhor, aberto, mestiço, onde, mesmo com a pandemia, podem viver os melhores anos. O adjetivo do que estou a fazer só poderei saber com os anos..Vê-se a ficar muitos anos na política? Devemos estar o tempo justo para combater em todas as batalhas. Para fazer as coisas bem deves estar em plena forma..É o momento de Espanha ter uma mulher à frente do governo nacional? A contribuição da mulher à política é inquestionável, a política é mais aberta e plural desde que estamos juntos. Mas também penso que à frente do governo de Espanha estará o melhor ou a melhor candidato/a e será pela sua contribuição ao país e não pelo seu sexo..Qual é a sua referência política? Costumo olhar para políticas, ideias que se propõem, porque há tempos que não vejo referências como antes. [Ronald] Reagan é um dos políticos de quem mais gosto e que mais me inspiraram e o meu discurso é parecido, em muitas ocasiões, com o dele. Tanta coincidência não pode ser casualidade..Sempre teve claro a sua vocação política? Sou jornalista e sempre acompanhei a atualidade e os acontecimentos que mudaram o mundo, como a queda do Muro ou a presença do terrorismo em Espanha. A partir daí filiei-me no PP. Sempre odiei as imposições e ditaduras, acredito na pluralidade e no convencimento em política e não quero que dirijam a minha vida..A política é mais dura do que estava à espera? Todos os dias penso em que momento cheguei a imaginar que a podia ser algo fácil. É o mais complicado que vou viver na minha vida, mas também sei que é do que estarei mais orgulhosa quando for ex-presidente..Nesse futuro pensa voltar ao jornalismo? Não sei, mas sinto que há muito por fazer no mundo, que é mais pequeno do que antes, porque estamos a perder liberdade. Seja em que âmbito for, lutarei por ela..dnot@dn.pt