Internacional
13 janeiro 2021 às 13h43

O país que decidiu começar a vacinar pelos jovens

Autoridades de saúde da Indonésia vão vacinar pessoas entre os 18 e os 59 anos antes dos idosos e logo a seguir aos profissionais de saúde.

DN

Ao contrário da esmagadora maioria dos países, a Indonésia vai vacinar a população ativa, com idades entre os 18 e os 59 anos, logo a seguir aos profissionais de saúde, dando-lhes prioridade em relação aos idosos.

O objetivo deste massivo e gratuito programa de vacinação contra a covid-19 é tentar impedir a propagação do vírus e recuperar a economia.

O presidente Joko Widodo, 59 anos, foi esta quarta-feira a primeira pessoa no país a receber a vacina. O vice-presidente Ma'ruf Amin, de 77 anos, vai ficar para mais tarde devido ao critério etário.

O professor Amin Soebandrio, que faz parte de um conselho que assessorou o governo na estratégia de "juventude primeiro", argumenta que faz sentido priorizar a imunização dos trabalhadores, aqueles "que saem de casa, andam por todo o lado e à noite voltam a casa para junto das suas famílias". "O nosso alvo é aqueles que mais provavelmente espalharão o vírus", disse à BBC Indonésia.

Segundo o especialista, esta abordagem dará ao país asiático uma probabilidade mais alta de obter imunidade de grupo, algo que ocorre quando grande parte de uma comunidade se torna imune através da vacinação ou da disseminação massiva do vírus.

"Esse é o objetivo de longo prazo. Pelo menos servirá para reduzir significativamente a propagação do vírus e permitirá que a pandemia fique sob controlo para podermos recuperar a economia", disse Soebandrio.

A Indonésia, com uma população de 270 milhões, tem o maior número cumulativo de casos de covid-19 no sudeste da Ásia. Segundo dados do governo, cerca de 80% dos casos são detetados entre a população ativa.

Embora escolas e escritórios do governo estejam fechados há quase um ano, o governo tem resistido a colocar em prática restrições mais rígidas, temendo o impacto na economia do país. Na Indonésia, mais de metade da população trabalha em setores em que o teletrabalho não é opção.

O novo ministro da Saúde do país, Budi Gunadi Sadikin, defendeu a estratégia e insiste que não se trata apenas de economia, mas de "proteger as pessoas e visar primeiro aqueles que provavelmente vão ser infetados e espalhas o vírus".

"Estamos focados em pessoas que se relacionam com muita gente no seu trabalho, como os taxistas, polícias e militares. Por isso, não quero que as pessoas pensem que isso é apenas sobre economia. Trata-se de proteger as pessoas", afirmou.

Imunizar a população ativa vai ajudar a que o vírus não chegue a casas onde estão os idosos, acredita a porta-voz do ministério da Saúde para o programa de vacinação covid-19, Siti Nadia Tarmizi.

Afinal, a maioria dos idosos na Indonésia vive em lares intergeracionais, pelo que é quase impossível isolá-los do resto da família.

A Indonésia está muito dependente da vacina CoronaVac, fabricada pela empresa chinesa Sinovac, para inocular a sua população, tendo sido já entregues três milhões das 125 milhões de doses prometidas.

A Indonésia diz que a vacina da China tem uma eficácia de 65,3%, mas o governo só realizou testes na faixa etária entre os 18 e os 59 anos como parte do estudo da Sinovac.

"Cada país iria ficar com uma faixa etária diferente e a Indonésia foi convidada a fazer o teste com a população trabalhadora", disse Siti Nadia Tarmizi.

Apenas na segunda fase, quando entrarem em cenas as vacinas da Pfizer-BioNTech e AstraZeneca, é que os idosos serão imunizados.

Para Peter Collington, professor de doenças infecciosas na Australian National University, nada garante que esta estratégia da Indonésia funcione - "ainda tem de ser avaliada".

Mas o especialista admite que faz sentido adaptar a distribuição da vacina à condições do país.

"Se for um país em desenvolvimento, percebo que proteger os jovens adultos trabalhadores, aqueles que mais possibilidade de propagar o vírus, será um método razoável, porque não podem dizer às pessoas para ficar em casa", explicou Collington à BBC.

Já Robert Read, membro da comissão de vacinação e imunização que aconselha o Governo britânico, garantiu à emissora pública do Reino Unido: "Não nos cabe a nós, países ricos, dizer às outras nações o que têm de fazer".

O especialista garante que para a Indonésia, esta pode ser a "melhor coisa a fazer".