Putin declara "trégua de Páscoa" na guerra até 2.ª feira. Zelensky aceita mas diz: "ataques russos continuam"

"Ordeno que todas as ações militares sejam interrompidas durante este período", lê-se na mensagem do presidente russo no dia que ambos os lados trocaram centenas de prisioneiros de guerra.
Presidente russo, Vladimir Putin
Presidente russo, Vladimir PutinEPA/GAVRIIL GRIGOROV/SPUTNIK/KREMLIN POOL MANDATORY CREDIT

EUA ponderam reconhecer Crimeia como russa como parte de um acordo de paz

A administração Trump está a ponderar reconhecer o controlo russo da Crimeia como parte de uma proposta para ajudar a acabar com a guerra com a Ucrânia, de acordo com uma fonte conhecedora do processo citada pela CNN internacional. A proposta também estabeleceria um cessar-fogo nas linhas da frente da guerra.

A proposta foi partilhada com as autoridades europeias e ucranianas que se encontraram em Paris na sexta-feira, referiu a mesma fonte. Também foi comunicada através de uma conversa telefónica entre o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

Ainda exitem, contudo, partes da proposta a serem concluídas. Os EUA planeiam trabalhar com a Europa e com a Ucrânia sobre este tema na próxima semana em Londres, disse ainda a mesma fonte.

Presidente russo, Vladimir Putin
Trump concorda com Rubio: se não houver progressos "muito em breve" os EUA desistem das negociações na Ucrânia

A adminitração Trump planeia ao mesmo tempo uma outra reunião entre o enviado do presidente norte-americano para o Médio Oriente, Steve Witkoff, e autoridades russas, para convencer Moscovo a aderir à proposta dos EUA.

As forças russas tomaram o controlo da península da Crimeia em 2014, e Moscovo anexou o território, numa ação considerada ilegal pela vasta maioria da comunidade internacional. A medida foi o prenúncio da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em 2022.

Trump concorda com Rubio: se não houver progressos "muito em breve" os EUA desistem das negociações na Ucrânia

O presidente norte-americano, Donald Trump sugeriu na sexta-feira que pode abandonar as negociações com Moscovo e Kiev sobre o conflito na Ucrânia “muito em breve” se não houver progressos, após declarações divergentes na sua administração.

"Não há um número específico de dias, mas queremos resolver isso rapidamente", disse o Presidente dos Estados Unidos.

Estas declarações estão em linha com o chefe da diplomacia de Washington, Marco Rubio, que também alertou que os Estados Unidos poderão deixar as conversações, mas em contraste com o vice-Presidente dos Estados Unidos, JD Vance, que no mesmo dia indicou avanços nas últimas horas no diálogo com as partes e expressou o seu otimismo.

"Se por algum motivo algum dos lados tornar as coisas demasiado difíceis, diremos apenas: 'Vocês são estúpidos, vocês são idiotas, vocês são pessoas horríveis', e seguiremos em frente", declarou Trump, acrescentando: "Mas espero que não tenhamos de fazer isso".

Horas antes, JD Vance manifestou, durante uma visita a Roma, o seu otimismo sobre a evolução das negociações indiretas com Moscovo e Kiev, à margem de um encontro com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

"Não quero prejudicar nada, mas estamos realmente otimistas de que podemos acabar com esta guerra tão brutal", disse o vice-Presidente norte-americano, referindo-se a “certas coisas que aconteceram nas últimas 24 horas".

No entanto, no mesmo dia, o secretário de Estado norte-americano ameaçou "seguir em frente" se os Estados Unidos chegarem à conclusão que "não é possível" alcançar a paz na Ucrânia.

"Os Estados Unidos têm outras prioridades", observou Marco Rubio à saída de França.

Posteriormente, Trump disse que "Marco tem razão" de que a dinâmica das negociações precisa de mudar, deixando no ar a hipótese de abandonar o diálogo, sem se comprometer com nenhum ultimato. “Bem, não quero dizer isso. Mas queremos ver isto acabar”, declarou.

Representantes dos Estados Unidos, da Ucrânia e europeus concordaram em voltar a reunir-se na próxima semana em Londres, após um primeiro encontro que se realizou na quinta-feira em Paris.

Rússia diz ter recapturado penúltima cidade sob controlo ucraniano em Kursk

A Rússia afirmou hoje ter recapturado a penúltima cidade ainda sob controlo militar ucraniano na região russa de Kursk, completando quase por completo a reconquista deste território, que tinha sido alvo de uma ofensiva no verão de 2024.

“Durante operações ofensivas, unidades do Grupo de Forças do Norte libertaram a aldeia de Oleshnia, na região de Kursk”, anunciou o Ministério da Defesa russo na rede social Telegram.

A Associated Press ressalvou que não conseguiu verificar a alegação e não obteve resposta por parte das autoridades ucranianas.

Com a tomada desta pequena aldeia fronteiriça, resta apenas uma outra, a de Gornal, ainda sob controlo ucraniano na região de Kursk.

As tropas ucranianas lançaram uma ofensiva na região fronteiriça em agosto de 2024, apanhando as tropas russas de surpresa e capturando mais de mil quilómetros quadrados.

Os soldados russos recapturaram grandes áreas da região em março, expulsando os ucranianos da pequena cidade de Sudja, a sua principal base de operações na zona.

As tropas russas estão agora na fronteira e prestes a ameaçar a região ucraniana de Sumi, relativamente próxima da região de Kursk, onde já fizeram incursões nas últimas semanas.

Segundo avança a AFP, um ataque de drone ucraniano a um carro na região de Kursk matou uma mulher e feriu um homem e uma criança, informou o governador regional Alexander Khinstein no Telegram.

Ucrânia nega que acordo sobre recursos minerais reconheça apoio dos EUA como dívida

O Ministério da Economia ucraniano negou hoje que o acordo sobre recursos minerais que Kiev e os EUA querem fechar antes de 26 de abril reconheça o apoio de Washington como uma dívida do país atacado pela Rússia.

"Não há qualquer conversa sobre qualquer nova dívida ou sobre a conversão de ajuda anterior em dívida", uma vez que "não há lógica de 'dívida' nas propostas dos EUA ou da Ucrânia", garantiu o vice-ministro da Economia ucraniano, Taras Kachka, em declarações à televisão ucraniana, noticiadas pela agência de notícias local Ukrinform.

No texto que está a ser tratado por responsáveis da administração Trump e do poder executivo liderado por Volodymyr Zelensky, “trata-se de quanto os Estados Unidos e a Ucrânia querem ganhar com investimentos”, acrescentou o responsável governamental ucraniano.

Segundo Kachka, tanto americanos como ucranianos entendem que o apoio a Kiev contra a Rússia “não é uma dívida, mas sim uma cooperação mutuamente benéfica”.

Na quinta-feira, soube-se que a Ucrânia e os Estados Unidos assinaram um memorando no qual Kiev e Washington aproximaram as suas posições e onde está expresso que os dois países querem criar “um fundo de investimento para a reconstrução”, como parte de uma aliança económica entre as duas nações.

Lusa

Ucrânia nega estar 90% pronta para aceitar proposta de paz dos EUA

O Ministério da Defesa da Ucrânia negou relatos de que Kiev estaria "90% de acordo" com o plano de paz de Donald Trump apresentado em Paris esta semana.

Uma notícia do New York Post citou um alto funcionário do governo Trump como fonte, alegando que o ministro da Defesa da Ucrânia disse que Kiev estava perto de fechar um acordo de paz.

Em declaração à Sky News, o Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que "não toma decisões políticas" e, portanto, não poderia ter feito nenhuma "avaliação percentual".

"Temos várias posições de princípio: apoiámos a proposta dos EUA para um cessar-fogo total em 11 de março, enquanto a Rússia não apoiou a proposta dos EUA e continua a realizar ataques diários contra cidades e infraestruturas ucranianas", disse.

"A nossa questão principal é como garantir que a proposta de cessar-fogo funcione e seja aplicada de forma confiável. Permanecemos em diálogo construtivo com os nossos parceiros americanos e estamos totalmente comprometidos em pôr fim a esta guerra", acrescentou.

Putin declara "trégua de Páscoa" na guerra com a Ucrânia com duração até segunda-feira

Vladimir Putin anunciou este sábado que a Rússia vai cessar "todas as operações militares" como parte de uma "trégua de Páscoa" na Ucrânia. A decisão foi tomada durante uma reunião de Putin com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, Valery Gerasimov.

Numa mensagem na rede social do Kremlin no Telegram, Vladimir Putin afirma que o cessar-fogo temporário durará das 18h00 de hoje (16h00 em Lisboa) até à próxima segunda-feira.

"Guiados por considerações humanitárias, hoje, das 18h00 à meia-noite de domingo para segunda-feira, a Rússia declara uma trégua de Páscoa. Ordeno que todas as ações militares sejam interrompidas durante este período", lê-se na mensagem de Putin.

Moscovo afirma esperar que o lado ucraniano "siga o mesmo exemplo". Mas Kiev ainda não se pronunciou sobre a proposta.

"Ao mesmo tempo, as nossas tropas devem estar prontas para repelir possíveis violações da trégua e provocações do inimigo, bem como quaisquer ações agressivas", acrescentou Putin.

Segundo o presidente russo, a reação da Ucrânia ao cessar-fogo de Páscoa "mostrará o quão sincera" é sua "capacidade e desejo de participar nas negociações de paz".

Um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia refere que o chefe do Estado-Maior da Rússia, Valery Gerasimov, já instruiu "todos os comandantes de grupos na zona de operações militares especiais" a cessarem as operações de combate até à meia-noite do dia 21 de abril.

Putin lembrou ainda que a Ucrânia violou mais de cem vezes o cessar-fogo energético de 30 dias que Moscovo declarou unilateralmente em 18 de março, ao qual a Ucrânia aderiu mais tarde através da mediação dos Estados Unidos.

As autoridades ucranianas acusaram por sua vez as forças russas de múltiplas violações da trégua, em particular nos sangrentos ataques nos últimos dias no centro e nordeste do país, que provocaram a morte de dezenas de civis, incluindo crianças.

Na sua declaração de hoje, Putin disse ainda que o lado russo esteve sempre disposto a participar em negociações de paz e saudou os esforços do Presidente norte-americano, Donald Trump, bem como do líder chinês, Xi Jinping, e dos países BRICS, que "apoiam uma solução pacífica e justa para a crise ucraniana".

O anúncio de Putin, que deverá comparecer hoje à noite na vigília de Páscoa na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, segue-se a declarações de Donald Trump na sexta-feira, sugerindo que, se não houvesse progressos nas negociações indiretas com Moscovo e Kiev numa "questão de dias", Washington poderá abandonar o processo de paz na Ucrânia.

As tentativas de estabelecer uma trégua da Páscoa na Ucrânia já ocorreram duas vezes desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.

Em abril de 2022, uma primeira iniciativa neste sentido, tomada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, não se concretizou devido à recusa da Rússia, alegando que um cessar-fogo daria ao Exército ucraniano a oportunidade de se reagrupar e rearmar.

No ano seguinte, em janeiro de 2023, o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill, pediu a ambos os lados que interrompessem as hostilidades na Páscoa, e a Rússia declarou uma trégua de 36 horas, mas esta foi vista pela Ucrânia como “uma armadilha" e os combates continuaram.

Rússia e Ucrânia trocam centenas de prisioneiros na "maior troca" da guerra

A Rússia e a Ucrânia trocaram este sábado centenas de prisioneiros, naquela que é a maior troca desde o início do conflito.

O Ministério da Defesa russo informou que 246 militares russos regressaram "do território controlado pelo regime de Kiev". E Volodymyr Zelensky revelou que "outros 277 soldados regressaram do cativeiro russo".

Este número inclui 31 prisioneiros de guerra feridos, que foram transferidos em troca de 15 militares russos feridos que necessitavam de atendimento médico urgente.

"Drones nos céus revelam a verdadeira atitude de Putin em relação à Páscoa", diz Zelensky

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acaba de publicar na rede social X que os alertas de ataque aéreo "estão a espalhar-se" pelo país.

Descrevendo a situação como "mais uma tentativa de Putin de brincar com vidas humanas", Zelensky acrscentiou: "Drones Shahed nos nossos céus revelam a verdadeira atitude de Putin em relação à Páscoa e à vida humana."

Não está claro, contudo, se Zelensky se referia à "trégua de Páscoa" anunciada por Putin.

Zelensky acrescentou que as forças ucranianas estão a "manter posições" na região russa de Kursk e que a "zona de controlo" da Ucrânia aumentou na região russa de Belgorod.

Zelensky aceita trégua de Putin mas denuncia que ataques russos continuam

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou este sábado que respeitará o cessar-fogo unilateral ordenado horas antes pelo homólogo russo, Vladimir Putin, durante a Páscoa, embora assinale que Moscovo já está a violar a sua própria trégua.

"Se a Rússia estiver realmente disposta a envolver-se, a Ucrânia fará o mesmo — as suas ações espelharão as da Rússia", escreveu o Presidente ucraniano na rede X, acrescentando que propôs "estender o cessar-fogo para além de 20 de abril".

No entanto, Zelensky salientou que Moscovo não cumpriu com a sua palavra e que "os ataques russos tinham continuado em vários setores da frente", enquanto "o fogo de artilharia russo não tinha diminuído".

Vladimir Putin ordenou às suas tropas que observem um cessar-fogo na Ucrânia na Páscoa Ortodoxa, a partir da tarde de hoje até domingo à noite, e instou Kiev a fazer o mesmo.

"Guiado por considerações humanitárias, o lado russo declara uma trégua de Páscoa”, afirmou o líder do Kremlin durante uma reunião transmitida pela televisão com o chefe das Forças Armadas, Valery Gerasimov.

DN/Lusa

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