Emmanuel Macron deverá anunciar hoje a decisão que tomou, depois de ter dado um prazo de 48 horas ao primeiro-ministro demissionário para que este apresente uma solução para a crise política em que a França está mergulhada desde junho do ano passado. Excluída a hipótese improvável de se demitir - tal como defendido pelo ex-primeiro-ministro Édouard Philippe e apreciada por 62% dos franceses, segundo uma sondagem Ifop para a estação LCI -, restam três hipóteses: abrir mais um ciclo de negociações, dissolver a Assembleia Nacional, ou nomear um novo primeiro-ministro. Para Sébastien Lecornu, que não resistiu um mês na chefia do governo, estão reunidas as condições para que nas próximas horas Macron nomeie um novo primeiro-ministro, anunciou em entrevista à France 2 depois de o ter dito no Palácio de Eliseu. "Penso que é possível um caminho. É difícil, e eu disse ao presidente da república que as perspetivas de dissolução estavam a afastar-se, e que que a situação permite ao presidente nomear um primeiro-ministro nas próximas 48 horas", afirmou..“Uma maioria da Assembleia Nacional recusa a dissolução, porque vê claramente que uma dissolução não traz qualquer solução. Existem vários grupos dispostos a chegar a um entendimento sobre um orçamento comum.”Sébastien Lecornu.A única voz que se ergueu nas últimas horas em defesa de Macron foi a da ex-primeira-ministra Élisabeth Borne. A atual ministra da Educação apelou para o sentido de Estado de “todos aqueles que estão ligados às instituições” para que estes não levantem o tema da demissão para “não fragilizar o presidente da República”, disse ao Le Parisien. Por outro lado, Borne, que tem no seu currículo a aprovação do aumento da idade da reforma, abriu um caminho para as negociações entre o campo presidencial e a esquerda, ao admitir a hipótese de aquela reforma ficar suspensa. “Se esta for a condição para a estabilidade do país, devemos examinar as modalidades e as consequências concretas de uma suspensão até ao debate que terá lugar na próxima eleição presidencial”, afirmou. O líder do PS classificou esta possível cedência como um “despertar tardio, mas positivo”. No entanto, ao sair da sede do governo, na quarta-feira à tarde, onde se encontrou com Lecornu, Olivier Faure mostrou-se desconfiado, ao não ter “qualquer garantia da suspensão” da reforma sobre a idade do fim da idade ativa. O socialista, que reclama a nomeação de um chefe de governo de esquerda, disse ainda: “Esta história pode ser uma completa ilusão.” O centro e a direita não estão de acordo com o retrocesso neste tema. O ministro demissionário da Economia, Roland Lescure, advertiu para o custo de “centenas de milhões” em 2026 e de “milhares de milhões” em 2027. Mas Lecornu, na entrevista à France 2, reconheceu que “há que encontrar um caminho para que o debate sobre a reforma das pensões tenha lugar”. O primeiro-ministro, que garantiu que a sua missão chegou ao fim, revelou que na segunda-feira o conselho de ministros vai avançar com uma proposta de orçamento para 2026. “Todas as forças políticas que vieram falar comigo, à exceção da França Insubmissa e da União Nacional, disseram-me que seria demasiado perigoso não ter um orçamento antes de 31 de dezembro.”Questionado sobre a sua demissão, Lecornu mostrou-se “arrependido” pela formação do executivo. Sem apontar o dedo ao ministro Bruno Retailleau, dos Republicanos, aconselhou o seu sucessor a compor uma equipa “totalmente desligada de ambições presidenciais para 2027”.Iniciativa de destituição fracassaA extrema-esquerda tentou, sem sucesso, agendar no parlamento uma moção de destituição ao presidente. O gabinete da Assembleia Nacional, composto por 22 deputados, decidiu-se pela sua inadmissibilidade, ao receber apenas cinco votos favoráveis. Presidido por inerência de funções pela presidente da Assembleia Yaël Braun-Pivet, o gabinete foi renovado na semana passada após a eleição anual. A esquerda, que tinha 13 eleitos, perdeu a maioria, enquanto a União Nacional, de extrema-direita, voltou a ter representantes (quatro). “Mais uma vez, como de costume, é a União Nacional que salva Emmanuel Macron”, acusou a presidente da bancada da França Insubmissa, Mathilde Panot. Desde as últimas eleições legislativas, das quais saiu vitoriosa a Nova Frente Popular, que juntou extrema-esquerda e esquerda, mas que nunca foi convidada por Macron para chefiar um governo, que a França Insubmissa quer o afastamento do presidente.Na anterior configuração do gabinete, o partido fundado por Jean-Luc Mélenchon conseguiu passar este crivo e agendar um debate, mas a proposta de resolução, depois de rejeitada em comissão, nem sequer foi a votos por decisão da conferência de líderes. A destituição do presidente francês é um processo que exige os votos favoráveis de dois terços dos deputados, de dois terços dos senadores e, por fim, de uma instância superior composta por membros das duas câmaras, também com o mínimo de votos de 66,6% dos representantes..Macron cada vez mais isolado e pressionado para resolver de vez crise política em França.Menos de um mês no cargo. Sébastien Lecornu apresentou a demissão a Emmanuel Macron