O Parlamento filipino aprovou esta quinta-feira a destituição da vice-presidente Sara Duterte, acusada de usar de forma indevida milhões de dólares de fundos públicos e de ter ameaçado mandar assassinar o presidente Ferdinand “Bongbong” Marcos Jr., acusações que refuta, dizendo estar a ser vítima de uma vingança política. Esta decisão é mais um capítulo do feudo político entre os dois, que se tem agudizado nos últimos meses, colocando um ponto final à aliança que os levou a uma vitória esmagadora em 2022.Agora cabe ao Senado confirmar ou não a destituição de Sara Duterte através de um julgamento, onde os 23 senadores servirão como jurados, e que poderá levar ao seu afastamento do cargo de vice-presidente e a uma proibição vitalícia de exercer cargos públicos, deitando por terra o seu desejo de ser eleita presidente, como o seu pai, Rodrigo Duterte.A câmara alta do Congresso filipino recebeu o documento de 33 páginas no qual Duterte é acusada de crimes como violação da Constituição, corrupção, traição da confiança pública, pouco depois de 215 dos 306 deputados do Parlamento terem votado a favor da sua destituição. Sara Duterte é a quinta alta figura do Estado filipino a ser destituída, com destaque para o então presidente Joseph Estrada há 25 anos.Não há ainda uma data para este julgamento no Senado - onde Sara Duterte ainda conta com o apoio de aliados de peso, o mesmo acontecendo com o presidente Marcos Jr. -, sendo que é preciso o voto favorável de dois terços dos senadores para que a destituição seja confirmada. O presidente já disse não apoiar a destituição da sua vice, mas não tem poder sobre o ramo legislativo. Paolo Duterte, deputado e irmão de Sara, afirmou esta quinta-feira que esta ação tem motivação política, garantindo, em comunicado, que “este abuso imprudente de poder não terminará a favor deles”.Ferdinand Marcos Jr. e Sara Duterte concorreram juntos à Presidência e vice-presidência das Filipinas em 2022, havendo a ideia de que seis anos depois Duterte seria a candidata a chefe de Estado, já que nas Filipinas apenas é permitido um mandato.Os dois fazem parte de dinastias políticas do país - Bongbong é filho do antigo ditador Ferdinand Marcos, afastado do poder após um golpe pró-democracia em 1986, e Sara é filha do populista Rodrigo Duterte, antecessor de Marcos Jr. na Presidência e protagonista de uma polémica guerra contra as drogas que está a ser investigada pelo Tribunal Penal Internacional como um potencial crime contra a Humanidade.Apelidando-se de UniTeam durante a campanha, os desentendimentos entre Bongbong e Sara Duterte começaram mesmo antes de tomarem posse, quando esta recebeu a pasta da Educação e não a da Defesa, como pretendia. Já no poder, as suas diferenças acentuaram-se, nomeadamente na relação das Filipinas com os Estados Unidos e a China - o presidente preferiu uma aproximação a Washington, afastando-se de Pequim, a linha política defendida pelos Duterte - ou a guerra às drogas, com Marcos Jr. a abandonar a linha dura do seu antecessor. A contenda entre Marcos Jr. e Duterte atingiu um pico em novembro quando a vice-presidente disse publicamente que tinha contratado um assassino para matar o presidente , a primeira dama, e o líder do Parlamento e primo de Marcos, Martin Romualdez, caso ela fosse morta, não especificando se havia alguma ameaça sobre a sua vida. Mais tarde, Sara Duterte explicou que as suas palavras tinham sido retiradas do contexto, dizendo que não estava a ameaçar Marcos, mas sim a tentar chamar a atenção para a sua própria segurança.