O frágil cessar-fogo na Faixa de Gaza conseguido há pouco mais de uma semana por Donald Trump esteve este domingo, 19 de outubro, perto de chegar ao fim, depois de Israel lançar ataques aéreos em várias zonas do enclave, nomeadamente nas cidades de Rafah, Khan Yunis e Beit Lahia, em resposta, segundo Telavive, aos tiros e lançamento de granadas contra as suas tropas em Rafah levados a cabo pelo Hamas. O governo israelita garantiu que o cessar-fogo se mantém, apesar do bombardeamento que realizou contra “alvos terroristas em Gaza”, causando pelo menos seis mortos e nove feridos. Uma garantia dada pela porta-voz do governo, Shosh Bedrosian, pouco depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter ordenado “ações vigorosas contra alvos terroristas” em Gaza. “Estamos atualmente num cessar-fogo, mas os soldados têm permissão para se protegerem”, disse a mesma fonte.Apesar desta garantia da parte do governo de Netanyahu são várias as vozes que se levantaram este domingo mostrando um cada vez maior ceticismo quanto ao futuro deste cessar-fogo, como o ministro dos Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, e o ministro da Agricultura, Avi Dichter, ambos de linha dura, que voltaram ontem a defender que Israel não pode coexistir com o Hamas. O braço armado Hamas, por seu turno, garantiu este domingo estar a implementar o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, assegurando desconhecer quaisquer confrontos em Rafah. “Reafirmamos o nosso total compromisso com a implementação de tudo o que foi acordado, a começar por um cessar-fogo em todas as áreas da Faixa de Gaza”, afirmou a Brigada Izz al-Din al-Qassam, em comunicado. “Não temos conhecimento de quaisquer incidentes ou confrontos ocorridos na área de Rafah, dado que estas são zonas vermelhas sob o controlo da ‘ocupação’, e o contacto com o resto dos nossos grupos foi interrompido desde o restabelecimento da guerra, em março”.O Hamas referiu ainda ter localizado o corpo de outro refém israelita, afirmando que pretendia entregá-lo a Telavive se “as condições de campo o permitirem”. Mas alertou que os ataques aéreos e os bombardeamentos contínuos tornariam tais transferências impossíveis. No entanto, durante a manhã, uma unidade de segurança do Hamas, a Radea, informou que estava a realizar uma operação em Rafah - um dos alvos dos ataques israelitas de ontem - para eliminar o líder da milícia rival, conhecida como ‘Forças Populares’, Yasser Abu Shabab. Soldados israelitas intervieram para apoiar Shabab, o que resultou num fogo cruzado e provocou a explosão de uma escavadora israelita. Esta unidade da polícia do Hamas garantiu em comunicado que o seu objetivo em Rafah não era atingir tropas israelitas.A agência de defesa civil de Gaza informou que pelo menos 11 pessoas foram mortas nos ataques aéreos israelitas deste domingo, incluindo seis no norte, enquanto Israel afirmou que pode realizar novos ataques após as ações contra as suas tropas em Rafah e Beit Lahia. O ministro da Defesa, Israel Katz, avisou que o Hamas “pagará um preço elevado” por novas violações do cessar-fogo, afirmando que os militares israelitas responderão “de forma cada vez mais severa” se os ataques continuarem. No sábado, os Estados Unidos haviam dito ter “informações credíveis” sobre um “ataque iminente” do Hamas contra civis palestinianos, numa “violação clara” ao cessar-fogo. Uma acusação que foi rejeitada ontem de manhã pelo grupo palestiniano, que culpou ainda Israel por ter armado e financiado outras milícias, que, segundo disse, realizaram “assassinatos, raptos, roubos de camiões de ajuda humanitária e furtos contra civis”.Suspensa entrada de ajudaDepois do governo ter acusado o Hamas de violar o cessar-fogo, Israel decidiu fechar os pontos de passagem para Gaza para os comboios de ajuda, segundo avançou uma autoridade de segurança à AFP.De recordar que o acordo apresentado pela Casa Branca de Donald Trump estabelecia a entrada diária de 600 camiões com ajuda humanitária em Gaza, este domingo Telavive decidiu suspender a transferência de ajuda para o território “até novo aviso”.Relatos do Crescente Vermelho Egípcio assinalaram que este domingo vários camiões com alimentos, material médico e de higiene regressaram ao lado egípcio da fronteira depois de Israel ter bombardeado a zona de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. “Um grande número de camiões regressou”, disse uma fonte da organização, sem especificar o número de veículos que voltaram para o Egito, horas depois de um comboio de cerca de 200 camiões ter iniciado o caminho para as passagens de Kerem Shalom e de Al-Auja, controladas por Israel, para inspeção antes de entrar em Gaza.Já a passagem fronteiriça de Rafah, que liga diretamente o Egito à Faixa de Gaza, continua encerrada. A este propósito, uma fonte do lado egípcio da passagem de Rafah adiantou à EFE que a passagem não seria aberta este domingo e que Israel a mantém fechada do lado de Gaza.Inicialmente, a abertura da passagem de Rafah estava prevista para segunda-feira, no entanto, o primeiro-ministro israelita adiantou que esta vai continuar encerrada “até nova ordem”. Netanyahu realçou, de acordo com seu gabinete, que a abertura da passagem fronteiriça, tal como previsto no acordo de cessar-fogo, “será considerada em função da forma como o Hamas cumprir a sua parte, devolvendo os reféns e implementando a estrutura acordada”..Disputa entre Israel e Palestina sobre reabertura da passagem de Rafah agrava incerteza em Gaza