O presidente do Partido Popular classificou esta segunda-feira, 3 de novembro, como “correta” a renúncia de Carlos Mazón à liderança do governo regional valenciano na sequência da tragédia que fez agora um ano, mas defendeu “um companheiro que reconheceu os seus erros e sofreu uma perseguição política. Não é um assassino. Cometeu erros, sim, e também se desculpou e assumiu a responsabilidade por eles; hoje, até ao fim.”Alberto Nuñez Feijóo referiu ainda que este foi vítima de uma “caça às bruxas”, falando de uma “perseguição política e pessoal” quando o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, deveria ter-se demitido antes. “Há muito mais tempo deveria ter saído o senhor Sánchez. E irá, pelo que aconteceu na dana, por muitas coisas mais e porque o faremos todos os espanhóis, começando pelos valencianos”, declarou ainda Feijóo numa reunião do Comité Executivo Nacional do PP, marcada pela ausência de muitos líderes regionais populares. Referindo-se em concreto ao fenómeno meteorológico dana, que levou à morte de 229 pessoas na Comunidade Valenciana, o presidente dos populares sublinhou que “sempre estão e estarão as vítimas e as suas famílias como primeiro objetivo e dever deste partido. A elas devemos respeito, memória e reparação”. Mas, de acordo com Feijóo, a tarefa política “mais urgente” é a reconstrução da Comunidade Valenciana, sendo para isso preciso que o parlamento regional eleja o sucessor de Mazón, tendo apelado ao Vox, com quem o PP fez um acordo logo após as eleições autonómicas, para que apoie uma investidura. “Peço aos partidos que apoiam o governo autonómico que estejam à altura. Que facilitem o quanto antes a eleição de um novo presidente”, pediu Feijóo. De acordo com o El País, o Partido Popular sabe que as negociações com a formação de extrema-direita não serão fáceis, um dos motivos porque ainda não apresentaram um candidato - preferem oscultar o Vox primeiro quanto a nomes antes de avançar publicamente com um. Na primeira reação do Vox à demissão de Mazón, Santiago Abascal afirmou que os populares “tinham momentos melhores” para tornar pública a demissão de Mazón, acrescentando que este lhe ligou minutos antes do anúncio a comunicar-lhe a sua decisão. “É incrível que o senhor Feijóo e a senhora Guardiola [presidente da Junta da Extremadura ] seguem permanentemente o guião de Pedro Sánchez”, prosseguiu o presidente do Vox, classificando o que aconteceu ontem como “a entrega de um balão de oxigénio” ao primeiro-ministro. O líder da extrema-direita disse também que ainda não tinha sido contactado sobre o novo presidente valenciano, falando de “grandes disputas internas” no PP sobre quem poderá suceder a Mazón. “Primeiro que clarifiquem as coisas entre eles e quando decidirem o que vão fazer e quem irão propor, e só então, diremos qual será a nossa postura”. .Hora de reconhecer os errosUm ano e quatro dias depois do dana e após uma imensa pressão política e social para que se demitisse, Carlos Mazón anunciou esta segunda-feira que renunciava ao cargo de presidente da Generalitat da região. “Já não aguento mais”, declarou o governante do PP, sublinhando que “por vontade pessoal ter-se-ia demitido há mais tempo porque houve momentos insuportáveis (...). Estes meses foram duríssimos”. Fontes do executivo explicaram que o agora presidente demissionário participará hoje numa reunião do governo autonómico e depois tirará uns dias de descanso junto da família e terá uma consulta médica, tendo sido levantada a possibilidade pelos media espanhóis de que poderá meter baixa. Na opinião de Mazón, “a Generalitat precisa de um novo tempo”, apelando ainda “à responsabilidade” da maioria no parlamento valenciano - PP e Vox - para eleger o seu sucessor, que governará até ao final da atual legislatura, em 2027. Mazón continuará em funções até ser escolhido o seu sucessor, como previsto na lei, e depois assumirá o seu posto de deputado autonómico. Caso não haja acordo, terão de ser convocadas eleições antecipadas. Tal como fez Feijóo pouco depois na reunião do PP, Carlos Mazón apontou ainda o dedo ao primeiro-ministro Pedro Sánchez. “Sei que o ruído em volta de mim é a desculpa perfeita para ocultar a assunção de responsabilidades do governo”, declarou o líder valenciano demissionário, referindo “informação errada” dada a 29 de outubro de 2024, o dia da dana, como no atraso da ajuda e a “péssima reconstrução”.O popular explicou que a sua demissão é fruto de um processo de “reflexão pessoal” que começou depois do funeral de Estado realizado no dia em que a tragédia completou um ano e que culminou neste domingo, quando manteve várias “conversas” com Feijóo. Fontes populares adiantaram que Mazón comunicou ao líder do PP a vontade de se demitir na quinta-feira, um dia após a homenagem.“É o momento de reconhecer os meus próprios erros, aqueles que me colocam no centro da crítica política como responsável máximo da Generalitat no pior dia da nossa história e os imediatamente seguintes”, declarou Carlos Mazón. “Sei que cometi erros, vou viver com eles toda a minha vida, pedi perdão e hoje volto a pedir, mas nenhum deles foi por cálculo político ou má fé”.Entre estes erros estão permitir a criação de rumores, não pedir a declaração de Emergência Nacional, e “sobretudo, manter a agenda desse dia”. Na agenda de 29 de outubro de 2024, Mazón tinha um almoço de trabalho com a jornalista Maribel Vilaplana, que testemunhou ontem perante a juíza que está a investigar a gestão da dana. No seu depoimento, Vilaplana explicou que o almoço durou cerca de quatro horas (entre as 15.00 e as 18.45 locais, altura em que já havia vítimas mortais) e que o governante não mostrava ter pressa, tendo atendido o telemóvel e trocado mensagens. .Espetáculo lamentávelDa parte do governo de Madrid, o ministro dos Transportes, Óscar Puente, criticou o “espetáculo deplorável” do presidente cessante da Generalitat Valenciana, por tentar “culpar os outros pelas suas próprias falhas” na gestão da crise da dana, enquanto a ministra da Saúde, Mónica García Gómez, afirmou que Mazón “não conseguiu desculpar-se pela sua gestão negligente e desastrosa, nem se colocar no lugar das vítimas. Acredito que hoje houve mais uma humilhação para as vítimas da tempestade dana.”Rosa Álvarez, que lidera uma associação que representa as vítimas das inundações, classificou a intervenção de ontem de Mazón como “um discurso doloroso e indigno, ele fez-se de vítima.”“Ele não renunciou. O partido dele não o obrigou a renunciar. Nós, as famílias das vítimas e todas as pessoas que nos apoiaram, é que o forçámos a renunciar”, acrescentou.O final do dia desta segunda-feira, 3 de novembro, ficou marcado por uma manifestação no centro de Valência para celebrar a demissão de Mazón, “mas sem esquecer que os problemas continuam!”, dizia um porta-voz da Acord Social Valencià, entidade organizadora, enquanto que nos cartazes se liam mensagens como “não sairemos das ruas até que haja verdade e justiça!”.."Já não aguento mais". Presidente de Valência demite-se um ano depois da tragédia.Líder de governo de Valência reconhece falhas um ano após cheias que mataram 229 pessoas.Espanha. Socialistas voltam a cair, populares estagnam e o Vox continua a subir