Os Países Baixos deverão ir a votos até ao final do ano, muito provavelmente no outono, para escolher um novo Parlamento, depois de a coligação governamental ter colapsado esta terça-feira na sequência da saída da sua maior força, o Partido pela Liberdade (PVV), de extrema-direita, liderado por Geert Wilders. O primeiro-ministro Dick Schoof anunciou a sua demissão, garantindo que iria liderar um governo interino até às eleições, considerando que a decisão de Wilders foi “irresponsável e desnecessária”. “Na minha opinião, isto não deveria ter acontecido”, acrescentou.Geert Wilders anunciou esta terça-feira de manhã que os cinco ministros do PVV iriam deixar o governo depois de os outros três parceiros da coligação terem rejeitado as suas propostas radicais sobre imigração e asilo. “Assinei por uma política de asilo mais rigorosa, não para a queda dos Países Baixos”, disse o líder da extrema-direita neerlandesa, depois de ter avisado na semana passada que, se o seu plano não fosse adotado, o PVV ficaria “fora do governo”.O plano de dez pontos de Geert Wilders pretendia, entre outras coisas, a deportação de todos os requerentes de asilo, o encerramento dos centros de alojamento de refugiados, a suspensão das quotas de asilo determinadas pela União Europeia, e a proibição de os familiares se juntarem aos refugiados já no país. Dilan Yesilgöz, líder do liberal VVD, um dos partidos da coligação, disse ter ficado “chocada” com a decisão de Wilders, que classificou de “superirresponsável”. “Tínhamos uma maioria de direita e ele deixa tudo de lado, por ego. Está apenas a fazer o que quer. Isto está a fazer-nos parecer tolos. Está a fugir, num momento de incerteza sem precedentes”, acrescentou. Na mesma linha, Caroline van der Plas, do Partido dos Agricultores (BBB), referiu que “ele não está a colocar os Países Baixos em primeiro lugar, está a colocar Geert Wilders em primeiro lugar”, enquanto que Nicolien van Vroonhoven, dos Democratas Cristãos (NSC), afirmou que a medida foi “incrível e incompreensível”.O atual governo tomou posse a 2 de julho, após meses de negociações entre os quatro partidos da coligação que se formou no seguimento das eleições de novembro de 2023, ganhas pelo PVV com 23,49% dos votos, o equivalente a 37 deputados. Umas negociações que só chegaram a bom porto depois de Wilders ter prescindido de ser primeiro-ministro e ocupar qualquer cargo no executivo, tendo o escolhido sido Schoof, antigo militante do Partido Trabalhista e atual independente, com uma longa carreira em cargos públicos e governamentais. Esta terça-feira, o agora primeiro-ministro demissionário disse ter aceitado o cargo “com a convicção de que poderia contribuir, de alguma forma, para a solução dos problemas que o país enfrenta”, e, como ainda “mantém essa convicção”, continuará a trabalhar a título interino até que seja formado um novo governo. Schoof ficará acompanhado por ministros do VVD, do NSC e do BBB, mas desconhece-se quem ocupará os cinco ministérios deixados vagos pelo PVV.“Estamos a enfrentar grandes desafios a nível nacional e internacional e, mais do que nunca, precisamos de determinação para garantir a segurança, a resiliência e a economia”, justificou. De recordar que, nos próximos dias 24 e 25, Haia será palco da Cimeira da NATO.As sondagens indicam que o PVV permanece em primeiro lugar, mas a uma distância mais curta do seu rival mais próximo, a aliança Verdes/Trabalhistas, liderada pelo antigo vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans..Primeiro-ministro neerlandês demite-se depois de partido de extrema-direita se retirar do governo de coligação