Acordo cumprido. Hamas liberta três reféns israelitas e Israel solta 369 prisioneiros palestinianos
O grupo islamita Hamas libertou este sábado, como previsto, três reféns israelitas, fazendo-os desfilar perante uma multidão na entrega à Cruz Vermelha, na Faixa de Gaza, exibindo-os num palco. Foram entretanto já levados para casa. Israel também cumpriu a sua parte do acordo e começou a soltar dezenas de palestinianos - estão previstos um total de 369.
Instantes antes da libertação de três reféns, o Hamas afirmou que Israel não tinha "outra alternativa" à libertação dos reféns senão cumprir o acordo de cessar-fogo.
No palco estava um cartaz com uma mensagem em resposta ao plano de Donald Trump de “tomada de controle” de Gaza. A mensagem dizia: “Não há migração exceto para Jerusalém”.
O PM israelita Benjamin Netanyahu já reagiu à libertação dos reféns. “Estávamos preparados para o seu regresso e, juntamente com as suas famílias, ajudaremos na sua reabilitação após os longos e agonizantes dias em cativeiro”, afirmou o seu gabinete num comunicado.
Referindo-se aos comentários de Donald Trump instando o Hamas a libertar os reféns israelenses, Netanyahu agradeceu ao presidente dos EUA a sua “declaração clara e inequívoca”. “O Hamas inverteu a sua posição e a libertação dos reféns continua”, acrescentou o comunicado.
Trump também reagiu entretanto com uma mensagem na rede Truth Social. “Eles parecem estar em boa forma", escreveu, acrescentando que a libertação dos reféns difere da declaração do Hamas na semana passada “de que eles não libertariam nenhum”. O presidente dos EUA disse ainda que Israel terá agora que decidir o que fará sobre o prazo para a libertação de todos os reféns. “Os EUA apoiarão qualquer decisão que tomarem”, acrescentou.
Estes três reféns israelitas foram libertados ao abrigo do acordo de tréguas firmado entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, que também prevê a libertação de prisioneiros palestinianos.
Na sexta-feira, o gabinete governamental israelita confirmou a identidade dos três reféns, todos homens e com dupla nacionalidade: Sacha Troufanov (israelo-russo, 29 anos), Sagui Dekel-Chen (israelo-americano, 36 anos) e Yair Horn (israelo-argentino, de 46 anos). Todos foram raptados pelo Hamas a 07 de outubro de 2023, dia do ataque do grupo extremista no sul de Israel, no 'kibutz' (comunidade) Nir Oz.
O russo-israelita Alexandre Sasha Troufanov apareceu num vídeo da Jihad Islâmica em novembro, durante o qual pedia ao governo israelita liderado por Benjamin Netanyahu que garantisse a libertação dos reféns. Foi sequestrado com a namorada, Sapir Cohen, no kibutz Nir Oz, perto da Faixa de Gaza. Cohen, juntamente com a mãe e a avó de Troufanov, foram libertadas durante o breve cessar-fogo e a troca de prisioneiros em que decorreu em novembro de 2023. O pai de Troufanov, identificado pelo Moscow Times como Vitaly, foi morto durante o ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023.
Quanto ao israelo-americano Sagui Dekel-Chen, de 36 anos, o seu pai explicou há dias à ABC News que não tinham notícias suas desde dezembro de 2023. “Não sabemos o que Sagui sabe e o que não sabe”, disse à ABC News Jonathan Dekel-Chen. "Não sabemos se ele sabe que sua família sobreviveu. Não sabemos se ele entende que muitos de seus amigos, pessoas com quem ele cresceu, foram massacrados pelo Hamas em 7 de outubro em nossa pequena comunidade. Não sabemos se ele sabe que a própria comunidade foi completamente destruída."
O israelo-argentino Iair Horn, de 46 anos, foi raptado pelo Hamas juntamente com o seu irmão Eitan, de 38, no kibutz Nir Oz, mas neste sábado a sua mãe, Ruth Strum, terá de volta apenas um dos filhos. Eitan, que vive com a mãe no centro de Israel, estava de visita ao irmão mais velho a 7 de outubro de 2023. “No início, eles foram mantidos num apartamento, mas depois foram transferidos para os túneis”, contou a mãe, Ruth Strum, também ao Jerusalem Post.
Israel também cumpre e começa a libertar 369 prisioneiros
Do lado israelita também foi cumprido o acordo. Israel começou este sábado a libertar dezenas de prisioneiros palestinianos depois de o Hamas ter libertado mais três reféns na Faixa de Gaza, de acordo com o estabelecido no frágil cessar-fogo, que permanece intacto.
O movimento Crescente Vermelho revelou entretanto que quatro prisioneiros palestinianos libertados foram levados para o hospital devido ao seu “estado crítico de saúde”.
No âmbito deste acordo, deverão ser libertados por Israel 369 prisioneiros e detidos palestinianos, incluindo 36 que cumprem penas de prisão perpétua por ataques mortais.
Autocarros com prisioneiros palestinianos libertados deixaram uma prisão no Negev (sul de Israel) com destino a Gaza, e outros autocarros chegaram a Ramallah, na Cisjordânia ocupada.
Os prisioneiros libertados chegaram à Cisjordânia ocupada e foram recebidos por aplausos da multidão, observou um jornalista da AFP.
Vestindo o tradicional keffiyeh, os prisioneiros libertados foram içados sobre os ombros da multidão e abraçaram os familiares antes de serem submetidos a um rápido controlo.
Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, esta foi a sexta troca de reféns por prisioneiros. Até à data, foram libertados 109 reféns israelitas ou com dupla nacionalidade, bem como cinco reféns tailandeses, libertados à margem do acordo.
No total, a primeira fase do acordo prevê a libertação de 33 reféns até ao início de março, incluindo oito reféns dados como mortos, em troca de cerca de 1900 palestinianos encarcerados por Israel.
A troca deste sábado esteve em dúvida durante a semana, depois de o Hamas ter anunciado que iria suspender o processo, devido às "violações" israelitas do acordo de cessar-fogo, em particular quanto ao bloqueio da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Hamas encoraja Israel a iniciar 2.ª fase das negociações "sem demora"
O grupo islamita Hamas encorajou Israel a iniciar "sem demoras" a segunda fase das negociações do cessar-fogo, após a libertação este sábado de mais três reféns israelitas que estavam na Faixa de Gaza.
Em comunicado, o Hamas assinalou a libertação de 369 prisioneiros palestinianos por Israel prevista para hoje em troca dos reféns, que já chegaram a Ramallah e à Faixa de Gaza.
"Estes momentos, em que testemunhamos os nossos heróicos prisioneiros a abraçar a liberdade, são um novo passo na nossa longa viagem em direção a Jerusalém", referiu o grupo islamita.
O Hamas salientou ainda que Israel tem agora a "responsabilidade de aderir ao acordo e ao protocolo humanitário e de iniciar a segunda fase das negociações sem demora".
De acordo com os termos do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, que esteve prestes a ser quebrado esta semana, as negociações com os mediadores - EUA, Qatar e Egito - sobre a segunda fase deveriam ter começado 16 dias após a entrada em vigor do acordo, ou seja, em 03 de fevereiro.
Esta nova fase, considerada mais complicada, prevê a devolução de todos os reféns capturados no ataque do Hamas de 07 de outubro de 2023 e uma prorrogação indefinida do cessar-fogo.
Com Lusa