Família real britânica critica documentário da BBC
A família real britânica saiu da sua habitual discrição e criticou a imprensa do Reino Unido, em particular a BBC, por "apresentar como factos" informações que "com muita frequência" são infundadas.
Num documentário em duas partes com o título "The Princess and the Press" , a BBC examina a relação dos jornalistas com o príncipe William, segundo na linha de sucessão ao trono, e do seu irmão Harry, que sempre denunciaram a pressão dos media sobre a sua família. Pressão essa que já originou alguns processos judiciais.
A produção do programa parece ter irritado a coroa, porque, segundo alguns meios de comunicação, a família real não recebeu solicitação para participar no documentário tendo, alegadamente, ameaçado que a cadeia de comunicação não trabalharia mais em projetos futuros da instituição pública.
Tendo em conta esta alegação, e no final da primeira parte do documentário, a BBC incluiu um comunicado conjunto em nome de toda a família real, que afirma que "uma imprensa livre, responsável e aberta é de vital importância para uma democracia saudável".
"Porém, com muita frequência, as afirmações exageradas e infundadas de fontes anónimas são apresentadas como factos e é dececionante que alguns, incluindo a BBC, atribuam credibilidade a essas afirmações" pode ler-se ainda no comunicado.
O documentário sugere que o príncipe Harry, de 37 anos e sexto na linha de sucessão, sempre teve uma atitude hostil com a imprensa, a qual responsabiliza pela morte trágica da sua mãe, a princesa Diana, em 1997, perseguida por paparazzi em Paris. Os media sensacionalistas são também alvo de crítica por parte do príncipe, em especial no que concerne à sua esposa, Meghan Markle.
Segundo o locutor do documentário, Amol Rajan, sempre existiu um acordo não escrito entre os membros da família real e os media, pelo qual eles permitem ser fotografados em troca de uma cobertura favorável.
Tim Ewart, veterano da cobertura da família real, afirmou que quando Harry se recusou a "jogar o jogo", provocou "ressentimento" em certos jornais que se tornaram mais duros com ele.
Os duques de Sussex criticam de maneira reiterada a pressão dos meios de comunicação, apresentando-a como o principal motivo para a sua saída da monarquia, efetiva desde abril de 2020.
Em entrevista com um advogado da ex-atriz que negou as acusações, o documentário também fala do suposto assédio moral por parte de Meghan a funcionários do palácio quando o casal ainda vivia em Londres.
Numa decisão sem precedentes desde a rutura da princesa Diana com a monarquia nos anos 1990, muito incomum para uma instituição que não resolve os seus conflitos em público, a casa real anunciou em março que está a investigar as denúncias.
Harry e Meghan apresentaram várias ações contra a imprensa sensacionalista britânica. Os dois aguardam uma sentença de um recurso contra o Mail on Sunday, jornal que a duquesa de Sussex acusa de ter violado a sua intimidade ao publicar uma carta pessoal escrita ao seu pai em 2018.
Em "The Princes And The Press", um investigador particular, Gavin Burrows, afirma que os meios de comunicação na década de 2000 não tinham "nenhuma moral" e eram "impiedosos", especialmente com o príncipe Harry.
Burrows pediu perdão por ter acedido indevidamente ao telefone da então namorada de Harry e vendido essas informações para o News of the World, argumentando que as informações sobre Harry vendiam mais do que as do irmão mais velho.
"Como me explicaram dois editores, o Harry tinha-se transformado na nova Diana", afirmou, em referência à mãe dos dois príncipes.
Ao deixar a monarquia, o neto de Elizabeth II afirmou que deseja evitar que a história de assédio mediático com a sua mãe "se repita" com sua esposa.