Soldado em patrulha frente ao destruído edifício do Parlamento.
Soldado em patrulha frente ao destruído edifício do Parlamento.EPA/ NARENDRA SHRESTHA

Exército nepalês nas ruas após dois dias de caos

Recolher obrigatório depois de ataque às sedes do poder e às casas dos políticos, PM incluído, que se demitiu. Antes, 19 jovens foram mortos pela polícia em manifestação contra a corrupção.
Publicado a
Atualizado a

O exército do Nepal tomou o controlo das ruas de Katmandu na quarta-feira após dois dias de violência e caos por parte da juventude nepalesa, que rejeita a atual elite política, saída do fim da monarquia e da implantação da república, em 2008. O presidente e os militares apelam para a calma depois de a demissão do primeiro-ministro comunista ter deixado um vazio.

Com 29 milhões de habitantes, entre os quais mais de 20% vivem abaixo da linha da pobreza, o Nepal perde todos os dias 2 mil pessoas para a emigração. O Banco Mundial alertou em abril para a taxa de desemprego “persistentemente alta” entre a juventude. Inspirados pela revolta decorrida no Bangladesh em 2024, os mais novos começaram por recorrer às redes sociais para denunciarem os filhos dos privilegiados do sistema - chamados de “Nepo Kids” - e a sua vida de luxo.

Soldado em patrulha frente ao destruído edifício do Parlamento.
Confrontos de manifestantes com a polícia já provocaram 22 mortes no Nepal

A resposta do governo passou por bloquear o acesso às redes sociais, o que desencadeou a fúria da chamada geração Z. Na segunda-feira, uma manifestação na capital Katmandu contra a corrupção e o nepotismo acabou com a polícia a matar 19 pessoas e a ferir cerca de cem. Alguns manifestantes conseguiram passar as barreiras e chegar ao Parlamento. Edifício que no dia seguinte foi incendiado, tal como o palácio presidencial, e as residências de políticos, o que levou à retirada de alguns de helicóptero - e à morte da mulher de um antigo primeiro-ministro. A violência atingiu também supermercados, hotéis e meios de comunicação social.

O maoísta Sharma Oli,de 72 anos, “tendo em conta as circunstâncias excecionais”, apresentou a demissão do cargo de primeiro-ministro, com efeito imediato. Sem chefia executiva nem ordem nas ruas, o presidente Ram Chandra Poudel, que também faz parte da elite repudiada pela juventude, apelou para a unidade nacional, desafiou os manifestantes a encetar um diálogo sobre reformas e chamou o chefe das forças armadas para controlar a situação. Os militares, que começaram a tomar posições estratégicas na terça à noite, impuseram o recolher obrigatório.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt