Apesar de as sondagens na Carolina do Sul a colocarem a quase 40 pontos de distância de Donald Trump, Nikky Haley vai levar a luta contra o ex-presidente norte-americano para casa, recusando desistir após a derrota nas primárias no New Hampshire. “Os eleitores da Carolina do Sul não querem uma coroação, eles querem uma eleição. E vamos dar-lhes uma, porque estamos apenas a começar”, disse a antiga governadora após a segunda derrota no espaço de uma semana para Trump, que preferia focar-se já em novembro e na luta contra Joe Biden. O presidente foi o outro vencedor da noite, mesmo sem o nome nos boletins de voto..“Se ela não desistir, temos que desperdiçar dinheiro em vez de o gastar em Biden, que é o nosso foco”, disse Trump aos apoiantes após mais uma vitória. Foi o primeiro candidato republicano que, não estando na Casa Branca, conseguiu vencer tanto o caucus do Iowa (a 30 pontos de distância dos adversários) como as primárias do New Hampshire (batendo a única rival, Haley, por 11 pontos). .“New Hampshire é a primeira [primária] da nação, não é a última. Esta corrida está longe de estar acabada”, defendeu a ex-governadora da Carolina do Sul. As primárias republicanas neste estado realizam-se a 24 de fevereiro (as dos democratas são já a 3 de fevereiro), sendo a próxima grande competição entre ambos. Antes, haverá primárias (a 6 de fevereiro) e caucus (dois dias depois) no Nevada, mas só estes últimos contam para as contas, numa divisão entre as leis estaduais e o Partido Republicano. Haley só está no boletim de voto das primárias e Trump só está no dos caucus, razão pela qual a corrida não é considerada competitiva. A 5 de março haverá a Super-Terça-Feira, quando mais de dez estados vão a votos, não sendo claro se Haley chegará até lá..“New Hampshire é a primeira [primária] na nação, não é a última. Esta corrida está longe de estar acabada.”Nikki HaleyEx-governadora da Carolina do Sul.Apesar de ter sido governadora da Carolina do Sul, Haley não conta com o apoio do partido a nível local, com a maior parte das figuras republicanas do estado a apoiar Trump. Vários analistas acreditavam que, se perdesse no New Hampshire, optaria por desistir antes de ir a votos no seu estado natal, onde arrisca uma humilhação. Também poderá imitar o governador da Florida, Ron DeSantis, que depois de ser segundo no Iowa disse que continuava na corrida, acabando por desistir antes das primárias de terça-feira. A média das sondagens, do site fivethirtyeight.com, dá atualmente a Trump 62,2% das intenções de voto na Carolina do Sul, sendo que Haley só tem 25%..Para Tiago Moreira de Sá, professor da Universidade Nova de Lisboa, Haley não tem hipótese de ganhar a nomeação a Trump, como já não tinha antes de New Hampshire. “Acho que algumas pessoas estão a tomar o desejo pela realidade”, disse ao DN. “É claro que Trump vai ser escolhido pelos republicanos como candidato às presidenciais de novembro, desde o início que não houve dúvidas”, acrescentou o professor, autor de vários livros sobre política dos EUA..Moreira de Sá considera que a ex-governadora está “a posicionar-se bem como seríssima candidata republicana” para o futuro, sendo que há um limite. “Ela também não pode hostilizar o eleitorado republicano”, insistindo em continuar numa luta que não tem possibilidades de ganhar, “é um equilíbrio que tem que fazer” se quiser ter uma palavra a dizer “no pós-Trumpismo, dependendo do que for o Partido Republicano na altura”. .Neste momento, e tendo em conta os resultados do Iowa e do New Hampshire - em ambos Trump teve mais de 50% dos votos -, parece claro que o futuro está nas mãos do ex-presidente. “O Partido Republicano de hoje já não tem nada a ver com o que era no tempo de Ronald Reagan”, indicou Tiago Moreira de Sá, deixando claro que o mesmo se passa com o Partido Democrata, antigo partido centrista, da esquerda moderada, que é hoje muito diferente. “Biden é, provavelmente, a última tentativa de os moderados governarem nos EUA”, apontou. .Trump vs. Biden.O presidente norte-americano não estava no boletim de voto no New Hampshire (que não conta para eleger delegados à convenção, numa divergência entre a lei estadual e as regras do partido), mas foi o vencedor das primárias democratas - os eleitores têm sempre a possibilidade de introduzir nomes à mão. Biden teve 55,1% dos votos, contra 19,6% do congressista Dean Phillips, que tem feito campanha a atacar o presidente por causa da sua idade (tem 81 anos)..Tudo aponta para, em novembro, haver uma repetição do duelo entre Trump e Biden. Mas apesar de ter ganho no New Hampshire, nem tudo é boa notícia para o ex-presidente. 44% dos eleitores que votaram nas primárias republicanas eram independentes, tendo Haley conquistado 58% do seu voto e Trump 39%. Quatro em dez eleitores que votaram em Haley disseram que não gostar do ex-presidente era a razão do seu voto, mais do que apoiarem a antiga governadora. Mais de 90% disseram que ficariam insatisfeitos se Trump fosse o candidato escolhido para a nomeação republicana..Haley esteve melhor junto do eleitorado mais moderado e junto dos eleitores com formação universitária, provando que Trump continua a não ter capacidade para se afirmar nesta tipologia política e académica, o que pode ser um dos seus pontos mais fracos no provável embate contra Biden..susana.f.salvador@dn.pt