Trump concorda com Rubio: se não houver progressos "muito em breve" os EUA desistem das negociações na Ucrânia

Secretário de Estado norte-americano Marco Rubio alerta que os EUA não vão continuar empenhados num acordo muito mais tempo.
Donald Trump na Casa Branca.
Donald Trump na Casa Branca.WILL OLIVER / EPA

Também Trump já sugere sair das negociações da Ucrânia se não houver progressos "muito em breve"

O Presidente norte-americano, Donald Trump, sugeriu hoje que pode abandonar as negociações com Moscovo e Kiev sobre o conflito na Ucrânia “muito em breve” se não houver progressos, após declarações divergentes na sua administração.

"Não há um número específico de dias, mas queremos resolver isso rapidamente", disse o Presidente dos Estados Unidos.

Estas declarações estão em linha com o chefe da diplomacia de Washington, Marco Rubio, que também alertou hoje que os Estados Unidos poderão deixar as conversações, mas em contraste com o vice-Presidente dos Estados Unidos, JD Vance, que no mesmo dia indicou avanços nas últimas horas no diálogo com as partes e expressou o seu otimismo.

"Se por algum motivo algum dos lados tornar as coisas demasiado difíceis, diremos apenas: 'Vocês são estúpidos, vocês são idiotas, vocês são pessoas horríveis', e seguiremos em frente", declarou Trump, acrescentando: "Mas espero que não tenhamos de fazer isso".

Horas antes, JD Vance manifestou, durante uma visita a Roma, o seu otimismo sobre a evolução das negociações indiretas com Moscovo e Kiev, à margem de um encontro com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

"Não quero prejudicar nada, mas estamos realmente otimistas de que podemos acabar com esta guerra tão brutal", disse o vice-Presidente norte-americano, referindo-se a “certas coisas que aconteceram nas últimas 24 horas".

No entanto, no mesmo dia, o secretário de Estado norte-americano ameaçou "seguir em frente" se os Estados Unidos chegarem à conclusão que "não é possível" alcançar a paz na Ucrânia.

"Os Estados Unidos têm outras prioridades", observou Marco Rubio à saída de França.

Posteriormente, Trump disse que "Marco tem razão" de que a dinâmica das negociações precisa de mudar, deixando no ar a hipótese de abandonar o diálogo, sem se comprometer com nenhum ultimato. “Bem, não quero dizer isso. Mas queremos ver isto acabar”, declarou.

As declarações dos dirigentes norte-americanos surgem no mesmo dia em que o Kremlin anunciou que dava por encerrada a moratória de ataques a infraestruturas energéticas, revelada em março e minada desde então por acusações mútuas de Kiev e Moscovo de violações ao acordo.

Representantes dos Estados Unidos, da Ucrânia e europeus concordaram em voltar a reunir-se na próxima semana em Londres, após um primeiro encontro que se realizou na quinta-feira em Paris.

DN/Lusa

Vance diz estar "otimista" apesar de afirmações de Rubio em sentido contrário

Mais mensagens contraditórias vindas dos EUA. Agora foi a vez de J.D. Vance afirmar estar "otimista" de que a paz na Ucrânia pode ser alcançada, isto poucas horas depois de Marco Rubio ter referido que Washington estava pronto para abandonar as negociações.

O vice-presidente norte-americano comentou a situação após um encontro esta sexta-feira com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, em Roma.

"Desde que existem negociações estamos otimistas de que podemos acabar com esta guerra, esta guerra tão brutal", disse aos jornalistas, sentado ao lado de Meloni.

Trump, recorde-se, disse ontem que sentia que um cessar-fogo estava "próximo" e que Moscovo estava pronto para voltar a dialogar sobre uma proposta de paz, mas Rubio ameaçou que os EUA podiam desistir dado o arrastar do imbróglio nas negociações para um acordo de paz.

EUA ameaçam abandonar esforços para acordo de paz em poucos dias

Declarações alarmantes de Marco Rubio após um reunião em Paris com governantes europeus, incluindo o presidente francês Emanuel Macron. O secretário de Estado norte-americano admitiu que os EUA podem abandonar os esforços para mediar a paz entre a Rússia e a Ucrânia, a menos que haja sinais claros de progresso nos próximos dias.

"Precisamos de descobrir aqui agora, numa questão de dias, se este acordo de paz é viável a curto prazo, porque se não for, acho que vamos simplesmente seguir em frente", disse.

"Não vamos continuar com este esforço por semanas e meses a fio", acrescentou.

O líder da diplomacia norte-americana disse que Donald Trump ainda está empenhando em conseguir um acordo de paz, mas vincou que os EUA têm muitas outras prioridades.

"Precisamos de determinar muito rapidamente agora, e estou a falar numa questão de dias, se a paz é viável ou não nas próximas semanas. Se for, estamos dentro. Se não for, temos outras prioridades para nos focar", atirou Rubio.

“Não é a nossa guerra. Nós não a iniciámos. Os Estados Unidos têm ajudado a Ucrânia nos últimos três anos e queremos que o conflito acabe, mas não é a nossa guerra. O presidente Trump passou 87 dias deste seu governo, repetidamente a esforçar-se para colocar fim a esta guerra. Agora estamos a chegar a um ponto em que precisamos de decidir se isso é possível ou não", finalizou Rubio.

Ordem de Putin para suspender ataques a infraestruturas energéticas expirou

O Kremlin anunciou hoje que a ordem dada em 18 de março pelo Presidente Vladimir Putin para suspender os ataques a instalações energéticas na Ucrânia durante 30 dias “expirou”.

“O mês (da moratória) expirou de facto. De momento, não houve mais instruções do comandante supremo, o Presidente Putin”, disse hoje o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, na conferência de imprensa diária.

Peskov reconheceu assim o fim, do lado russo, desta frágil moratória que Moscovo e Kiev se acusaram mutuamente de violar, ao mesmo tempo que saudou esta trégua parcial como “um progresso” na via da resolução do conflito na Ucrânia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, tinha anunciado, em 18 de março, que tinha ordenado ao seu exército, na sequência de um telefonema com o seu homólogo norte-americano Donald Trump, que cessasse os ataques contra as infraestruturas energéticas ucranianas durante 30 dias.

Alguns dias mais tarde, os Estados Unidos anunciaram que tinham chegado a um acordo sobre o assunto com a Rússia, por um lado, e a Ucrânia, por outro.

No entanto, continuava a haver alguma indefinição quanto às datas de início e fim efetivos, bem como quanto às condições.

Além disso, tanto Kiev como Moscovo trocaram acusações, quase diariamente, de violar o acordo.

Donald Trump, que quer pôr fim ao conflito o mais rapidamente possível, tinha inicialmente proposto um cessar-fogo incondicional e total, cujo princípio foi aceite por Kiev, mas rejeitado por Vladimir Putin.

“A Rússia quer resolver este conflito, proteger os seus interesses e continua aberta ao diálogo”, frisou hoje Peskov aos jornalistas.

Donald Trump na Casa Branca.
Rubio e Witkoff em Paris para discutirem a Ucrânia

França fala em novas negociações para a semana em Londres

As autoridades francesas revelaram esta sexta-feira que são esperadas novas negociações entre os EUA e a Europa em Londres dentro de alguns dias, após as reuniões de quinta-feira em Paris.

Marco Rubio e o enviado para a paz de Donald Trump, Steve Witkoff, conversaram com os ministros das Relações Exteriores francês e britânico na capital francesa.

As autoridades francesas afirmam que uma nova reunião em Londres terá o mesmo formato, e Rubio afirmou que poderá participar dessa reunião, esperada no início da próxima semana.

Desde que tomou posse, em janeiro, o presidente norte-americano fez uma aproximação a Vladimir Putin e diz estar a tentar obter um cessar-fogo rápido na Ucrânia, mas as negociações estão, até agora, num impasse.

Novos ataques russos atingiram várias cidades ucranianas importantes na noite de quinta-feira, matando pelo menos duas pessoas e ferindo 40, de acordo com as autoridades ucranianas.

Kremlin contraria Rubio e diz que há "progressos concretos" para a paz

O Kremlin já reagiu às declarações do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, notando que se registaram "progressos concretos" nas negociações com Washington para uma solução pacífica na Ucrânia.

"Acreditamos que se podem registar alguns progressos. Esse progresso está relacionado com a moratória provisória que foi respeitada pela Rússia para não lançar ataques às infraestruturas energéticas", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Peskov sublinhou que foram alcançados alguns acordos nas últimas semanas, embora, "como é óbvio, ainda subsistem muitas discussões complicadas pela frente".

Ao mesmo tempo, admitiu que a trégua energética de 30 dias "expirou" depois de a Rússia e a Ucrânia se terem acusado constantemente mutuamente de violações.

Reino Unido, EUA e Ucrânia vão reunir-se novamente "muito em breve"

Os comentários de Marco Rubio na manhã desta sexta-feira sobre a possibilidade de os EUA desistirem de intermediar a paz na Ucrânia geraram alguma incerteza e até um certo espanto entre os países que têm estado na linha da frente para um compromisso de paz.

Nesse sentido, um porta-voz do governo britânico disse à Sky News que estão para breve novas conversas. "Concordámos em reunir-nos [o E23, grupo composto pelo Reino Unido, Alemanha e França] novamente com os EUA e a Ucrânia muito em breve, com o objetivo de encontrarmos um caminho para alcançar um cessar-fogo e uma paz plena e sustentável."

Rússia e Ucrânia vão trocar quase 500 prisioneiros neste sábado

A Rússia e a Ucrânia vão realizar amanhã uma nova troca de prisioneiros, mediada pelos Emirados Árabes Unidos, informou uma fonte à Reuters.

A troca envolverá 246 prisioneiros de cada lado, disse a mesma fonte.

O número total de prisioneiros trocados através da mediação dos Emirados Árabes Unidos totaliza agora 3233.

Esta troca ocorre após Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, ter ameaçado hoje que os EUA podiam deixar de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia nos próximos dias, a menos que existam sinais claros de que uma trégua possa ser alcançada.

O líder ucraniano afirmou recentemente que a libertação de todos os prisioneiros de guerra e civis capturados seria um passo crucial para a paz e poderia criar confiança entre os dois países. Zelensky, aliás, tem apelado repetidamente a uma troca de prisioneiros "todos por todos".

Japão assina empréstimo a Kiev de três mil milhões de euros

O Japão assinou esta sexta-feira um acordo com a Ucrânia que concede a Kiev um empréstimo de 471,9 mil milhões de ienes (2,9 mil milhões de euros) cobertos por ativos russos congelados, informou hoje a imprensa ucraniana.

A verba faz parte do programa de Aceleração Extraordinária de Receitas (ERA) para a Ucrânia do G7, que visa fornecer a Kiev 50 mil milhões de dólares (43,8 mil milhões de euros) para necessidades de reconstrução e defesa, segundo o diário Kyiv Independent.

O jornal adianta que o empréstimo será pago com recursos provenientes de cerca de 300 mil milhões de dólares (263 mil milhões de euros) em ativos soberanos russos imobilizados nas contas dos membros do G7, constituído pelas democracias mais industruializadas do mundo.

"O Japão é um exemplo brilhante de solidariedade internacional, tendo-se tornado num dos principais parceiros da Ucrânia na nossa luta pela liberdade e dignidade", afirmou o ministro das Finanças da Ucrânia, Serhii Marchenko, após assinar o acordo com o embaixador do Japão em Kiev, Masashi Nakagome.

O governante ucraniano referiu que o empréstimo tem um prazo de vencimento de 30 anos e será utilizado para apoiar as necessidades orçamentais prioritárias da Ucrânia e contribuir para a recuperação e o desenvolvimento do país.

Marchenko agradeceu ao Governo e ao povo do Japão por este apoio, bem como por toda a assistência financeira recebida desde o início da invasão da Rússia, em fevereiro de 2022, e que disse ascender a mais de 8,5 mil milhões de dólares (7,4 mil milhões de euros).

De acordo com a agência Ukrinform, a iniciativa ERA do G7 visa fornecer à Ucrânia 50 mil milhões de dólares, sendo que 20 mil milhões serão disponibilizados pela União Europeia (UE).

Em dezembro de 2024, Kiev assinou um acordo com a UE para estabelecer o Mecanismo de Cooperação de Empréstimos da Ucrânia, permitindo que os lucros dos ativos russos congelados sejam utilizados para pagar empréstimos de 45 mil milhões de euros ao abrigo da estrutura do ERA.

No âmbito do programa, os Estados Unidos transferiram mil milhões de dólares para a Ucrânia em dezembro de 2024.

Em janeiro de 2025, a UE disponibilizou os primeiros três mil milhões de euros da sua parcela do empréstimo.

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