Jordan Bardella era o plano do Reunião Nacional para as presidenciais de 2037, mas a condenação de Marine Le Pen pode obrigar a uma antecipação desse calendário. E isto está a causar mal-estar no partido, dividido entre a três vezes candidata presidencial — que conta com o recurso judicial para levantar a proibição de apresentar-se pela quarta vez em 2027 — e o seu delfim, que as sondagens já colocam a par da mentora."Não há ambiguidade no facto de Marine Le Pen ser a minha candidata. Mas que, se for impedida de se candidatar amanhã, acho que posso dizer que serei o candidato dela", disse Bardella, de 29 anos, numa entrevista ao jornal Le Parisien em abril. No entanto, não tem sido isso que ela tem dito. Logo após a condenação, no final de março, Le Pen defendeu que Bardella era um "trunfo tremendo para o movimento", mas disse esperar que ele não tivesse de ser usado mais cedo do que o necessário.O plano do Reunião Nacional era Bardella, que assumiu a presidência do partido após a saída de Le Pen em 2021, ser nomeado primeiro-ministro no seguimento da eventual vitória da sua mentora em 2027 – era a favorita nas sondagens. Isso ajudaria a colmatar aquele que é considerado um dos seus principais pontos fracos: a falta de experiência política.Se for preciso antecipar o calendário e lançá-lo para a corrida ao Palácio do Eliseu já em 2027, há quem defenda que devia estar já a ser preparado para isso — não só ele, mas os próprios eleitores. Mas, há também quem defenda que, se começar a sugerir a possibilidade de uma transição, a sua cabeça pode rolar."Se fosse um partido normal, Le Pen demitia-se imediatamente e haveria uma reorganização em torno de Bardella. Mas é um partido patrimonial, onde se deve lealdade a Marine Le Pen, e onde qualquer distanciamento resulta em exclusão. Daí esta situação ridícula", disse ao diário Le Monde o cientista político Luc Rouban, do Centro de Investigação Política da Sciences Po.Le Pen é filha do fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, tendo sucedido ao pai na liderança em 2011. Sob o seu comando, a antiga Frente Nacional transformou-se em Reunião Nacional, deixando cair as polémicas em torno do racismo e do antissemitismo herdados do seu pai.No final de março, Le Pen foi condenada a cinco anos de proibição de concorrer a cargos públicos por peculato, num caso referente aos falsos assessores no Parlamento Europeu.Ao contrário de dois outros pontos da sentença, que só começam a contar quando forem esgotados todos os recursos – quatro anos de prisão, dois deles de pena suspensa, e uma multa de cem mil euros – a inelegibilidade é imediata. E apesar de não afetar o seu atual cargo como deputada, impede a corrida às presidenciais de 2027. O recurso pode, contudo, mudar isso, mas só deverá haver decisão no próximo ano.Enquanto se espera pelo plano A, há já quem esteja de olho no plano B. Numa sondagem IFOP, publicada a 12 de maio, só 52% dos inquiridos acreditam que ela vá estar numa posição de concorrer, contra 69% para Bardella. E, segundo o site Politico, na última sondagem IFOP a hipótese Le Pen só foi acrescentada depois da intervenção de dois aliados, porque inicialmente só estava em cima da mesa o nome de Bardella.A dois anos das eleições, as sondagens colocam o delfim nos mesmos valores da mentora. O líder do Reunião Nacional surge nas diferentes sondagens com entre 30% e 35% das intenções de voto numa primeira volta, mais de dez pontos à frente do ex-primeiro-ministro Édouard Philippe, do Horizontes. E, numa segunda volta, há sondagens que o colocam empatado a 50% e outra a perder por 54% contra 46% (como acontecia antes com Le Pen).Num eventual frente a frente final com outro ex-primeiro-ministro, Gabriel Attal, do Renascimento do presidente Emmanuel Macron, Bardella vence com 52% contra 48%, tal como a mentora faria. E, na disputa com Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa, faz até melhor do que ela, ganhando 67% contra 33%..União Nacional e Marine Le Pen apresentam recurso e irão a julgamento em 2026.Quem é Jordan Bardella: o herdeiro de Le Pen com apenas 27 anos