Na quinta-feira à noite, enquanto Emmanuel Macron presidia à cerimónia da entrada para o Panteão do antigo ministro Robert Badinter, circulava o nome do centrista Jean-Louis Borloo para suceder a Sébastien Lecornu, e os líderes dos socialistas, ecologistas e comunistas apelavam a uma voz para o presidente nomear um primeiro-ministro da sua área. A decisão será anunciada nesta sexta-feira.Não é o presidente nem um dos chefes de governo que caíram ou se demitiram nos últimos meses, mas há uma figura que emerge como central nesta crise: Bruno Retailleau. O líder do partido de centro-direita Os Republicanos (gaullista) e ministro demissionário terá sido, segundo o não dito por Lecornu na entrevista à France 2, responsável pela sua demissão em tempo recorde, ao afirmar-se arrependido sobre a composição do governo: “Agora tenho a convicção íntima de que a equipa que terá de assumir responsabilidades nos próximos tempos, seja qual for, deverá estar completamente desligada das ambições presidenciais para 2027.” Retailleau, ministro do Interior demissionário, tem essas ambições e continua a tentar influenciar os destinos do governo. Nas últimas horas tentou condicionar em modo duplo a escolha de Macron. Primeiro, afirmou que não iria participar - nem o seu partido - num executivo liderado por alguém de esquerda ou macronista. Além disso, a participação estaria condicionada ao nome do escolhido, ainda que fora da esquerda e do campo presidencial, e teria de haver acordo sobre o conteúdo programático, a começar pela oposição à suspensão da reforma das pensões, uma cedência surgida nas últimas horas sob proposta da ex-primeira-ministra Élisabeth Borne..França. Primeiro-ministro demissionário aconselha Macron a não dissolver a Assembleia. Depois, ao lançar o nome do centrista Jean-Louis Borloo, com quem se reuniu na quinta-feira de manhã, apresentou-o como “disruptivo”, e “nem de esquerda nem macronista”. Ao falar perante os deputados do seu partido, Retailleau também defendeu uma “espécie de coabitação” e uma “despresidencialização” da função de primeiro-ministro. Borloo, de 74 anos, foi ministro em várias pastas de Jacques Chirac e de Nicolas Sarkozy e líder da União de Democratas e Independentes, partido centrista. À esquerda, porém, exige-se outra solução por parte de Emmanuel Macron. “Ou persiste no isolamento e na negação, assumindo perante a história a responsabilidade de ter agravado consideravelmente a fratura entre o povo e as suas instituições. Ou ouve o país e dá início a uma nova etapa: a da coabitação”, apelaram Oliver Faure (PS), Marine Tondelier (Ecologistas) e Fabien Roussel (PC). No documento, entregue à agência France Presse, foi pedida “a nomeação de um primeiro-ministro e de um governo de esquerda e ecológico que permitirá a construção de maiorias na Assembleia Nacional”. A França Insubmissa, de extrema-esquerda, e que tem repetidamente exigido a demissão de Emmanuel Macron, disse que um governo dirigido por um socialista receberá o mesmo voto do que os anteriores, isto é, a censura, porque o PS deixou a plataforma Nova Frente Popular, na qual a esquerda e extrema-esquerda concorreram nas últimas legislativas, tendo sido a plataforma mais votada.