Os 27 países da União Europeia terão apenas três dias em tempo de paz e seis horas em situações de emergência para permitir que tropas e equipamento militar de outra nação europeia atravessem as suas fronteiras, refere a proposta para a criação de um “Schengen militar” até 2027 apresentada esta quarta-feira, 19 de novembro, pela Comissão Europeia e que pretende melhorar a mobilidade militar dentro do bloco. Esta surge horas depois de Roménia e Polónia terem acionado caças nos seus espaços aéreos em resposta a um bombardeamento russo no oeste da Ucrânia, perto das fronteiras dos dois países, mas também na semana em que Varsóvia está a enfrentar ataques à sua infraestrutura ferroviária levados a cabo por Moscovo.“Começo pelo ataque de segunda-feira à linha férrea polaca, que evidencia o risco sem precedentes para as infraestruturas de transporte europeias. Os ataques da Rússia têm-se tornado cada vez mais ousados. As nossas infraestruturas críticas necessitam de uma maior proteção”, afirmou esta quarta-feira a líder da diplomacia europeia.Kaja Kallas notou ainda que a rápida movimentação das forças militares europeias “é essencial para a defesa da Europa” e que, por isso, “temos de garantir que as forças estão no local certo e à hora certa”. “É bastante simples: quanto mais depressa conseguirmos deslocar forças, mais forte será a nossa dissuasão e defesa. Precisamos de estar a falar de dias, não de semanas, para movimentar tropas na Europa”, prosseguiu Kallas, notando que “alguns países exigem ainda um aviso prévio de 45 dias antes de as tropas de outros países poderem atravessar os seus territórios para exercícios, por exemplo. Onze anos após a anexação da Crimeia pela Rússia, isto simplesmente não é aceitável”.Para facilitar esta mobilidade, será criado um procedimento único de autorização para os 27 e, em caso de crise, um país do bloco ou a Comissão Europeia poderão iniciar o processo de ativação do novo mecanismo de emergência, o chamado EMERS. No prazo de 48 horas, o Conselho Europeu deverá ativar o EMERS - que poderá ser aplicável a toda a UE durante um período máximo de um ano - o que permitirá o acesso prioritário dos comboios militares e elimina a necessidade de autorizações nacionais para a travessia das fronteiras dentro do bloco. De notar ainda que as forças armadas europeias teriam acesso prioritário a infraestruturas como aeroportos, estradas e ferrovias em situações de emergência, e regulamentações em áreas como o transporte de mercadorias perigosas seriam abolidas para os militares ou empresas privadas de defesa.Esta proposta de mobilidade militar da Comissão Europeia prevê um investimento de 100 mil milhões de euros em 500 pontos críticos dos Bálticos a Portugal, como pontes, ferrovias, estradas, ou túneis que atualmente não suportam tráfego pesado, e aumentando a capacidade de portos e aeroportos.Não é claro como isto será financiado, já que o atual orçamento plurianual, que termina em 2027, prevê uma dotação para a mobilidade militar de 1,7 mil milhões de euros, e a proposta para o próximo (2028-34) aponta para 17,6 mil milhões, embora esta verba possa ainda ser alterada. O executivo comunitário irá agora apresentar esta proposta ao Conselho e ao Parlamento Europeu para poder ser adotada.EUA apresentam plano desfavorável a KievPelo menos 25 pessoas morreram, incluindo crianças, e 142 ficaram feridas na Ucrânia durante um ataque russo com drones e mísseis contra cinco regiões do país, entre as quais as cidades de Lviv e Ternopil, junto à fronteira ocidental. Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, a Rússia usou no ataque 470 drones e 48 mísseis de vários tipos, tendo ainda provocado danos em instalações de abastecimento de energia e outras infraestruturas civis.O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andrii Sybiha, adiantou que Kiev levará estes ataques russos à reunião de hoje do Conselho de Segurança da ONU. “Instamos à condenação, à justiça e a respostas enérgicas. Perante tamanha brutalidade, reiteramos o nosso apelo para o fornecimento de defesa aérea adicional e outros equipamentos para proteger o nosso povo”, disse Sybiha.Estes bombardeamentos russos junto às suas fronteiras levaram a Roménia e a Polónia a acionarem caças durante a noite nos seus espaços aéreos, com as autoridades polacas a fecharem também dois aeroportos, Rzeszow e Lublin, no sudeste do país. Bucareste explicou que um drone entrou no seu território , reaparecendo “intermitentemente no radar durante cerca de 12 minutos”.Enquanto o seu país estava novamente a ser atacado, Volodymyr Zelensky estava na Turquia para um encontro com o presidente Recep Tayyip Erdogan, numa tentativa de impulsionar as negociações para o fim da guerra com a Rússia, tendo o líder ucraniano dito na terça-feira que iria encontrar-se com o seu homólogo turco para discutir “uma paz justa para a Ucrânia”. De recordar que, nestes quase quatro anos de guerra, os únicos encontros entre delegações dos dois países tiveram a Turquia como anfitriã, sendo que desta vez o Kremlin já tinha anunciado que não iria enviar ninguém.A presença do enviado especial dos EUA Steve Witkoff na Turquia chegou a ser noticiada, mas não se confirmou. No entanto, segundo o Politico, o secretário norte-americano do Exército, Dan Driscoll, e o chefe do Estado-Maior do Exército dos EUA, general Randy George, chegaram de surpresa a Kiev para tentar reativar as negociações de paz paralisadas com a Rússia, estando na sua agenda encontros com líderes militares, parlamentares, mas também hoje com Zelensky. Segundo o Wall Street Journal, é esperado que Driscoll se reúna com representantes russos numa data posterior.Fontes próximas deste processo disseram esta quarta-feira à Reuters que os Estados Unidos indicaram a Zelensky que Kiev deve aceitar uma proposta que elaboraram para pôr fim à guerra e que inclui a cedência de território e algumas armas, bem como a redução do tamanho das forças armadas da Ucrânia. De acordo com o Financial Times, o plano de 28 pontos foi elaborado por um grupo de responsáveis russos e norte-americanos, atuais e antigos, tendo Kiev sido informada do seu conteúdo esta semana pelo enviado especial Steve Witkoff. Uma fonte não identificada descreveu ao FT os pontos do plano como “fortemente inclinados para a Rússia”, enquanto outra o considerou “muito confortável” para Vladimir Putin.Este jornal refere mais pormenores do plano, adiantando que este exige que a Ucrânia ceda o resto das regiões orientais do Donbas - incluindo as terras atualmente sob controlo de Kiev - e reduza para metade o tamanho das suas forças armadas e a suspensão da assistência militar dos EUA. Mas também objetivos de Moscovo como o reconhecimento do russo como língua oficial do Estado. Polónia mobiliza 10.000 soldadosA Polónia anunciou esta quarta-feira que vai encerrar o último consulado russo no seu território, em Gdansk, depois de já ter fechado instalações consulares em Cracóvia e Poznán devido a outros atos de sabotagem. “Não foi apenas um ato de sabotagem, mas também um ato de terrorismo de Estado”, disse o líder da diplomacia polaca, Radoslaw Sikorski. Uma decisão que o Kremlin disse lamentar. “As relações com a Polónia deterioraram-se completamente. Esta é provavelmente uma manifestação dessa deterioração: o desejo das autoridades polacas de reduzir a zero qualquer possibilidade de relações consulares ou diplomáticas. Só podemos expressar pesar. Isto não tem nada a ver com bom senso”, afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov.Ontem também, o ministro da Defesa polaco, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, afirmou que Varsóvia pretende mobilizar 10.000 soldados em resposta aos ataques deste fim de semana e para proteger infraestruturas críticas em todo o país, de forma a “combater atos de sabotagem e aumentar o nível de segurança”.O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Polacas, Wieslaw Kukula, alertou ontem que “as intenções da Federação Russa permanecem inalteradas, e os acontecimentos das últimas semanas delineiam um amplo horizonte de potenciais incidentes que podem ocorrer.”.“Estamos a lidar com uma escalada”. Rússia acusada de ataque à ferrovia que liga a Polónia à Ucrânia.Espanha desbloqueia 615 milhões de euros para apoio militar à Ucrânia